A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Reencarnação – Parte Final


Reencarnação em Minerais – Kaf Hakela
 
Para entender um pouco do objetivo desse tipo de reencarnação, precisamos dar uma pequena escapada do tema.
 
Os livros trazem que quando a pessoa morre, há um castigo que se chama Kaf Hakela (tradução literal – “catapulta”).
Esse castigo consiste em que a alma “é atirada” para o mundo espiritual e volta para esse mundo diversas vezes.
 
O Michtav Meeliahu (vol. 2 pág 62-63) explica esse “castigo”:
“Ao falecer, a alma não muda nada. A pessoa que durante a vida se apegou a ilusões, também depois de falecer continuará apegado a essas ilusões.
A Guemará em Berachot traz que as almas estavam interessadas em saber o que seria decretado para o mundo em relação às chuvas (se seria um ano chuvoso ou não). E uma das almas ali tinha vergonha pois foi enterrada com uma roupa simples – vemos que os sentimentos de kavod (respeito) continuaram igual a como eles eram nesse mundo.”
 
As pessoas que estão muito apegadas a esse mundo, quando falecem, continuam apegadas a esse mundo.
E a sede por prazeres desse mundo continua.
E esse desejo por prazeres materiais “obriga” a alma a sair em busca de suprir essas necessidades.
Mas isto é impossível, uma vez que esta não possui mais um corpo e, sem o corpo, ela é incapaz de ter algum prazer material.
Então ela começa uma jornada desesperada com o objetivo de encontrar o que não pode ser encontrado.
Esse é o Kaf Hakela.
A alma sobe e desce e viaja de um lugar para o outro atrás de algo que não pode ser encontrado.
E os anjos que foram criados pelos pecados da pessoa, a obrigam a procurar mais e mais e a apressam e não a deixam descansar.
É uma galut (diáspora) terrível.
Essa alma, ao encarnar num mineral, terá um pouco de descanso.
O Kaf Hakela em si não conserta a alma.
Porém com o passar do tempo, a alma vai esquecendo seus desejos materiais.
Até que “cai a ficha”.
Só depois que a alma passa pelo Kaf Hakela é que ele pode entrar no Guehinom.
Os tzadikim, nesse mundo, ficam muito mais ligados aos assuntos espirituais e menos ligados ao material.
Por isso, ao falecer, a alma não tem dificuldade de se adaptar a nova realidade. Quanto menos ligados ao material, mais rápido “cai a ficha’.
 
O livro Shemirat Halashon (de autoria do Chafetz Chaim) parte 1 cap. 9 escreve que a pessoa que fala constantemente Lashon Hará pode ser castigada tendo que reencarnar numa pedra.
Ou num cachorro.
Ele traz que os Mekubalim (“cabalistas”) aprenderam do cachorro do passuk (verso):
"Carne Taref não deve ser consumida. Ela deve ser jogada para o cachorro" e logo após esse passuk está escrito o pecado de Lashon Hará.
(O pshat - sentido revelado do passuk, não de acordo com a cabalá - é que a carne Taref deve ser jogada ao cachorro. Porém os mekubalim disseram que aqui há uma alusão que essa alma é atirada ao cachorro).
E esses dois pecados estão escritos juntos para dizer que esses dois pecados tem como consequência reencarnação num cachorro.
 
E ele continua dizendo:
"Saibam que os mekubalim disseram que, apesar de que, ao encarnar num ser humano, a alma se esquece de tudo o que se passou em outras vidas. Porém ao encarnar num animal ele se lembra das vidas passadas. E esse é um grande sofrimento, ao saber que foi rebaixado de um ser humano para um animal"
 
Está escrito em Bereshit (cap. 1 passuk 26):
"E disse D'us: Façamos o Homem a nossa imagem e semelhança e ele dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais e toda a terra e sobre todos os seres que rastejam sobre a terra"
O Or Hachaim fala que aqui há uma alusão sobre os níveis de Reencarnação.
A palavra Yrdu - dominar - em hebraico pode ser lida com Yardu - descer.
Assim o passuk pode ser lido (entendido):
"e ele descerá sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais e toda a terra e sobre todos os seres que rastejam sobre a terra"
 
Uma introdução - Quanto mais difícil de "kasherizar" (“apropriar”) o animal, mais baixo é o nível dele, logo, a alma que vai nele é uma alma com mais coisas para consertar.
Vegetal e Mineral estão abaixo de todos os animais.
 
