A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quinta-feira, 15 de março de 2012

Armas de Guerra


 
Estamos propondo a fuga da maior prisão de segurança máxima jamais construída. Sendo assim, não é uma simples questão de se esgueirar quando o guarda estiver dormindo.
Nesta prisão, o guarda nunca dorme.
A fuga da prisão da vida se parece mais com um combate armado.
O Zohar chama nossa vida de zona de guerra, uma incessante batalha contra uma força negativa que opera dentro da nossa pele, dentro do nosso cérebro, dentro das nossas células, nos consigna à existência robótica, e depois como recompensa nos mata.
É um combate mortal pela causa da vida imortal.
Habitamos numa zona de guerra, nós que adentramos por esta porta que se abriu neste momento na consciência humana.
Ou nós somos reativos, mecânicos, marionetes do oponente, ou somos agentes proativos de nossa própria natureza Divina
Somos ou um ou o outro.
A cada momento da existência temos uma escolha de sistema operacional, e cada momento é uma oportunidade de promoção.
Há alegria a cada revelação de Luz, mas mesmo assim a realidade da guerra continua, a guerra básica nunca termina até nos tornarmos como Deus.
Estes textos, portanto, podem ser visto de uma outra maneira: são um arsenal de armas à disposição na luta por nossa alma, num campo de batalhas chamado nossa vida.
 
O Reconhecimento é a primeira arma.
Devemos reconhecer que vivemos numa prisão, e não num hotel de luxo, porque o reconhecimento provoca urgência, e somente com urgência o fervor para a fuga pode começar.
A Recusa é a segunda arma.
Somente na recusa em aceitar a morte e o sofrimento como realidades finais o poder da ação pode começar.
A Fórmula de Deus é a terceira arma.
Somente com absoluta clareza e concentração no objetivo final e nos meios para se chegar lá podemos abrir caminho através dos muros e nos tornar como Deus.
Desmascarar o Oponente é a quarta arma, porque ele enganará, confundirá e iludirá a cada volta.
A Certeza é a quinta arma.
Somente se houver certeza no potencial extraordinário de cada ser humano de se tornar como Deus pode ser atingida nossa meta.
A Vigilância contra o Conforto é a sexta arma, porque somente nos afastando da armadilha mortal do conforto e mergulhando com alegria no âmbito do desconforto podemos começar a destruição do ego e o compartilhar transformador.
Finalizar é a sétima arma, porque somente com um foco incessante e com a rememoração do objetivo final, e com a recusa em se contentar com qualquer coisa que seja menos que a transformação total iremos nos tornar como Deus.
 
Detestar o Ego
Certa vez, Rav Ashlag chocou seus alunos.
"Nenhum de vocês acredita realmente no que ensinei a respeito do ego", disse a eles. "Se tivessem acreditado em mim, vocês já teriam mudado."
Vocês já teriam mudado.
 
Mesmo após anos de trabalho com um grande cabalista, o infatigável ego resiste à conquista.
 
Por que ainda não mudamos?
Qual o segredo da durabilidade do Desejo de Receber Somente para Si Mesmo?
Por que nossa devoção ao ego é tão inabalável?
A resposta simples é: nós não o detestamos o suficiente.
Não achamos os males desencadeados pelo ego suficientemente repugnantes para fazer o que é necessário para nos transformarmos.
O Oponente nos hipnotizou, fazendo-nos crer que o cuidado e a alimentação do ego são o melhor para nós — quando na verdade isso acaba com nossas vidas.
Nesta batalha, nossa vantagem esta na natureza de nossa essência de automaticamente rejeitar tudo que percebe como negativo
Assim é vitalmente urgente reconhecer a negatividade.
Nosso trabalho não é tanto nos livrar da negatividade, mas simplesmente enxerga-la.
O processo de enxergá-la é sinônimo de expulsá-la.
Se as pessoas realmente soubessem que toda vez que ficam zangadas estão cometendo suicídio nunca mais ficariam zangadas
Isto torna a jornada para se tornar como Deus mais uma questão de enxergar, e menos uma questão de fazer.
E continuamente ficar chocado com cada novo pedaço de ego que enxergamos, mesmo quando o mundo inteiro nos louva por nossa humildade.
 
O quanto devemos abominar o ego?
 
