A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sábado, 19 de maio de 2012

Conforto Mata


É a poção que nos faz vaguear de modo irrefletido e robótico em direção à morte.
É uma droga mortal, vendida em todas as partes da prisão, fluindo pelas veias dos seus prisioneiros.
A droga é o conforto.
O conforto é a ilusão de que estamos chegando a algum lugar enquanto a esteira rolante gira e o relógio bate. O Conforto éum cobertor quente que nos mantem envoltos no desejo de receber somente para nós mesmos, esquecidos da necessidade urgente de mudança.
"Estou me sentindo confortável. Esta prisão na verdade não é tão ruim assim. Talvez o objetivo da vida seja ter uma estada produtiva na prisão. Um dia posso até chegar a ser presidente de um bloco de celas. Pode acontecer. É uma prisão livre."
Ou,
"Estou me sentindo confortável. Sabe, pode ser que eu nem esteja na prisão. Talvez eu estivesse alucinando esse tempo todo. Talvez eu esteja nos mares do sul e estes muros de concreto sejam na verdade areia, e a lâmpada simples seja um sol quente e brilhante."
O conforto mata, ainda que buscá-lo seja uma estratégia de sobrevivência determinada biologicamente.
Os organismos instintivamente fogem do desconforto; é por isso que eles sobrevivem.
Mas aquilo que é confortável para o corpo é uma angústia para alma.
Como almas, estamos aprisionados num drama de sobrevivência de 24 horas do corpo que habitamos.
O conforto que verdadeiramente queremos, o conforto último e único, é a união com o criador.
Por um lado temos o conforto ilusório do corpo, e, por outro lado, o verdadeiro conforto da alma. Não podemos estar confortáveis em ambos os universos ao mesmo tempo, assim como não podemos ir para o leste enquanto estivermos indo para o oeste.
Ou estamos nos movendo em direção a Deus ou estamos nos movendo em direção ao ego, à morte e ao sofrimento. E o caminho para o verdadeiro conforto — que é Deus — passa por uma grande dose de desconforto.
Passa por desconforto porque exige a destruição da necessidade de se sentir especial, da ânsia por aprovação, do anseio de pertencer, do vício no agrado das lisonjas — toda a junk food (porcaria, lixo) mental, desprovida de verdadeiro valor nutritivo, que enfiamos em nossos cérebros para alimentar a ilusão do ego.
A jornada para Deus é um assento ejetor da zona de conforto.
Se o sinal disser desconforto, sabemos que estamos no caminho certo.
Quando vamos contra nossa natureza humana, estamos no caminho certo. quando alguém ferir nosso ego, e, em vez de sairmos indignados como de costume, nos sentirmos gratos aos que nos insultaram, aos que nos ofereceram esta oportunidade de trazer mais luz e menos conforto para nossas vidas, aí estamos no caminho certo.
Definimos conforto como a ausência de dor.
M o verdadeiro conforto é o cruzar de um abismo.
Num lado estamos nós.
Do outro está a plenitude.
Temos tentado arrastar a felicidade para o nosso lado do abismo, quando o que realmente temos que fazer é pular para o outro lado.
Saltar o abismo significa a transformação total da nossa natureza: nos tornarmos como o Criador, em vez de esperar que o criador se torne como nós.
Um famoso cabalista explicou desta maneira: estamos tentando transformar os desejos de Deus em nossos desejos, para que Ele nos dê o que queremos.
Mas na verdade os desejos de Deus são o que precisamos, e por isso devemos fazer nossos desejos se conformarem aos Dele.
Quando um aluno reclamou que tinha rezado repetidamente, mas Deus não tinha respondido suas orações, o cabalista respondeu: "Deus respondeu suas orações. A resposta foi não".
Quando estamos desconfortáveis, as barras da prisão se enfraquecem.
Quando compartilhamos quando compartilhar é desconfortável, estamos batendo com um aríete contra os muros.
Quando damos boas-vindas à humilhação, as portas da prisão se deslocam em suas dobradiças.
Então se queremos buscar nos tornar como Deus, devemos buscar o desconfortável —com uma grande quantidade de pequenos passos, todos levando à mesma direção: para fora da zona de conforto.
A lição da roupa de palhaço
Certo dia um famoso cabalista estava caminhando quando se voltou para seu companheiro e disse: "Está vindo desta casa o aroma maravilhoso do Jardim do Éden. Vamos investigar "
Os dois entraram na casa.
O cabalista explicou ao dono por que tinham parado e lhe perguntou se poderiam procurar o que estava produzindo um cheiro tão inebriante.
O homem concordou, encantado por receber dois sábios tão renomados.
O cabalista e o outro passaram de quarto em quarto, e chegaram por fim ao dormitório do homem. O cabalista entrou no closet e, pedindo para examinar seu interior, encontrou, escondida bem no fundo, atrás de sapatos e caixas, uma roupa de palhaço.
