A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Arte de Israel: Forma e Substância



Todas as artes procuram a perfeição da forma.
De acordo com a Torá, a forma é o resultado de como a realidade se reveste em nossa vontade, desejo e consciên­cia.
O Rabino Ashlag assinala quatro caminhos pelos quais intelectualizamos nossa percepção da realidade. Eles são:
Substância
Forma da substância
Forma abstrata
Essência

1) Substância
De acordo com o exposto pelo Rabino Ashlag, o desejo de receber é a substância básica comum a todos os seres. O desejo manifesta-se como consequência do tsimtsúm, o ocultamento da plenitude da Luz Infinita, ou seja, é o que surge a partir da ausência.
Esse conceito é denominado, na linguagem da cabalá, Iesh Mi Áin.
Iesh significa Há — existência.
Mi significa De.
Áin significa Nada — inexistente.

Nossa tradição ensina que o Cadósh Barúch Hú: "Forma Luz e Cria Escuridão".
Esta passagem que aparece no Sidur (ordem da tefilá/ora­ção) nos indica que o ato da Criação oculta a plenitude da Luz ("Cria Escuridão") e, ao mesmo tempo, dentro desse espaço escuro que é a Criação, o Cadósh Barúch Hú dá forma à Luz para que o homem possa recebê-la ("Forma Luz").
"Cria Escuridão" refere-se ao conceito Iesh Mi Áin e "Forma Luz" a Iesh Mi Iesh.
Iesh Mi Áin é o desejo, o espaço no qual desenvolve-se a Criação, que surge como consequência da ausência da plenitude da Luz.
Iesh Mi Iesh é a Luz/Or que existe a partir do "existen­te", o original.

O desejo não tem possibilidade de se manifestar de forma indepen­dente antes da Criação, isto é, no estado de Infinito.
O desejo é o novo que surge com a Criação, é a substância que move todos os processos que acontecem, pessoal e coletivamente.
O desejo é a matéria prima, a substância que o homem modela ao longo de sua existência.

2) Forma da substância
O desejo tem duas formas básicas:
a)desejo de receber
b)desejo de dar
No caminho espiritual, o homem deverá transformar o seu desejo de receber em desejo de dar para conseguir superar sua dependência com respeito aos planos inferiores da realidade.
Em cada momento e situação que nos vemos frente ao desejo de receber, a Torá e as Mitsvót nos orientam, canali­zando nosso desejo em função do bem coletivo, em direção ao altruísmo, um desejo de dar com sabedoria.

3) Forma abstrata
A forma abstrata é a idealização, as qualidades indepen­dentes da substância, como por exemplo, o bem, a beleza, a verdade (e seus opostos).
A Sabedoria da Torá só valoriza estas qualidades quando revestidas de substância, do desejo concreto dos homens.
Ao contrário, quando separamos estas qualidades da situação onde se realizou, por exemplo, um ato de bem, tomando o conceito de bem como algo independente, estamos omitindo esta qualidade e correndo o risco de generalizá-la e idealizá-la erroneamente.
Todos concordamos quão importante é a verdade, mas se nos vemos frente a uma situação onde há que se mentir para se salvar uma vida, o que é mais importante: a verdade ou a vida?
Segundo a Torá, não há nada mais importante que a vida.
Essa verdade é uma verdade parcial, e portanto já não é "verdadeira".
O bem, a verdade etc., para serem completos devem estar conectados com a vida em todas os estratos nos quais ela se manifesta, ou seja, nos âmbitos corporais, emocionais, mentais e espirituais, contemplando a todos como diferentes aspectos da mesma realidade.
Toda quali­dade e/ou situação é definida e valorizada somente em relação ao contexto no qual se manifesta.
Quando a separa­mos das condicionantes que a geraram, corremos o risco de julgá-la de forma errada (como no exemplo da verdade, mencionado anteriormente).
O funcionamento dos órgãos do corpo constitui um claro e visível exemplo de como estes conceitos atuam na realida­de.
Cada órgão do corpo funciona corretamente apenas quando cumpre seu objetivo de servir ao corpo.
Se avaliado como um ente isolado, sem levar em conta sua função dentro do sistema, não estarei observando a realidade de forma completa, o que colocará em perigo todo o sistema, ou o corpo ao qual este órgão pertence.
De acordo com a Torá, cada detalhe da vida é um compo­nente insubstituível da realidade, e, portanto deve ser sem­pre avaliado em relação ao Todo.
Cada partícula que o Cadósh Barúch Hú criou tem seu lugar insubstituível na Criação, assim como uma simples engre­nagem, que sozinha não parece importante, mas que quando não está em seu exato lugar, causa a paralização de todo o mecanismo.
É por isso que os judeus, dizem todos os dias Shemá Israel Hashem Elokeinu Hashem Echad*, já que todos os detalhes da aparente multiplicidade que nos rodeiam, se empregados corretamente, constituem instrumentos insubstituíveis que conseguem harmonizar a realidade e a vida
Observamos como a forma abstrata não é uma forma de conhecimento válida, já que nos faz avaliar a realidade de forma parcial, correndo o risco de cair em sistemas que valorizaram mais a "verdade abstrata" que a própria vida.
A partir dessa concepção, nascem os sistemas que limitam o livre arbítrio e destroem tudo o que se interpõe em seu caminho, em nome da "verdade abstrata" ideal.

