A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sábado, 10 de março de 2012

O Espaço Espiritual da Alma


O Espaço Espiritual da Alma 

De acordo com a tradição da cabalá, o Néfesh, o Rúach e a Neshamá são apenas três aspectos gerais da totalidade da realidade.
O Néfesh contém, por sua vez, diferentes aspectos, já que os instintos possuem também sua parte emocional e mental.
O mesmo acontece com o Rúach e a Neshamá.
O "mapa espiritual da realidade" representa uma das formas através das quais a cabalá nos transmite os diferentes aspectos que formam o homem e a Criação. Devemos entender que a realidade e a vida são dinâmicas, e estão além de esquemas e termos.
O estudo preliminar da cabalá baseia-se no conhecimento do significado da terminologia para ascender, posteriormente, à mencionada realidade.
Da mesma forma que um músico lê uma partitura, ou um cientista decifra uma fórmula, assim também o iniciado interpreta o sentido correto dos textos quando conhece o significado completo de cada um dos termos da linguagem da cabalá.
Néfesh, Rúach e Neshamá são os aspectos da alma que estão dentro do âmbito, do tempo e do espaço, já que os instintos, as emoções e os pensamentos ocorrem temporal e espacialmente.

Atsmut
A Essência

Ein-Sof
O Infinito

Or Ein-Sof
A Luz do Infinito

Tsimtsúm
Contração do Desejo de Receber a Luz do Infinito

Neshamá

Alma

Olamot (Mundos)                               Orot (Luzes)
Graus de Ocultamento da Luz       Graus de Revelação da Luz da Alma