O cabalista pegou a roupa e anunciou: "É daqui que sai a fragrância do Jardim do Éden que enche esta casa, e chega até a rua. Senhor, poderia nos fazer a gentileza de nos contar a história desta roupa?"
O rosto do homem enrubesceu. "Eu realmente preferiria que você não tivesse levantado esse assunto. Faz tempo que tenho tentado esquecer isso! Mas para você eu contarei a história”.
Alguns anos atrás, um dos moradores deste vilarejo veio a mim desesperado, pedindo dinheiro para ajudá-lo a tomar fôlego enquanto quitava algumas dívidas. Eu disse a ele que faria tudo que pudesse.
Sendo que naquela época eu tinha pouco dinheiro, bati em todas as portas da vizinhança, pedindo dinheiro para ajudar um homem numa situação difícil.
Pouquíssimos dos meus vizinhos contribuíram com alguma coisa, e ao fim de seis ou sete horas indo de casa em casa, eu não tinha juntado praticamente dinheiro nenhum.
Já era tarde da noite, e, bastante cansado, eu entrei na taverna local para beber alguma coisa, pensando no que mais eu poderia fazer para ajudar o pobre homem. Desesperado, olhei na minha carteira, mas não havia o suficiente nem para fazer uma redução significativa nas dívidas dele.
Na mesa do lado, um grupo de homens ricos estava rindo e batendo grosseiramente nas costas um do outro, evidentemente bastante bêbados.
Um deles se debruçou até onde eu estava, com um forte cheiro de cerveja em seu hálito, e perguntou: 'Por que você está parecendo tão amuado?'
Contei-lhe a história toda e ele disse: 'Tenho uma idéia. Eu lhe darei o dinheiro, mas você precisa fazer uma coisa para mim. Tenho esta roupa de palhaço e quero que você a vista e caminhe comigo pela cidade. Que comédia isto vai ser!'
Eu olhei para ele chocado. 'Mas já passou de meia-noite', balbuciei. 'Nós vamos acordar todo mundo.'
O homem rolou de rir. ‘A idéia é justamente esta', ele disse.
Bem, as ruas de nossa cidade estão mais para ruelas do que para ruas, e todo o povo gosta de deixar as janelas de seus quartos abertas à noite. Era evidente que estávamos para dar início a um tumulto. Eu pensei que se pudesse correr pela cidade rápido o suficiente para evitar ser linchado, talvez não fosse um preço tão caro a pagar para conseguir o dinheiro de que precisava.
Finalmente encarei o homem e disse: 'Tudo bem. Eu aceito.'
O que eu não tinha previsto é que o homem traria todos os seus companheiros de bebedeira para se divertir com ele. Então lá estávamos, desfilando pela cidade, 30 bêbados cantando e gritando, e eu na frente vestido de palhaço, pedindo que a terra se abrisse e me engolisse.
Luzes se acenderam em toda parte. Homens irados e mulheres de camisola olharam por suas janelas e berraram obscenidades para nós.
Um bom número esvaziou seus penicos. Isto durou mais do que uma hora, ao fim do que não havia um homem, mulher ou criança na cidade que não tivesse testemunhado minha total desgraça.
Finalmente, os bêbados acharam que bastava. O homem me pagou o dinheiro e corri para casa, meu rosto queimando de vergonha. Joguei a roupa de palhaço no fundo do armário e fiz todo o possível para esquecer aquela noite - a pior noite da minha vida.
Quando o homem terminou sua história, o cabalista olhou para ele com os olhos brilhando. "Isto explica por que esta fragrância extraordinária vem do seu armário. Sua ação de compartilhar destroçou seu ego de forma tão completa que uma quantidade incrível de Luz, foi revelada. De fato, a proteção é tão poderosa que mesmo depois de sua morte ela perdurará. Diga a sua família que o enterre nesta roupa quando você morrer, pois isso lhe dará admissão imediata ao Jardim do Éden."
A história da roupa de palhaço é uma aula em nível de pós-graduação em destruição de ego. A roupa ofereceu desconforto suficientemente poderoso, para garantir ao seu usuário admissão instantânea ao Jardim do Éden.
Mas para a maioria de nós, tornar-se como Deus provavelmente não será resultado de um gesto grandioso.
Virá em inúmeras pequenas vitórias, nos levando passo a passo para fora da cela de prisão do conforto.
Buscando ativamente o desconfortável, nós despertamos nossa natureza divina.
Debaixo de cada pedra de desconforto se esconde uma oportunidade de se tornar como Deus.
A questão não é: estou fazendo ações espirituais?
A questão é: estou fazendo ações desconfortáveis?
Desafiamos o Oponente em seu feudo pessoal, a zona de conforto, cientes de sua grande mentira. Ao contrário do que ele promete, quando buscamos o conforto antes da transformação, nunca estaremos verdadeiramente à vontade.
Por outro lado, quando se tornar como Deus é nosso único objetivo, encontraremos a paz derradeira.
Estes textos devem fazer você se sentir desconfortável, ou terão fracassados em sua missão.
É um convite pessoal para o conforto último que nos aguarda do outro lado do desconforto.
É a luta da sua vida.
É a luta pela sua vida.
Por: Michael Berg

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