A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Apego, A História Pessoal, e "Os Inventários"

O ciúme é unicamente uma pequena faceta de uma relação que temos com algo muito mais complexo que é a natureza do apego a nossa historia pessoal. 

A coisa que mais erroneamente temos é nossa história pessoal, e somos capazes de perder qualquer medida e qualquer virtude em nome disso, pois nos dá uma sensação de estabilidade e parece eliminar o risco de existir.
Nós estamos condicionados a ser de um jeito, nem temos consciência deste condicionamento, mas ele existe, e somos absolutamente obedientes a ele: pontos aglutinação de sentimentos, desejos, necessidades, argumentos, formas, valores.
Tais padrões são fortalecidos por inventários.

Para que pontos de aglutinação (percepções) existam, eu preciso produzir inventários (descrições) diários.
Preciso fortalecer a conclusão a respeito de tudo, e amanhã terei que fazer de novo, e de novo e de novo. 
Isso acontece no âmbito do instinto.
A descrição de tudo e todos, só serve para eu manter a minha historia pessoal, fixada pela interpretação que dou sobre as coisas, pessoas e acontecimentos de toda ordem, em minha vida.
Só temos interpretações de coisas absolutamente banais à nossa volta.
E se só interpretamos coisas banais, portanto somos banais.

Eu coloco a minha volta formas e pessoas que são devidamente inventariadas, registradas e descritas, e isso fortalece minha historia pessoal.
Por isso que, para o homem comum é muito difícil entender a figura do "pequeno tirano" (alguém que não goste de você), que é uma figura que o cabalista se utiliza para trabalhar sua serenidade entre outras virtudes.
O homem comum acha isso muito arriscado, pois é bom ter minha volta o que me fortalece, e a minha história pessoal.
Só na destruição radical de quem somos nos tornamos cabalistas.

Ser cabalista é muito distante de quem eu sou, e de minha história pessoal, que foi feita pra me tornar contemporâneo e burguês.
Se eu quero ser algo diferente disso, tenho que destruir essa historia.
Pessoas se travestem de espiritualidade.
Comprometimento genuíno é pra poucas pessoas pois em maioria, temos muito apego a nossa historia pessoal.

Nossa historia pessoal faz com que acreditemos que somos muito importantes.
Esses pensamentos são constituídos através de nosso dialogo interno.
Esse inventário se dá com nossos diálogos internos....estamos o tempo todo nos justificando.
Acordamos assim, em seguida passamos o dia contando nossa historia aos outros. Nossas conversas cotidianas são meras afirmações de inventários, não temos efetivamente nenhum olhar pro outro, para ensinar algo.
Quando falamos o que fazemos, etc, etc., dificilmente fazemos isso com intenção de doar algo, algum sentido.
Não chegam a ser nem diálogos, são monólogos com o outro. E isso e inevitável.

Não e possível existir sem o inventário (as descrições).
Acontece que ele acaba se tornando o objeto principal.
Por exemplo: para ser um iluminado preciso produzir inventários, preciso discípulos, filosofias, historia, etc. Tudo isso é inventário, mas se eu fizer do que sou, apenas essas coisas que afirmam o que sou, aí tenho um problema, pois só serei iluminado se tiver os discípulos, historia, ou seja, dependo de tais circunstancias e descrições.
Então, não sou.
Se dependo do objeto do inventário (descrição), não sou
Estou só simulando.
A diferença do homem comum pro iluminado, é que ele entende que o inventario é apenas um inventario, e que é fraco. O homem comum acredita que o inventario é pra sempre.
Nós não suportamos a idéia da impermanência.
Criamos ilusões de eternidade, bem estar, amor, segurança, que tudo isso é pra sempre. Mas devemos saber que tudo isso e frágil, é uma mentira que contamos à nós mesmos e à outros, pra existir num mundo seguro, e isso só nos frustra.
O problema é que justificamos absolutamente qualquer coisa pra manter essa "segurança", e à isso damos o nome de apego.
A meditação elimina a obsessão que temos no inventario, pois deixamos de nos relacionar com o mundo quando só nos relacionamos com o inventário.

Porque tenho que preservar as descrições das coisas, pessoas e acontecimentos, na ilusão de segurança, eu sofro.
Porque o inventário é frágil.
Basicamente usamos a visão pra fortalecer o inventário, as descrições.
Na segunda visão (visão espiritual) o inventario "deixa de ser pedra e se torna água". Todo inventario diz algo a mim, toda vez que olhamos pras coisas, pessoas e acontecimentos, é um auto-elogio, pois estamos dizendo pra nós mesmos o que elas são de acordo com nossa história pessoal.
Por exemplo:
Acreditar que o amor de alguém é eterno, só acontece na minha cabeça, porque não tem absolutamente nada na natureza que seja eterno, tudo muda, e se transforma.

Tenha a natureza como conselheira.

Fonte: Academia de Cabala

(repasse Marcelo Veneri)

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