A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


domingo, 10 de abril de 2011

Parashá Metzorá


 
“Quando vierdes à terra de Kenaân, que vos dou em propriedade, Eu dou marca de tzarah em uma casa da terra de vossa propriedade.”
(M’tzorá 14:34)
 
A parashá Metzorã nos ensina sobre uma doença misteriosa, conhecida pelo nome código de tzarah e que além de afetar as pessoas afetaria igualmente suas casas. Qual é o mistério sobre isso?
Para os cabalistas tzarah é uma expressão genérica para representar todo o tipo de doença.
E existe uma sabedoria espiritual que faz uma associação entre as doenças e as palavras negativas que usamos.
Os nossos sábios ensinam que uma pessoa nunca deveria emitir uma expressão grosseira de sua boca; e ao contrário, devemos sempre nos expressar de modo refinado.
Aquele que deseja ter uma porção da vida superior, deve guardar sua boca e língua.
Ele deve preservar sua boca das comidas que profanam a alma e deve manter sua língua longe das palavras maldosas. Portanto, assim como a comida não casher (não adequada) bloqueia o coração e portanto, os atributos emocionais do cabalista quanto à apreensão do dom profético, e assim criando um véu que encobre a verdade da Torah para a criatura, a palavra maldosa, a lashon hará, inibe a formação da “casa sagrada” (o espaço sagrado), bloqueando as faculdades intelectuais da pessoa, rompendo então o fluxo que emana da Sabedoria superior, distanciando assim a criatura do Criador pelo distanciamento da “criatura da criatura”, e portanto, favorecendo o caos e o exílio neste mundo, pois o que maldiz, afasta também a Shekhiynah (Presença Divina).
A “casa” é uma representação de todo o espaço de vida de uma pessoa.
O que acontecia se a casa tinha tzarah?
 
“Aquele, de quem é a casa, vem, relata-o ao kohen para dizer: Vi algo como uma marca na casa. O kohen ordena: eles evacuam a casa, antes que o kohen venha ver a marca, para que todo aquele que estiver na casa não seja contaminado. Em seguida, o kohen vem ver a casa.”
(M’tzorá 14:35-36)
 
Como explicam os sábios de nossa Tradição, uma das razões pelas quais ocorria tzarah a uma “casa” era por causa da avareza (desejo de receber para si mesmo) do proprietário.
Recusava-se a emprestar seus pertences a outrem, pensando que jamais alguém pudesse descobrir quantos objetos tinha escondido em sua casa.
Agora ele precisava colocar seus utensílios e pertences à mostra, na rua.
Todos os vizinhos viam os objetos que tinha mantido em segredo nos armários. Talvez isto despertasse a Teshuvah (reestruturação) nele.
Primeiro, seus pertences haviam sido colocados na rua.
Depois eles foram mantidos fora de casa por uma semana.
O tempo todo temia que o tzarah pudesse se espalhar e que a casa tivesse que ser demolida.
Agora percebiam que o lar de uma pessoa e todas suas posses na verdade pertencem a Luz do Mundo Infinito.
Dinheiro e objetos nos são concedidos para que os usemos com o propósito correto. E como um Metzorá (“Leproso”) torna-se puro?
Como já explicamos, um das razões principais que causavam tzarah era a lashon hará.
A palavra Metzorá (aquele que tem tzarah), é semelhante com a palavra motzirá, (alguém que fala o mal).
Se o Metzorá fez Teshuvah enquanto estava fora do acampamento, as manchas brancas na pele ou nas paredes da casa, desaparecerem.
O Metzorá se sentia aliviado quando percebia que as marcas tinham desaparecido. Ele então chamava um kohen (sacerdote).
O kohen caminhava até fora do acampamento para examiná-lo.
O kohen dizia: "Começaremos a torná-lo tahor (puro). Hoje é o primeiro dia de sua tahará (purificação). No oitavo dia você oferecerá corbanot (sacrifícios), ficará completamente puro e poderá juntar-se à sua família."
Após a oferenda dos corbanot o cabalista tornava-se puro novamente e podia reunir-se à família. ,
Ele sentia-se quase como alguém que havia morrido e voltara a viver.
Este homem jamais falaria lashon hará novamente!
Certamente prestaria mais atenção às suas futuras palavras.
 
“Ele pega, para desfaltar a casa, dois pássaros, madeira de cedro,….” (M’tzorá 14:49)
 
Por que duas aves, um graveto de cedro e ezov (grama) eram usados para purificar o Metzorá?
Por que a Torah nos ordenou usar aves para purificar o M’tzorá?
Isso é porque os pássaros representam os anjos criados por nossas palavras.
Por que um pássaro é abatido e o outro é libertado?
Mesmo que você purifique (sacrifique) uma parte do seu Lashon hará, a outra parte voa para bem longe e foge de seu controle.
A grama e o cedro são totalmente opostos.
O cedro é a mais alta das árvores e o ezov, o mais baixo dos arbustos.
O Metzorá é lembrado:
Por que você falou lashon hará?
Porque pensou que era um cedro – melhor que os outros. Para evitar falar lashon hará no futuro, deve sentir-se humilde como a grama.
 
