A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quinta-feira, 19 de março de 2020

Não conte suas bênçãos

O começo da porção que Ki Tisa trata da contagem de israelitas, e, curiosamente, o Zohar diz que para garantir que as bênçãos não apenas venham até nós, mas também sejam mantidas, precisamos ter cuidado para não contar os israelitas. Mas isso não parece fazer sentido. Contar nossas bênçãos é uma coisa positiva, certo? Queremos contar nossas bênçãos e saber quanta bondade recebemos da Luz do Criador, não é?
No Zohar está escrito que não, que nem as bênçãos nem a Luz podem permanecer naquilo que é contado. Porque quando contamos uma bênção, nós damos um fim a ela. Mas o que isso realmente significa?
Para começar esse entendimento, os kabalistas usam um exemplo: digamos que estamos diante de um rei e ele está nos dando um presente em dinheiro. Seria certo começarmos a contar as moedas naquele momento para ver quanto ele está nos dando? Não. Quando o rei está nos dando um presente, não olhamos para as moedas e as contamos: olhamos para o rosto do rei. Se continuarmos olhando para o rosto do rei enquanto nossa mão estiver estendida e ele estiver nos dando moedas, ele continuará nos dando moedas. Mas no segundo em que começamos a contá-las, o rei não apenas para de nos dar as moedas, mas também remove o olhar.
Quando começamos a contar os presentes que recebemos, em um nível mais profundo, os kabalistas nos dizem que também paramos de receber. Portanto, para realmente ter um fluxo constante de bênçãos, quando estamos recebendo um presente, temos que olhar não para o que estamos recebendo, mas para a face da Luz. E se fizermos isso, os presentes e bênçãos continuarão chegando, e a Luz nunca cessará de dar.
Então, como podemos garantir que as bênçãos que recebemos sejam realmente infinitas?
Há uma seção do Zohar, em Ekev, em que está escrito que o segredo das bênçãos é atraí-las de cima para baixo. Por exemplo, se temos uma semente e queremos que ela se torne algo maior como uma árvore, no momento em que a colocamos no chão, nosso pedido não é que a Luz do Criador abençoe a semente, mas sim que a bênção que começa na semente continue a se multiplicar cada vez mais, a crescer em uma árvore frutífera, o que é, portanto, uma verdadeira bênção. Uma bênção real é aquela que continua a se multiplicar para sempre, e todas as bênçãos que recebemos devem realmente se multiplicar para sempre.
Assim, para garantir que as bênçãos que temos para sempre se multipliquem, precisamos primeiro saber que uma bênção real é algo que se multiplica para sempre. Se ela para de se multiplicar, se para de nos trazer mais bênçãos, é porque fizemos algo para interromper seu fluxo. No entanto, enquanto o indivíduo continuar olhando para o Criador sabendo que tudo o que está acontecendo é apenas da mão do Criador, a Luz nunca deixará de aumentar essa bênção. Mas se uma pessoa permite que seu ego atrapalhe, mesmo que por um momento, e diga que todas as bênçãos vêm dele, então o Criador para de olhar para a pessoa, e nenhuma bênção adicional pode residir ali.
A única maneira de uma bênção se tornar o que realmente deveria ser – que é um fluxo em constante multiplicação – é quando nem sequer temos 1% do nosso ego envolvido; quando olhamos para nossos filhos, nossa saúde, nossos negócios ou qualquer coisa, realmente, e pensamos “isso é meu”, isso indica contagem. E quando começamos a fazer dessas bênçãos "minhas", fazemos com que a Luz do Criador não possa mais olhar para nós, e o fluxo dessa bênção se interrompe.
Como podemos garantir que as dádivas sempre sejam dadas? Nunca as tornando "minhas". Garantimos que a Luz continue a fluir, tendo uma apreciação crescente e avassaladora pelo que temos. Quando um indivíduo para de apreciar – o que, é claro, é a natureza humana – e não continua se esforçando para apreciar ainda mais a Luz do Criador que é infundida nas bênçãos que ele tem com ele, interrompe o fluxo da Luz para dentro dessa benção, e ela não pode mais crescer. Pode levar cinco, dez ou cinquenta anos para que se extinga, mas ele ou ela, com essa consciência,  fez com que a Luz do Criador fosse  separada desse presente.
A razão pela qual perdemos o apreço por uma bênção é porque a tornamos "minha". Isso acontece muito com os relacionamentos: normalmente, quando as pessoas estão namorando, elas estão tentando fazer com que o homem ou a mulher gostem delas, e há apreço, porque a benção ainda não é delas. Mas uma vez que se torna “delas”, a apreciação diminui ou cessa completamente... e uma vez que se torna "delas", não há fluxo da Luz do Criador. Para permitir que o fluxo da Luz continue sendo infundido em nossas bênçãos, portanto, precisamos nos esforçar constantemente para obter uma apreciação avassaladora pelos dons que já temos, nunca tornando-os "meus". Porque, como aprendemos, se não houver o fluxo da Luz, a bênção não pode crescer. Infelizmente, é isso que a maioria de nós faz com a maioria das bênçãos na vida. No entanto, como entendemos a partir da porção Ki Tisa, se pararmos de contar nossas bênçãos, podemos garantir que o fluxo ilimitado da Luz do Criador não apenas continue, mas se torne cada vez maior.

Michael Berg

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