A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Parashá Massei - Absorção e Integração

Estamos em um período – as três semanas – de restrição e contração espiritual.


Temos aqui duas porções da Torah:


Matot que nos conecta com a energia de “luta”, no sentido de “combate” enquanto que Massei, nos liga ao “entusiasmo”.


A combinação destas duas forças nos leva a pensar no combate espiritual que travamos todos os dias – e ao longo de diversas encarnações – contra Nachash (força autodestrutiva), o entusiasmo deve ser a marca essencial no exercício de


nossas conexões, uma vez que cada um de nós é – em potencial – um


“guerreiro da Era do Mashiach”, e que por intermédio de nossas orações e


meditações, podemos transformar as forças negativas e destrutivas em Luz


revelada.


Desta forma, esta “luta” – a dizer um “combate” – tem como objetivo a conquista da nossa Terra Prometida.


E onde fica esta Terra Prometida?


Não é outro que não o lugar onde seus pés se encontram.


Temos que, desta forma, transformar o local onde estamos em Terra Santa.


O que significa isso?


Para a Cabalá Contemplativa (Cabalá Yunit) é um “lugar” onde a Divindade, a santidade e a Sabedoria Espiritual são abertamente reveladas – esta é a essência da Era Messiânica.


O relacionamento entre o homem e a Luz Infinita (D´us) não será mais baseado na fé, mas será nutrido por uma percepção direta da Shekhiynah (Presença Divina) aqui na terra.


Isso não implica em uma mudança física e muito menos geográfica do mundo.


O que mudará será a nossa consciência, que por sua vez mudará nosso conhecimento e percepção da Luz Infinita (D´us).


A ideia de transformar o lugar onde você está em Terra Santa, significa que todo indivíduo deve e pode atrair a Luz à sua vida e ao seu ambiente.


Cada um de nós deveria saber que seu “lugar”, ou seja, cada dimensão de nosso


ambiente e cada momento do tempo que vivemos pode ser transformada em Terra Santa, ou seja, num local onde a Divindade seja abertamente revelada.






“As cidades que dareis aos Levi´im, as seis cidades de refúgio, lá onde


concedereis ao homicida esconder-se. Além delas, vós lhes dareis


quarenta e duas cidades.”


(Massei 35:6)






Mas o que fazer para se chegar a este estágio de Terra Santa?


Antes dos hebreus chegarem à Terra Prometida, a Luz Infinita (D´us) ordena a Mosheh que designe seis cidades refúgio.


As leis sobre estas “cidades” são repletas de códigos de grande importância.


Se uma pessoa matasse outra acidentalmente, deve se dirigir a uma dessas “cidades refúgio”, seis ao todo – representando as seis sefirot que incluem as virtudes denominadas de midot – Chessed, Guevurah, Tiferet, Netzach, Hod e Yessod.


Haviam três “cidades” de um lado do Iardem (Jordão) e outras três no lado oposto. Uma vez estando dentro dos limites da “cidade refúgio”, nenhuma vingança


(julgamento) cairá com severidade sobre ele.


E isso lhe concederia uma chance de retificar o seu erro.


Mas o que é esse “matar acidentalmente”?


Ensinam nossos sábios que, quando falamos algo negativo (fazendo lashon


harah) sobre uma pessoa, três pessoas são assassinadas: aquela que fala,


aquela que escuta e a pessoa de quem se falou.


A grande maioria de nós é “culpada” de “matar” involuntariamente outra


pessoa por intermédio da palavra.


Os sábios da Cabalá Contemplativa ensinam que a Torah é aplicada a toda e qualquer pessoa em todo o tempo e lugar.


Como tal, todos nós necessitamos procurar uma “cidade de refúgio” de onde possamos nos proteger e retificar nossos trágicos erros involuntários.


Espiritualmente, a “cidade refúgio” é a Cabalá.


A Cabalá possui uma sabedoria restauradora.


Quando nossa consciência está completamente alienada em relação à Sabedoria Espiritual nos tornamos vulneráveis aos “danos” e o que é pior, perdemos a oportunidade de restaurar (fazer Teshuvah) – a dizer, corrigir – os nossos erros e falhas inconscientes de caráter.


A palavra hebraica para “refúgio” (miclât), aparece 10 vezes ao longo de toda a parashah.


Uma associação direta às dez sefirot da Árvore da Vida.


As dez sefirot estão, por sua vez, associadas às virtudes espirituais essenciais a que devemos nos ligar para realizar o Tikun (correção) essencial de nossa alma nesta vida..


São dez poderes de alma que todos devemos despertar.


Devemos ativar os dez desejos Divinos de nossa alma para correr para a cidade refúgio e iniciar nossa retificação.


Os sábios da Cabalá Contemplativa observam que dentro da palavra “refúgio” (miclât), encontramos letras que possuem outros dois significados: Absorção e Integração.


Ambas as palavras estão incluídas na compreensão do significado e função da “cidade refúgio”.


O processo de Absorção começa quando uma pessoa ingressa em uma nova realidade, e é absorvido por um novo ambiente que passa a rodeá-lo.


Lentamente a pessoa vai absorvendo novos costumes e novos valores.


