A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Masculino e Feminino


Muitas pessoas se perguntam sobre as diferenças entre o homem e a mulher conforme expressas na Halachá (Conjunto de Leis).
Alguns tentaram explicá-las em termos das diferenças psicológicas e sociais entre os sexos, mas realmente sabe-se tão pouco a respeito destas diferenças que isto é pouco mais do que especulação.
Além disso, a Torá trata basicamente do ser humano espiritual, e quando encontramos uma diferenciação entre homem e mulher, é principalmente por causa de suas diferenças espirituais.
Para entender essas diferenças espirituais, devemos tentar compreender o propósito de Deus ao criar dois sexos.
Afinal, ambos os sexos compartilham a "imagem" de Deus, pois está escrito: "E criou Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea criou-os." (Gênesis 1:27).
A chave para isto está no ensinamento dos nossos sábios de que quando um homem e uma mulher vivem juntos em santidade, a Presença Divina está entre eles.
A palavra hebraica para "homem", Ish (cya), contém a letra Yud (y), ao passo que Ishá (hca) , "mulher", contém a letra Hê (h) .
Estas são as primeiras duas letras do Nome de Deus (h - y).
O homem, portanto, corresponde à letra Yud no nome de Deus e a mulher, à letra Hê.
Os Mestres nos ensinam que Yud se refere à sabedoria, enquanto Hê corresponde ao entendimento. A sabedoria é portanto o elemento masculino, e o entendimento, o feminino.
O Baal Shem Tov nos ensina ainda que a letra Yud no Nome de Deus é Sua oferta de criação, ao passo que a letra Hê é a Mão que a oferece.
A guematria, ou valor numérico, de Hê é 5, correspondendo aos cinco dedos.
A sabedoria se relaciona particularmente com as origens e o passado, pois está escrito: "O princípio é a sabedoria" (Provérbios 4:7).
Além disso, está escrito: "Eu sou o primeiro e o último" (Isaías 44:6).
Os Mestres nos ensinam que o "primeiro" se refere à sabedoria e o "último" ao entendimento.
Sabedoria, o elemento masculino, é portanto o passado, e entendimento, o elemento feminino, é o futuro. A sabedoria consiste de tudo que foi acumulado, ao passo que o entendimento é como se fará uso dela.
O elemento do homem, portanto, é basicamente o passado, e o da mulher é o futuro.
Conhecimento é a ligação entre a sabedoria e o entendimento, entre passado e futuro, entre masculino e feminino. Assim está escrito: "E o homem conheceu a Eva, sua mulher" (Gênesis 4:1).
O passado influencia o futuro, mas o futuro não pode mudar o passado.
O conhecimento é o que o passado insere no futuro.
Ele vem essencialmente do elemento masculino, e assim nos ensinam que "o conhecimento da mulher é leve" .
Uma vez que o entendimento é o elemento feminino, nos ensinam também que "maior entendimento foi dado à mulher." Neste sentido, os seis dias úteis são masculinos, enquanto o Shabat é feminino.
Durante os seis dias úteis, o mundo se renova pelo impulso original da Criação, e portanto eles pertencem ao passado. Mas no Shabat compartilhamos do mundo vindouro — o futuro em última instância — o mundo onde tudo será Shabat.
Agora podemos entender esta diferenciação básica entre homem e mulher na Torá. As obrigações do homem são dirigidas ao passado, enquanto a mulher se dirige ao futuro. O homem preserva o passado, a mulher cria o futuro.
O estudo da Torá se relaciona aos ensinamentos do passado e por esta razão é principalmente uma obrigação do homem. As mulheres não são obrigadas a estudar, a não ser para saber o suficiente para cumprir os mandamentos.
Preservar o passado através do estudo da Torá é domínio masculino. Contudo, quando a Torá foi dada inicialmente, ela foi ensinada primeiro às mulheres.
Está escrito: "Assim dirás à casa de Jacó" — as mulheres — "e anunciarás aos filhos de Israel" (Êxodo 19:3).
Quando a Torá foi dada pela primeira vez, ela representava todo o futuro do povo judeu e portanto pertencia mais às mulheres que aos homens. Além disso, também há uma Torá que é especificamente feminina. Está escrito: "Escuta, meu filho, a disciplina do teu pai, e não despreze a instrução da tua mãe" (Provérbios 1:8). Nossos sábios nos ensinam que a "disciplina do teu pai" se refere à Torá dada no Sinai, enquanto "a instrução" — a Torá — "da tua mãe" se refere aos costumes que seriam introduzidos no futuro.
É este versículo que nos obriga a nos comportarmos segundo esses costumes  Contudo, a mais importante diferença entre o homem e a mulher é também a mais óbvia: é o fato de as mulheres engravidarem e os homens não.
É neste papel que as mulheres são as principais responsáveis pelo futuro da raça humana.
Ana estava falando por todas as mulheres quando disse: "Senhor do Universo, Tu não criaste nenhuma parte do meu corpo em vão... Tu criaste estes seios sobre meu coração para alimentar meus pequenos."
 
