Sabedoria não é informação ou inteligência.
Num primeiro contato , um sábio pressupõe inteligência e o inteligente pressupõe sabedoria.
Mas não podemos cair nesse julgamento.
E é muito fácil cairmos nisso, pois hoje em dia, abraçamos muito facilmente o discurso inteligente e rejeitamos muito facilmente o discurso de sabedoria, pois o mundo contemporâneo é um mundo que se constrói para valorizar o sujeito.
Um discurso inteligente é articulado de tal forma que você se sinta enorme.
O oposto do discurso sábio, que elucida a sua precariedade.
O que realmente vai fazer você construir possibilidades onde elas não existiam, e quando você elimina o que é precário em você , e pra isso tem que olhar pra isso.
E olhar para suas precariedades não é algo do discurso edificante do mundo contemporâneo.
O discurso próprio de sabedoria não é sedutor como o inteligente.
Toda a disposição do que se supõe ser caminho espiritual hoje no mundo é discurso inteligente.
Raramente você encontra sabedoria.
Nos últimos 300 anos não há nenhuma literatura sabia de Cabalá que tenha sido publicada. É no máximo um discurso inteligente, tolo e tosco, mas que compramos pois é barato porque temos um mal gosto indescritível .
Estupidez é quando eu me paraliso, não consigo ter respostas de sabedoria perante a existência e me paraliso.
O discurso inteligente é aquele que justifica a paralisia, então quase sempre o que acontece é que o inteligente é, no máximo, um estúpido articulado.
Retórica é sempre um artifício de sedução, pois posso falar a coisa mais absurda do mundo, mas se eu tiver domínio de retórica, sou capaz de convencer por absurdos.
A sabedoria não esta ligada a retórica como não esá ligada ao carisma.
Isso é sedução.
Isso só amansa você para alguma finalidade.
A perspectiva da realidade comum é apenas ficção.
Por mais banal que seja todo o evento tem um pensamento.
Quando olhamos uma cadeira, por trás dela há um pensamento : a estética, a tendência estrutural, a historia de como ela se transformou no que é e etc.
Um copo de plástico não é só um copo, ele é um pensamento.
Você não é guiado pela realidade perceptível, você é guiado pela realidade não perceptível, mesmo que não saiba disso.
São coisas que entram em você e você não percebe.
Intento é a relacao com o sagrado.
E isso, é acessar a realidade incomum, é quando o divino descreve o mundo.
Abraão seguia a Torah, mas ela foi revelada só à partir de Moises, 500 anos depois, como pode?
A Torah não e um livro , ela existe antes do livro existir, o livro é uma tentativa de expressar poeticamente os elementos da realidade incomum.
Em outras tradições sempre foram usados poemas também.
Só o poema pode supor a revelação da sabedoria.
Hoje em dia há tão pouca sabedoria, que ficamos discutindo se Abraão era caolho ou não, particularidades sem importância.
Pouco importa a questão biográfica de Abraão.
O que é valido é o pensamento que ele revela através de seus feitos no poema, que não é sua trajetória na historia.
O elemento factível é totalmente dispensável, não me interessa como cabalista, se o mar vermelho foi aberto ou não, o que interessa é porque ele foi aberto, ou seja, o pensamento por trás do evento, a segunda visão.
O homem da sabedoria não se detém na realidade comum factível, pois ela não doa sentido algum, ela é apenas superfície.
Não interessa nenhuma perspectiva arqueológica do poema bíblico, tudo que esta escrito ali pode ser uma grande invenção, mas absolutamente é doadora de sentido, pois o pensamento doado à nós pelo poema não e invenção, é muito claro.
Fonte: Academia de Cabalá Mahutí
(repasse Marcelo Veneri)
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