A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Parashá Balac (2)

Na semana de leitura desta parashá nos encontramos mais uma vez sob a energia da “proteção”.
Proteção essa que sempre foi necessária dentro da história da Cabalá – e em especial da Cabalá Yunit – pelas inúmeras oposições que sempre enfrentou, desde o tempo de nosso mestre Rav Avraham Abuláfia.
Sabemos, de toda forma, que o principal elemento a que temos que nos proteger é de nossa própria má inclinação (potencial em cada um de nós). Mas, Nachash eventualmente se utiliza até mesmo de pessoas dotadas do conhecimento espiritual para promover a sua propagação do ódio gratuito por intermédio de algo que possa se revestir de uma aparente santidade para se fazer legitimar.
Só existe um propósito para a Cabalá neste mundo e este é, pura e exclusivamente, a melhoria e aperfeiçoamento do caráter de cada pessoa envolvida em seu empenho..
Qualquer caminho que prometa a aquisição de coisas outras do mundo físico que não sejam o auto-conhecimento, é aquilo que poderíamos chamar de “cabalá mágica” – tratando-se é claro de uma mentira e a exploração da necessidade – cada vez mais latente – do ser humano encontrar resultados por intermédio de atalhos, sejam eles por “fórmulas”, mecanismos de auto ajuda ou muitas vezes impondo o medo e o preconceito contra tudo aquilo que não seja em benefício de sua própria instituição, escola ou grupo de cabalá.
Essa cabala é movida por um sentimento “territorial”, e revestida de uma pseudo-espiritualidade, agem diante do outro como se fossem concorrentes de um nicho de “mercado” – o que seria abominável.
Esse foi o sentimento que mobilizou a ação de Bilam (que era profundo conhecedor da Cabalá) apenas em seus meandros teóricos, mas estava longe de ter se tornado um cabalista por causa de seu ayin harah (olho do mal) sobre tudo o que focava. Bilam se mantinha – mesmo sem ter consciência – ligado ao sitra achrah (lado negativo), tirando proveito de seu raso conhecimento sobre o caminho para proveito pessoal e desejo de receber para si mesmo.
Agora, existe um outro aspecto ainda sobre esta cabala mágica, um que acaba por reduzir o saber das fontes Sagradas (os textos e obras clássicas) a própria ascensão intelectual do indivíduo através da transformação do conhecimento em “blocos” compactados – como se os mesmos pudessem ser encontrados em prateleiras e adquiridos na medida da sua necessidade pessoal e egoísta, como se a Cabalá fosse um bem utilitário, tal como um objeto a ser possuído de acordo com o seu desejo e para seu autobenefício somente.
Não é de se surpreender que o Tzipor (pássaro) de Balac, através do qual ele fazia todas as suas mágicas, chamava-se Yaduá (conhecido), pois como explica a Cabalá: “toda a sabedoria que Balac tinha, vinha deste pássaro” (Zohar Balac).
Ou seja, o poder “mágico” está em se ficar na superficialidade do yaduá (conhecido), aquilo que poderia ser facilmente equiparado com os caminhos que se destinam apenas em acumular conhecimento sobre questões tênues e que de fato e objetivamente nada fazem para melhorar o mundo em que vivemos.
Na visão da Cabalá Yunit (Contemplativa), o conhecimento é necessário somente para ligar a pessoa a Luz Infinita, de forma que cada ideia revelada e assim compreendida incandesce um ponto a mais de luz que ilumina para a pessoa o caminho em direção a Luz Infinita – esta é a função primordial do saber – conduzir a prática (meditação, mitzvot e a prática sistemática do bem ao próximo).
Todo o caminho de Cabalá (ou cabala) que não lhe permite o cumprimento da Torah e suas conexões santificadas, tais como o cumprimento das mitzvot, e lhe impede do exercício objetivo da vontade do Criador é por si mesmo uma cabala mágica que arrogantemente considera que se apenas o estudo for “conhecido”, isso é o suficiente para se estar fazendo o necessário para o crescimento pessoal.
Já a Cabalá Contemplativa, de fato, implica em que o seu saber e suas reflexões sobre este saber venham a convergir para satisfazer o desejo Divino e não somente para a obediência das obrigações da pessoa como ordenada na Torah. 
Podemos citar:
“Todo aquele cujas boas obras excedem sua sabedoria, perdurará sua sabedoria; mas todo aquele cuja sabedoria excede suas boas obras, a sua sabedoria não perdurará.” (Pirkei Avot III, Mishná 10).
Isso explica a superficialidade e flutuação de pessoas que entram e saem de tais experimentos espirituais – iludidos pela promessa mágica de estarem no caminho único e mais “poderoso”, e mesmo impedido de qualquer acesso às práticas essenciais do instrumento contemplativo, tais como, talit, tefiliyn, Shabat, entre outros – essas pessoas acabam por não sustentar a suposta “conhecido superficial” entregue (mesmo que travestido de algo hereditário e legítico) a elas.
Mas o fato é que toda a ação da Luz e seus instrumentos de atuação no mundo, sempre foram alvo de “maldições” – que se caracteriza pela necessidade do Lashon harah, foi assim nos tempos de Rav Avraham Abuláfia e é assim até os dias atuais.
Mas como saber se estamos construindo uma cabala mágica ou um legado Contemplativo?
Para tanto é necessário transformar a suposta maldição de Bilam em bênção.
E construir uma morada para a Luz Infinita neste mundo, que seja como o ideal da Comunidade Aperfeiçoada idealizada por Avraham o patriarca, como está escrito: "Como tuas tendas são agradáveis, ó Yaacov" - proclamou Bilam.
Yaacov se caracterizou por transformar os lugares por onde acampou, em lugares agradáveis e belos espiritualmente, não por intermédio de dizeres e sim por força do exemplo vivenciado no dia-a-dia do cabalista.
É essencial saber que mesmo com tanta restrição e oposição ao caminho da Cabalá Contemplativa, a mesma perdura.
 