Agora a explicação sobre os vários níveis:
- Peixes – Esse é o tipo mais elevado.
Para ser consumido ele só precisa ser retirado da água.
Não é necessário um abate especial.
Por isso nele reencarnam as almas que estão mais próximas do seu conserto.
- Aves – Já precisa de shechita (Abate Ritual) para ser consumido.
Mas as halachot (leis) da sua shechitá são menos rígidas que a dos animais.
- Animais – Precisa de shechitá para ser consumido. Mas sua shechitá é mais complicada que a das aves.
 - Vegetal e mineral – Os vegetais e minerais vem abaixo dos animais.
- Rastejantes – Animais não Kasher (apropriados).
Como eles não são permitidos ao consumo, são o nível mais baixo.
Estando abaixo até dos minerais (mesmo que essa categoria são seres vivos – animais, ela está abaixo dos minerais e vegetais).
 
Baseado no que vimos até aqui, podemos concluir sobre a finalidade desse tipo de encarnação.
A morte tira a alma desse mundo.
Mas é preciso tirar "esse mundo" da alma. A alma que se apegou demais a esse mundo, tem influencias negativas desse mundo em excesso, e essas influencias tem que ser removidas.
O sofrimento da hora da morte e o trauma da alma a sair do corpo fazem parte desse "trabalho".
Mas se a alma está "presa" demais aos vícios desse mundo, é preciso outros processos.
Um deles é o Kaf Hakela que dissemos anteriormente.
 
Nesse contexto é que entra a encarnação.
Essa encarnação funciona como um tipo de "clínica de desintoxicação".
Ao passar o tempo necessário presa sem ter como correr atrás dos seus vícios, pouco a pouco, ela vai se limpando dos vícios e ficando preparada para poder entrar no Guehinom (Inferno).
Além disso, a humilhação de viver como um animal e, dividir o corpo com a alma do animal, ajuda a colocar as coisas em perspectiva.
A pessoa se lembra exatamente, de como foram suas vidas passadas, qual era o seu potencial, o que se esperava dela, o que ela fez durante a sua vida e porque ela chegou onde chegou. 
 
Resumo
O Judaísmo acredita em reencarnação. Apesar de não aparecer de maneira explícita em nenhum dos livros do Tanach.
A Reencarnação é um conceito que aparece bastante nos livros de cabalá.
Reencarnação em pessoas: Voltar a viver novamente, para tentar consertar erros da vida anterior, ou completar o que deixou de ser feito.
Por que não ir direto para o Inferno?
- Há coisas que nem o Inferno limpa (é muito mais fácil limpar nesse mundo já que temos livre arbítrio)
- No inferno não se pode cumprir Mitzvot. Quem morreu vazio, pode ficar mais de 1000 anos no inferno e continuará vazio. O Inferno pode apenas “zerar” a pessoa dos pecados. Mas preencher a missão dele não é possível lá.
Não há o perigo de a pessoa se estragar mais nas Reencarnações? Não.
Quando a pessoa morre, a parte da alma que completou a missão não entra na nova encarnação de maneira ativa. Somente a parte da alma que ainda não foi completada é que está de maneira ativa na encarnação e que é afetada pelas ações dessa nova vida.
A parte que já cumpriu fica “congelada” e não se arrisca.
Quantas vezes podemos reencarnar? Depende.
As vezes no máximo(3 reencarnações, depois da primeira vida e as vezes até 1000. O limite de 3 encarnações é para pessoas que, nessas 3 vezes, não completaram nada de suas missões.
Mulheres tem Guilgul? Sim. Mas é mais raro que os homens.
Pois um dos principais motivos da reencarnação é para completar mitzvot positivas. Mulheres estão isentas de grande parte das Mitzvot positivas
Como saber qual a nossa missão?
- Yetzer Hará – Se a pessoa tem um Yetzer Hará (inclinação negativa) especial em um pecado específico, é sinal que ele veio consertar esse pecado.
- As vezes Tzadikim veêm que eles cuidam uma Mitzvá com todos os mínimos detalhes. Pode ser que a alma sente que é essa a sua missão
- Dons e dádivas – Para cumprir nossa missão, recebemos dons e dádivas. Se observarmos o que recebemos, podemos ter uma ideia da nossa missão
Reencarnação em Animais, Vegetais ou minerais:
Objetivo – Esse tipo de encarnação tem como objetivo servir de castigo para alma. Os atos desses seres não contam (mesmo os que tem atos) pois esses seres não possuem livre arbítrio.
Memória – Ao encarnar nesse tipo, a alma se lembra de tudo o que passou nas suas vidas passadas.
Níveis – O Orach Chaim traz que os níveis de reencarnação são (em ordem decrescente): peixes, aves, animais kasher, vegetais e minerais e animais não kasher.
Três livros para os interessados no tema Reencarnação.
- Shaar haGuilgulim de Ytzchack Lúria:
Dispensa comentários!
- Gilgulei Neshamot - de Rabbi Menachem Azarya of Fano.
Outro grande clássico
- Dybbuk:
Parece ser um apanhado histórico sobre o tema. O livro é contemporâneo..

Por: Alberto Safra

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