Alguém certa vez se dirigiu a um grande cabalista:
"Preciso lhe contar que, há alguns meses, um de seus alunos agiu de uma forma incrivelmente repulsiva."
Ouvindo o nome do aluno, o cabalista respondeu: "Zushya é uma das pessoas mais espirituais que possa existir. Não posso crer que ele tenha agido mal. Conte-me a história."
"Bem, era para acontecer um casamento em nossa cidade", o homem relatou, "e no dia da cerimônia a mãe da noiva perdeu o dote. A cidade inteira estava emocionada com o casamento, mas agora que ele teria que ser cancelado todos estavam tristes e algumas pessoas ficaram discutindo e brigando - foi horrível.
De repente, este homem entrou no salão do casamento, se apresentou como Zushya e anunciou que tinha encontrado o dote. Você pode imaginar o quanto todos ficaram aliviados, principalmente a noiva e sua família.
Estávamos todos contentes, mas logo nosso contentamento virou indignação. Zushya disse: 'Se vocês querem o dote de volta, devem me pagar uma gratificação de 20% pelo achado.'
"Olhamos para ele pasmos. 'Você está louco?', eu disse. 'Que tipo de homem poderia pedir uma gratificação numa circunstância como essa? Simplesmente devolva a ela o dinheiro.' Mas ele insistiu que não devolveria o dinheiro sem antes receber seus 20% de gratificação.
"As coisas foram de mal a pior. Começou uma briga. A família da noiva bateu em Zushya e arrancou o dinheiro de seus bolsos. Depois, nós o agarramos e o expulsamos da cidade. E, francamente, nem posso dizer que o que fizemos foi errado, afinal que vigarista agiria assim?"
"Deve haver alguma explicação. Deixe-me conversar com Zushya e descobrir o que aconteceu", disse o cabalista.
"Foi assim", Zushya explicou. "Minha filha estava para se casar e, como sou pobre, não tinha fundos para seu dote. Viajei de cidade em cidade para conseguir algum dinheiro. Depois de dois meses de trabalho duro, _final-mente consegui arrecadar a quantia de que precisava e estava voltando para casa quando passei por esta cidade na qual todos estavam tão tristes e desconsolados. Perguntei o que tinha acontecido e me contaram a história do dote perdido. Decidi fazer uma grande ação de compartilhar e dar para a família da noiva o dinheiro que eu tinha arrecadado para minha filha. Descobri exatamente quanto dinheiro tinha sido perdido e o valor das notas, e planejei entregar o dinheiro para a família fingindo tê-lo encontrado. Todavia, quando eu estava indo para o salão do casamento, de repente o Oponente começou a falar comigo. 'Zushya', ele disse, 'você é um sujeito tão bom. Quem mais no mundo seria capaz de fazer o que você está fazendo? Você não tem dinheiro nenhum, trabalhou duro meses para arrecadar o dinheiro para o casamento da sua filha, e agora você dá tudo para a família da filha de alguma outra pessoa que você nem conhece. Você deve ser a pessoa mais generosa do mundo.'
"O Oponente continuou falando assim, e eu pude sentir meu ego crescendo cada vez mais, então disse para mim mesmo: 'Quero fazer esta ação de compartilhar com esta família, mas não posso deixar meu ego receber todo o crédito.' Assim, procurei um jeito de dar o dinheiro para a família da noiva e ao mesmo tempo dar uma bela surra no meu ego. Foi então que me veio a idéia de pedir 20% de gratificação por ter encontrado o dinheiro. Eu sabia que eles nunca me dariam este valor e que eu seria expulso em desgraça da cidade."
 
O ego comanda.
Ele mandou o homem da história não dar seu dinheiro.
Depois mandou-o receber crédito por sua generosidade.
Mas Zushya estava na guerra, e a aversão ao ego foi uma arma que não falhou.
 
Compartilhar Ridiculamente
Quando vivemos na natureza do ego, compartilhar é um ato não natural. Compartilhar viola a necessidade fundamental de sobrevivência do ego: eu quero para mim mesmo.
Trata-se de um poço fundo e escuro, uma coceira que não dá para coçar, um anseio sem fundo fadado a jamais ser preenchido.
Tornar-se como Deus começa com se comportar corno Deus, e isso significa se transformar num ser que compartilha.
Parece lógico, portanto, que sendo compartilhar o caminho para a transformação e sendo a transformação a rota de fuga da morte e do sofrimento, deveríamos correr para compartilhar com o ardor de um condenado fugindo de uma prisão.
Veríamos uma pessoa em necessidade da mesma maneira como um prisioneiro vê uma lima de ferro.
Quanto mais compartilhamos mais nos aproximamos da luz do Sol por trás dos muros prisão.
Quanto mais desconfortável mais rápido chegaremos lá.
É o princípio do crescimento.
Os pesos que levantamos com facilidade não nos dão forças como os pesos levantados com esforço.
Ser bom, doar para a caridade e dar dinheiro para mendigos são atos de compartilhar seguramente incrustados em nossa zona de conforto, e, sendo assim, os bíceps de nossa natureza divina só crescem um pouco.
Compartilhar exorbitantemente inesperadamente. Quando é um sacrifício fazê-lo, quando vai contra nossa natureza fazê-lo, quando alguém admira a nossa caneta favorita e dizemos "fique com ela" — é aí que começamos a nos tornar como Deus.
 