Há duas categorias básicas de mandamentos na Torá.
Os mandamentos positivos nos dizem "Faça", e os mandamentos negativos nos dizem "Não faça".
A Torá ensina que os mandamentos negativos são compulsórios para homens e mulheres igualmente. O mesmo é verdade para os mandamentos positivos que não dependem de um tempo específico.
É no âmbito dos mandamentos positivos dependentes de tempo que se encontram as maiores diferenças entre as obrigações haláchicas do homem e as da mulher.
O efeito prático desta regra é isentar as mulheres de sete mandamentos: a prece Shemá Israel, os Tefilin (filactérios) da cabeça e da mão (dois mandamentos separados), Tsitsit (franjas), Sucá (cabana), Lulav e Shofar.
Esta distinção está relacionada aos elementos básicos do masculino e feminino, respectivamente, passado e futuro.
Mandamentos positivos nos impõem a ação, e assim representam o passado se projetando no futuro.
Mandamentos negativos, por outro lado, nos contêm, e representam o futuro contendo o passado.
Mandamentos positivos, portanto, pertencem ao elemento masculino, enquanto mandamentos negativos pertencem ao feminino.
Como o passado influencia o futuro, os homens devem cumprir os mandamentos negativos tanto quanto as mulheres. Ao influenciar o futuro, eles também entram no domínio feminino. O futuro, contudo, não pode influenciar o passado e, portanto, sempre que o tempo está envolvido, as mulheres estão desobrigadas dos mandamentos positivos.
Entretanto, quando o mandamento não envolve tempo, o futuro se mistura ao passado e as mulheres também devem cumpri-lo.
É com sua capacidade de engravidar e de gerar a vida que as mulheres cumprem a totalidade dos 248 mandamentos positivos. É por isso que "Réchem", a palavra hebraica para "ventre", tem a guematria, ou valor numérico, de 248, a totalidade dos mandamentos positivos.
Ainda assim, pode-se perguntar: por que a desigualdade?
Achamos que de muitas maneiras a Torá parece dar ao homem um status superior ou uma posição dominante.
Esta posição pode estar relacionada à nossa observação prévia de que o passado masculino determina e domina o futuro, enquanto o futuro feminino não pode alterar o passado. Mesmo assim, devemos buscar a razão desta desigualdade.
 
Ao discutir a desigualdade básica em relação à mulher, nós devemos distinguir entre a situação do homem antes e depois da queda de Adão.
Antes do pecado, está escrito: "enchei a terra e subjugai-a" (Gênesis 1:28).
Nossos sábios nos ensinam que isso significa que o homem domina a mulher.
Ao dominar a terra, e assim, sendo proeminente no comércio e na indústria, o homem também domina a mulher, que depende dele.
Depois do pecado, contudo, Deus disse à mulher: "e para teu marido será o teu desejo e ele dominará em ti" (Gênesis 3:16).
O que antes havia sido uma pequena vantagem, porque a vida no Éden não requeria trabalho, agora tornou-se uma dominação absoluta.
Como resultado do pecado, o homem foi amaldiçoado: "Com o suor do teu rosto comerás pão" (Gênesis 3:19). Tanto o homem como a mulher se tornaram muito mais dependentes do trabalho do homem e o papel masculino se tornou correspondentemente mais importante.
Até certo ponto, isto aconteceu porque a mulher foi a primeira do casal humano a desobedecer as palavras de Deus. Sendo quem tinha "conhecimento leve", ela foi tentada a provar da Árvore do Conhecimento.
Mas a questão permanece: por que havia uma desigualdade básica entre o homem e a mulher? Por que o homem era dominante mesmo antes do pecado? Por que a mulher foi tentada, e por que o mandamento de não comer da Árvore do Conhecimento só foi dado ao homem?
 