Vai se familiarizando com seus conceitos e começa a compreender e aprender como funcionar dentro das leis que governam a interação entre o mundo físico e o mundo espiritual, com alegria e sabedoria. Essa Absorção precisa acontecer no seu tempo devido, sem resistência, mas com o cuidado que temos que ter em entender os costumes de uma nova forma de vida e não apenas através da “imitação” de costumes, travestindo-se de uma nova roupagem aparentemente espiritual.


Já o processo de Integração é uma dinâmica mais profunda.


Representa não apenas a identificação com o caminho como a integração à sua causa maior.


Integrar uma nova realidade é absorvê-la permitindo que a mesma penetre em nosso ser de tal forma, que desejamos lutar a sua luta, e combater o seu combate.


Aqui, a integração é totalmente um movimento pessoal, ingressando na consciência da pessoa, mudando não apenas sua forma de vida como também sua forma de participação dentro do contexto espiritual, tornando-se ativamente capaz de transformar não apenas a si mesmo como também o mundo à sua volta.


Estes são os dois grupos de miclat (refúgio), um se encontra na margem do Iardem em que você se encontra e a outra implica em cruzar o rio e atingir uma outra margem de nossas possibilidades.


O valor da guematriah da palavra miclat é 179, se partirmos do princípio de que existem duas formas de refúgio (absorção e integração), deveríamos somar duas vezes este número, obtendo desta forma o valor 358, que é a guematriah de Mashiach.


Segundo a Cabalá Contemplativa, para nos tornarmos Mashiach, devemos vivenciar esses dois níveis da experiência espiritual.


Acontece que há uma força de oposição no mundo, uma força autodestrutiva,


implantada dentro de nós, e que nos remete a um antigo opositor chamado Nachash, cujo valor também é 358.


Pode-se concluir com isso que os mesmos artifícios que permitem a construção de uma experiência iluminadora, também estarão presentes na construção de uma personalidade alienada.


O mesmo mecanismo que nos permite criar o engajamento necessário para salvar o mundo pode também, ser usado para tornar o mundo um lugar pior.


Toda forma de alienação, fanatismo e preconceito é uma forma também de refúgio e exige um tipo de absorção e integração de costumes destrutivos, uso de símbolos, ícones e regras próprias e subjetivas.


Mas o fato é que, à priore, não podemos distinguir a diferença entre o caminho perverso e o caminho de santidade. Ambos possuem sempre argumentos e boas razões para seus feitos.


Os sábios da Cabalá afirmam que, se os tzadiyquiym (justos) desejassem, eles poderiam criar um mundo.


Mas como é possível que a criatura, mesmo tão especial como um tzadiyc, possa


criar um mundo da mesma forma que o Criador?


Através de qual princípio espiritual isso se revelaria?


Os sábios afirmam que, se uma pessoa firmemente adere a Luz Infinita (D´us) completamente – por intermédio do Devekut – ela recebe a semelhança com a Luz, em termos de poder também criar um mundo.


No entanto, para destruir mundos e suas realidades, o homem não necessita de estar em semelhança com o Criador, bastando ligar-se a Nachash, mesmo que não saiba.


Sendo assim, o homem que não se liga com a Sabedoria Espiritual não compreende que ele tem o poder de criação da realidade com as suas palavras, pensamentos e ações.


Já, aquele que tem a Sabedoria Espiritual na sua boca, cria pois, um mundo


restaurado e iluminado. Por isso, o cabalista deve transformar a sua boca


(que é a porta da nefesh para Malkhut) em um recipiente que contenha a


Sabedoria Espiritual, espalhando desta forma a energia de restauração no


mundo.


Sabemos então que toda a iluminação ou obscuridade é trazida pela sua boca e emana verdadeiramente do ruach que sai por sua boca.


Uma declaração, uma frase, ou até mesmo uma pequena frase, tem o poder de


formação de um mundo através do ruach da pessoa, que tem por poder, dar


forma a coisas que povoam este mundo de Malkhut – que é o mundo da


“boca”.


Mesmo uma guerra pode ter início em uma frase mal empregada, uma sentença mal emitida, um decreto nebuloso.


Sabemos que os tzadiyquiym não só sabem deste poder inato do homem como detém também o conhecimento de como controlar a formação de realidades.


Quando o tzadiyc faz uso das 42 cidades refúgios (código para designar o


poder do Ana Becoach), ele tem a preciosa oportunidade de fortificar a Presença Divina neste mundo e desta forma ir de encontro do decreto destrutivo.


O poder da fala e das palavras é tão profundo e poderoso que até mesmo na


palavra mística – abracadabra – que é na verdade uma sentença em hebraico, vemos este princípio aplicado.


“Eu crio (A´bra) o que (ca) Eu falo (dab´ra)”.


Que possamos – por intermédio de nossas palavras e sentenças construtivas – construir um mundo que sirva de morada para Luz Infinita.


Que possamos usar palavras de amor, que unem e liberam todo o poder espiritual da Luz Infinita e remova a humanidade da escuridão do exílio que impede a consciência da unicidade.






Fonte: Academia de Cabala

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