Na Bíblia, Abraão queria encontrar uma esposa para seu filho, Isaac, e para isso mandou seu empregado, Elazar, a uma determinada cidade para procurar pela mulher certa.
O empregado levou dez camelos e, chegando à cidade, fez com que se ajoelhassem num poço ao anoitecer, a hora em que as mulheres vinham tirar água.
Ele rezou para Deus: "Faça com que a donzela a quem eu disser 'por favor, vire seu jarro para que eu possa beber', e que responder 'beba e darei água também para os camelos' seja a nora designada para meu mestre."
Nem bem ele terminou de rezar e uma linda donzela, Rebeca, surgiu com um jarro no ombro.
Ela desceu para a fonte, e Elazar correu para ela e disse: "Permita, por favor, que eu beba um pouco de água do seu jarro."
Ela respondeu: "Pode beber à vontade", e quando terminou de dar de beber a ele, ela disse: "Tirarei água também para seus camelos até eles se saciarem."
Imediatamente, Elazar entendeu que sua oração tinha sido respondida e que ele tinha encontrado a alma gêmea de Isaac.
 
A história de Rebeca é uma representação do compartilhar transformador.
É fácil oferecer água para um estranho, é absurdo oferecer água para toda sua manada de camelos.
A menos que a ação tenha por trás uma intenção consciente, que é despertar a divindade dentro de si próprio. Neste caso, o compartilhar é feito para si mesmo e não para o recebedor.
Rebeca estava operando no nível de intenção consciente de se tornar como Deus, e por isso foi considerada uma parceira digna para Isaac.
O que distingue o compartilhar normal do compartilhar transformador não tem nada a ver com o que está sendo compartilhado.
A consciência e a dificuldade por trás do ato determinam sua carga de Luz.
Um dólar dado com um desejo consciente de crescer, de se tornar como Deus, é um ato de compartilhar transformador.
Um legado de 10 milhões de dólares, dado para obter autoglorificação, fama e mais poder, não é.
A única regra que podemos seguir é que nossas ações devem nos mover na direção de nos tornarmos como Deus  
 
Agora. E agora. E agora.
A maior arma que temos na guerra da transformação é o momento presente, porque cada segundo que vivemos é uma oportunidade.
Cada incidente irritante é uma oportunidade de abraçar o desconforto e lascar mais um átomo de ego.
Cada encontro é mais uma oportunidade de confrontar o egoísmo e compartilhar com alguém
Esta é a vitória da trivialidade, porque cada momento é trivial, e é no trivial e no modesto que a transformação é conquistada.
Gestos grandiosos e momentos dramáticos não duram.
O que dura é o agora e o agora e o agora.
É no agora que aqueles que completarão a jornada são separados dos que não completarão.
É agora que nos lembramos de nossa natureza e objetivo.
Estamos aqui para nos tornar como Deus e agora não esqueceremos, como não nos esqueceremos que o que se apresenta para nós é exatamente o que precisamos para avançar em nossa jornada.
Não existe 'vou esperar que isso passe para voltar a minha tarefa, de me tornar como Deus’.
Não há desvio
Cada curva e bifurcação na estrada é a estrada em si.
Alguém nos pede café, e nos apressamos em ir pegar.
Mas não nos esquecemos do motivo por que o fazemos.
Não porque a pessoa gostará de nós, não para parecermos espirituais, mas porque essa ação de compartilhar despertará nossa natureza divina.
O quanto mais nos lembrarmos, quanto mais permanecermos conscientes, mais intensa a transformação.
Alguém fura a fila na nossa frente.
Queremos reagir com raiva.
Não reagimos, porque sabemos que fazendo a restrição quebraremos mais uma barreira entre nós e Deus.
Desta maneira passamos a entender a verdade sobre o sacrifício.
Damos a isso o nome de sacrifício porque acreditamos estar abrindo mão de algo de valor.
Porém, através do sacrifício, estamos na verdade abrindo mão apenas dos pensamentos e ações tóxicos do nosso Desejo de Receber Somente para Si Mesmo.
 
Faça-o neste instante, e no próximo instante, e no seguinte.
Faça-o com a topada no pé e com o café frio e com alguém furando a fila.
Sua vida depende disto.
 
Deteste o Ego.
Compartilhe Ridiculamente.
Agora.
E Agora.
E Agora.
 
Por: Michael Berg

Nenhum comentário:

Postar um comentário