Encontramos uma alusão a este problema no versículo "E fez Deus os dois grandes luzeiros: o luzeiro maior para governar o dia, e o Luzeiro menor para governar a noite" (Gênesis 1:16).
Nossos sábios nos ensinam que o sol e a lua originalmente foram criados iguais.
A lua reclamou, dizendo: "É impossível dois reis iguais governarem sob uma coroa." Deus então disse à lua: "Vá e se reduza ."
O Zôhar, o texto místico de maior autoridade, nos ensina que a redução da lua simboliza o papel subordinado do elemento feminino em toda a Criação.
A lua perdeu seu poder de irradiar sua própria luz e agora só reflete a luz do sol.
O Sol é responsável pela medida dos anos, que é um ciclo repetitivo simples.
A própria palavra "ano", Shaná, significa “repetição”.
O Sol é portanto o elemento masculino, repetindo o passado.
A lua, por seu lado, mede os meses.
A palavra hebraica para "mês" é “Chódesh”, literalmente "algo novo".
O mês lunar se baseia nas fases da lua, passando por um ciclo completo de nascimento, crescimento e morte, e antecipando constantemente o futuro.
A lua se queixou que o passado masculino e o futuro feminino haviam sido criados com a mesma influência.
Deus diminuiu a influência do futuro, reduzindo assim o elemento feminino.
A razão pela qual o homem tem o domínio da terra é que ele pode aprender com a experiência passada.
Esta ligação com o passado também explica porque ele domina a mulher.
O mundo do futuro, porém, será um tempo onde é sempre Shabat, e como o profeta previu: "Então a luz da lua será igual à luz do sol" (Isaías 30:26).
Nesta época, a desigualdade entre homem e mulher também será erradicada.
 
Estamos nos aproximando rapidamente da Era Messiânica, quando a maldição associada ao pecado de Adão será retirada.
Quando a maldição for suprimida, o status da mulher também mudará radicalmente.
Nossos sábios ensinam: "Todos serão curados, exceto a serpente."
Esta mudança no status da mulher talvez esteja referida na profecia "Porque Deus cria algo de novo sobre a terra: a mulher rodeia seu marido" (Jeremias 31:22).
A nova conscientização entre as mulheres não passa de um mero indício da luz da Era Messiânica futura. Já vemos essa iluminação em coisas como o renascimento de Israel e a volta de Jerusalém, assim como na busca renovada da paz, da justiça, do governo honesto, da igualdade e do significado da vida.
Também a vemos nos avanços tecnológicos que, em grande medida, vêm eliminando a maldição de Adão.
Mudanças tecnológicas e sociológicas rápidas trazem grandes convulsões sociais em sua esteira. As mudanças cataclísmicas que acontecem à medida que o fim se aproxima resultarão em considerável sofrimento e desarticulação, freqüentemente chamadas de Chevelê Mashiach, "as dores de parto do Messias."
Muitos se afastarão do judaísmo e será um tempo de grande ateísmo.
Podemos usar o indício de luz que ilumina nossos tempos a partir da Era Messiânica futura para fortalecer nosso compromisso com a luz da Torá.
Se, por outro lado, tentarmos usar esta tênue luz para lutar contra a luz maior da Torá, ficaremos então sem luz nenhuma.
Se deixarmos a Tora iluminar nosso caminho, seremos merecedores do mundo do futuro — o mundo onde é sempre Shabat — quando "a luz da lua será igual à luz do sol."
 
Por: Aryeh Kaplan

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