4) Essência
Da essência não temos compreensão nem percepção.
Os cinco sentidos humanos, somados ao máximo que nossa imaginação possa transmitir, são, na melhor das hipóteses, a manifestação do efeito das atividades da essência, porém nada podem oferecer sobre a essência por si mesma.
Nos­sos cinco sentidos, emoções e pensamentos, transmitem-nos luz, calor, som, idéias etc., até onde seu alcance lhe permi­te, mas além desse âmbito há outros aspectos da realidade.
A essência em si mesma é impossível de ser conhecida, uma vez que a essência de toda a realidade é a mesma, é Uma e Única.
Exemplo:
Quando nos referimos a nosso semelhante, o fazemos de acordo com a forma pela qual conhecemos aquela pessoa: é meu amigo, meu médico, meu pai, etc.
Cada um desses termos é uma forma através da qual conhecemos aquela pessoa, por mais que esse indivíduo seja tudo isso e muito mais.
Da mesma maneira, a essência está além de todos os nomes que lhe dermos, pois é ilimitada, e quando a nomeamos, estamos colocando limites em nossa percepção Apesar disso os limites representam a única forma de co­nhecimento, uma vez que, no infinito, minha percepção é diluída e não consegue alcançar a realidade.
Quando um arquiteto propõe construir um edifício, esta­belece primeiro os limites e depois, dentro deles, desenvol­ve um projeto.
Uma cidade começa com uma casa, depois outra e outra, até ser completamente construída.
O objetivo do Cadósh Barítch Hú é dar e beneficiar de for­ma infinita e, para isso, limitou a plenitude de Sua Luz/ tsimtsúm frente a nós.
A Criação é o grande projeto no qual o homem deve trans­formar seu desejo de receber em desejo de dar.
Como qualquer plano, começa de um ponto para depois se espa­lhar por toda a realidade.

De acordo com a Torá, na essência e na forma abstrata não temos possibilidade alguma de assimilar a realidade e a vida.
Apenas a substância, vontade e desejo, e a forma da substân­cia, egoísmo ou altruísmo, são caminhos de conhecimento válidos.
Esta forma de conhecimento se manifesta quando prevalece em nossos atos o desejo egoísta/ratsón lecabel, ou quando, ao contrário, prevalece o nosso desejo de ajudar ao próxi­mo/ratsón lehashpía.
Quando liberamos nossa vontade e consciência mais além de nós mesmos, nossa realidade se expande transcendendo os limites do nosso egoísmo/ratsón lecabel; então surge o altruísmo/ratsón lehashpía.
É assim que o homem amplia seu campo de ação e seu mundo se expande em todos os âmbitos da realidade.
O homem começa, aí, a se aproximar gradativamente do mundo do Cadósh Barúch Hú, uma vez que, agora, não está mais centrado em si mesmo, e sim suas motivações se dirigem para beneficiar o resto das criaturas.
Agora o homem é um "sócio ativo do programa da Criação", que consiste em beneficiar a todos os seres de forma infinita.
Quando a arte e a vida são utilizados com a finalidade de transformar o desejo de receber em desejo de dar, essa arte e essa vida são judaicas por excelência.
Como expressou o Grande Sábio Rabi Akiva, Mestre do Rabi Shimón Bar Iochái (o mais destacado tanaíta autor do livro do Zôhar, século II da era comum):
"O meu é teu e o teu é teu"
Rabi Akiva, como todos os verdadeiros Sábios de Israel, difundiu em todos os seus atos e com sua própria vida a mitsvá mais importante da Torá:
"Amarás a teu próximo como a ti mesmo"

Chaim David Zukerwar

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