Outros aprendizados são importantes quanto a tzarah nas casas.
Sobre a Lashon hará devemos também saber:
 
"Toda minha vida, cresci entre os Sábios, e jamais encontrei algo melhor para uma pessoa que o silêncio"
(Ética dos Pais 1:17).
 
Maimônides, em seu comentário sobre Pirkê Avot (Ética dos Pais) levanta três questões.
Ele explica que existem cinco categorias de discurso:
1) Discurso associado a uma mitzvah (mandamento).
2) Discurso que devemos ter o cuidado de evitar.
3) Discurso que é repulsivo ou degrada..
4) Discurso que expressa amor.
5) Discurso que é permitido.
Maimônides explica então o que quer dizer.
O discurso associado a uma mitzvah inclui estudar a Torah em voz alta.
Este tipo de conversa é exigido, na verdade; devemos dizer palavras de Torah e prece.
A primeira categoria Maimônides classifica como um mandamento positivo obrigatório.
O discurso que precisamos ter o cuidado de evitar inclui o falso testemunho, mentir, fofocar e praguejar.
A Torah nos proíbe o envolvimento com este tipo de discurso, advertindo-nos a nos guardar contra ele e contra outros tipos de conversa inconveniente, incluindo lashon hará (lashon hará, literalmente, linguagem do mal, é qualquer discurso que ofenda outra pessoa, mesmo que as declarações sejam verdadeiras) .
O discurso que é repulsivo ou degrada inclui tagarelice, conversa que não tem utilidade, e não beneficia uma pessoa, espiritual ou materialmente.
Não há uma proibição inequívoca contra este tipo de discurso, pois ele não envolve amaldiçoar ou mentir, etc. Mas ele não tem qualquer valor.
Um pouco diferente da fofoca, pois não espalha boatos ou destrói reputações, a tagarelice comum é inútil e irrelevante, como muito daquilo que passa por novidade..
Esta conversa vã, desperdiçada, também inclui elogios negativos e cumprimentos ambíguos.
O discurso que expressa amor ou afeição inclui elogiar o positivo e criticar sabiamente o negativo.
Histórias e canções que elevam a alma, inspiram pessoas a melhorar ou inculcam bons hábitos fazem parte dessa categoria, assim como aquelas que mostram como são repulsivos os maus hábitos e fazem as pessoas desejar evitá-los.
Se falássemos continuamente, o dia inteiro, e nosso discurso pertencesse às categorias um e quatro – palavras de Torah e mitzvot e conversação que inspira – isso seria ótimo.
É óbvio que não devemos falar falsidades ou ofender os outros com nossas palavras, assim como também é óbvio que tagarelice e "novidades" são uma perda de tempo e fôlego.
Isso nos leva à última categoria:
O discurso permitido inclui a conversação que envolve de negócios, família, saúde e atividades cotidianas necessárias, como comer e beber.
Não há nada de inerentemente positivo ou negativo neste tipo de conversa.
Falar ou não falar, fica a critério da pessoa.
E sobre este tipo de conversa, nos diz Rav Shim’on ben Gamliel, o melhor é o silêncio, pois se você tem de falar, assegure-se de que suas palavras combinam com suas ações – e seja breve.
A única enfermidade discutida na Torah que inclui as leis que correspondem a sua manifestação e a sua cura é tzarah.
Isto faz dela uma enfermidade arquetípica que compreende todas as outras enfermidades.
Usualmente se traduz por “lepra”, mas certamente isso é essencialmente um código.
O fato é que se podemos curá-la, teremos o poder, o conhecimento e a visão para curar todas as enfermidades.
Retificando o que é negativo
Um dos ensinamentos mais elementares de Rav Av’raham Abuláfia é que cada raiz de três letras do idioma hebraico tem seis permutações possíveis.
Rav Av’raham Abuláfia meditava sobre uma palavra hebraica considerando as permutações de sua raiz e contemplando o círculo de imagens criadas por essas permutações.
O mestre ensinava que mesmo que uma palavra negativa fosse formada por essa permutação, quando se medita nela como parte de um círculo completo, o conjunto purifica e retifica essa negatividade.
As seis permutações de Tzarah, são:
Raíz
Palavra
Significado
Tzadiyc, resh, aiyn
tzara
lepra
Tzadiyc, aiyn, resh
tza'ar
sofrimento, dor
resh, aiyn, tzadcik
ra'atz
romper
resh, tzadiyc, aiyn
ratza
marcar
aiyn, tzadiyc, resh
atzar
Controlar, prevenindo uma expansão anárquica
aiyn, resh, tzadiyc
aratz
respeitar (a um tirano) pelo seu poder
Neste ciclo de permutações, todas elas aparentam ser negativas e necessitam ser curadas.
Para realizar uma verdadeira cura estas permutações devem ser experimentadas internamente, dentro de nossa consciência.
 
Fonte: Academia de Cabala

(repasse Marcelo Veneri)

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