Balac escolhera convidar Bilam para amaldiçoar os hebreus, pois acreditava que estes estavam sujeitos às forças naturais (mazalot).
Não se dava conta de que os cabalistas estão sob a Providência direta da Luz e conhecem, bem como vivenciam os mistérios da Torah, colocando-se desta forma acima dessas influencias naturais.
Mas há uma questão importante a ser desvendada nesta porção: se o próprio Balac era feiticeiro, por que precisava de Bilam?
Aprendemos que de fato, a perícia de um completava a do outro.
Balac era instruído em assuntos estratégicos; por exemplo, podia determinar exatamente onde alguém deveria postar-se para amaldiçoar efetivamente.
Bilam possuía as chaves interiores, as palavras apropriadas com as quais amaldiçoar.
Bilam era neto de Lavan, sogro do patriarca Yaacov. E acreditava na calúnia e nas mentiras dos filhos de Lavan: "Yaacov roubou e despojou nosso pai de todas as suas posses."
Bilam, portanto, odiava os descendentes de Yaacov com todo seu coração. Enquanto servia como conselheiro do Faraó no Egito, Bilam aconselhou o rei egípcio a banhar-se no sangue dos filhos dos hebreus.
Também instigou o Faraó a lançar os meninos hebreus recém-nascidos ao Nilo. Bilam era especialmente hostil a Mosheh, uma vez que sentia que sua própria sabedoria igualava-se a de Mosheh.
Na leitura da sexta porção desta parashá, Balac e Bilam ergueram novamente sete altares e ofereceram um touro e um carneiro sobre cada um dos sete altares (um para neutralizar a ação de cada umas das sete sefirot elementares) .
 
“Bilam vê que é bom aos olhos de Yihav’há abençoar Yis’rael. Ele não vai, como cada vez, ao encontro das adivinhações. Ele volta para o deserto suas faces.” (Balac 24:1)
 
Desta vez, Bilam não tentou utilizar seus poderes de impureza, uma vez que admitira em sua última profecia que os hebreus eram imunes à mágica.
Em vez disso, concentrou seus poderes em seus pecados.
Virou sua face em direção ao deserto, para lembrar do pecado do bezerro de ouro. Não obstante, ao erguer os olhos, percebeu que a Shekhiynah pairava sobre as tendas dos hebreus.
Somente os nossos próprios pecados podem abrir a porta para a destruição.
Nunca podemos nos esquecer disso.
A razão de alguém ter lhe falado que um mau olhado apenas surte efeito se você pensar sobre isso e lançar o foco sobre essa questão, é que caso você pense a respeito o tempo todo, você mesmo estará trazendo a energia de julgamento para as suas próprias transgressões, e assim seus registros ficam expostos e abertos.
 
Fonte: Academia de Cabala

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