Adam Kadmón  Atsilút                        Iechidá        Chaiá

----------Tempo-Espaço----------

Briá                                           Neshamá

Ietsirá                                       Rúach

Assiá                                         Néfesh


Existem outros aspectos da alma — em hebraico Chaia e lechidá — que estão além da influência do tempo e do espaço, e estão relacionados com seus aspectos mais interiores, como o desejo, a vontade e o prazer.
A vontade e o prazer estão além do pensamento, da emoção e dos instintos, sendo eles a força motora que move os homens.
O pensamento discerne entre os diferentes aspectos de nossa vontade, para conseguir apreender o completo, a plenitude que se expande desde a Essência do Criador/ Atsmút.
Observamos em nosso "mapa" que a origem da alma está no Infinito/Ein-Sof, como nos transmite a Sabedoria da cabalá:
Antes da Criação, a plenitude da Luz Infinita preenchia toda a realidade, e não havia espaço para que o vício, e nem a necessidade, se manifestassem. ("Ets Chaím")
Ao nível de nossa percepção, diríamos que a plenitude satisfaz todos os nossos pensamentos, emoções e desejos, de modo que não reste nenhum outro aspecto da realidade que possa surgir e atrair nossa atenção.
Antes que surja qualquer desejo ou vontade, a plenitude da Luz Infinita o preenche, assim como ocorre com um feto no ventre materno, recebe alimento e calor antes mesmo de desejá-lo.
Sem a consciência do desejo, estaríamos plenos, uma vez que, antes de surgir qualquer desejo, a plenitude o satisfaz.
É como a história do príncipe que vive no palácio de seu pai, o rei.
Nada lhe falta.
Tudo o que pertence ao rei lhe pertence, porém ele não é o rei.
Portanto, e continuando o texto do "Ets Chaím", surge o tsimtsúm/contração do desejo de receber a plenitude da Luz Infinita.
O príncipe deseja ser igual a seu pai, o rei, mas para isso deverá deixar o palácio e criar o seu próprio reino.
Em conseqüência da contração do desejo de receber/ tsimtsúm, a plenitude da Luz Infinita oculta-se deixando um vazio dela mesma.
Isto ocorre porque não há imposição no terreno espiritual; portanto, o tsimtsúm permite o surgimento do livre arbítrio e que possamos optar pela Luz — o bem — conforme nossa vontade, e não por imposição.
Nosso príncipe sai do palácio e surge o desejo e a consciência de tudo o que possuía dentro do reino.
Agora, o príncipe começa a compreender seu pai, uma vez que, frente à carência, toma consciência do valor de tudo o que possuía e da grande responsabilidade que implica ser rei.
Como resultado do ocultamento do completo, aparece o desejo.
O desejo estava incluído no estado anterior, mas não tinha a possibilidade de se manifestar, pois a plenitude infinita acumula o desejo sem deixar espaço para que ele se manifeste.
No palácio, o príncipe tinha desejos, mas o rei satisfazia a todas as suas necessidades, e o príncipe não tinha consciência do que possuía.
Ao deixar o palácio, surge no príncipe o desejo de voltar a possuir o que já era dele, só que agora é por sua própria necessidade e não porque seu pai lhe dava.
O estado do Infinito/Ein-Sof inclui a Luz (plenitude) e o desejo de receber a Luz em equilíbrio, mas como a Luz preenche o desejo, consequentemente não o percebemos.
Isso é análogo ao verdadeiro amor que unifica sem deixar espaço para que outro sentimento o extingua.
Depois do tsimtsúm/contração do desejo de receber, aparecem os dois estados de forma independente: a Luz-plenitude e o desejo de receber a Luz.
Depois que o príncipe deixa o palácio, surge a nostalgia de sua vida anterior.
Esta nostalgia é o que faz o príncipe querer recuperar a mencionada realidade.
O espaço criado pelo desejo, a nostalgia da Neshamá em recuperar o estado da plenitude/Ein-Sof, é a Criação.
A Criação é o processo gradativo que aproxima o desejo à plenitude da Luz, até unificá-los novamente, como no estado de Infinito/Ein-Sof, antes do tsimtsum.
Qual é a finalidade de voltar a realizar o que já existia antes da Criação?
Como vimos: "Antes da Criação, a Luz do Infinito preenchia toda a realidade".
Esse processo é necessário para a vontade e o desejo da Neshamá, sendo que na Luz, na plenitude, não há absolutamente nenhuma mudança ou movimento.
A Luz é completa por si mesma.
Pelo contrário, ao perder a plenitude da Luz, o desejo da Neshamá deve tentar reconstruir o estado do Infinito conforme sua própria necessidade, e não receber a Luz por imposição como ocorria antes da Criação.
Um exemplo claro para entender esses conceitos é a relação entre pais e filhos. Quando o filho deixa a casa dos pais e forma uma família, ele aprende a ser independente e auto-suficiente como sempre quiseram seus pais, passando a ser esta sua própria necessidade e não, como era anteriormente, apenas o desejo de seus pais.
"Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne."
Gênesis 2:24
Os filhos entendem os seus pais quando, eles mesmos, tornam-se pais.
O homem começa a compreender o Criador quando, ele mesmo, torna-se um criador, isto é, quando dá.
O desejo da alma toma consciência da Luz quando dela necessita por sua própria vontade e consciência, e não por imposição.
A independência do desejo com respeito à Luz gera novos espaços espirituais, indicados em nosso "mapa" pelos 3 mundos: Beriá, Ietsirá e Assiá, que indicam os diferentes graus de recepção da Luz Infinita.
Os estratos da alma, também denominadas graus de Luz, mostram os graus de aproximação do desejo em direção à Luz.
Na linguagem da cabalá, o desejo é chamado Klí e a Luz, Or.
Os 5 graus da Luz/Or e os 5 mundos/olamot que recebem essa Luz estão situados em nosso "mapa" um frente ao outro, indicando assim a relação direta de cada grau de Luz/Or com seu respectivo espaço e mundo.
O tempo e o espaço só se manifestam a partir dos 3 mundos inferiores: Beriá, Ietsirá e Assiá.
Isto acontece uma vez que os 2 estratos superiores da alma — a vontade (Chaiá) e o prazer (Iechidá) — encontram-se além da influência temporal e espacial.
Isso porque a vontade e o prazer da alma não dependem de mudanças; são permanentes. A alma só deseja unificar-se com a plenitude da Luz, assim como o amor que une o homem e a mulher para criar e dar de si mesmos.
Mas quando a vontade e o prazer revestem-se de pensamentos, sentimentos e ações, começa a movimentação em busca da plenitude da Luz nos 3 mundos inferiores, Assiá, Ietsirá e Beriá.
Isso produz movimento a nível humano, gerando assim tempo e espaço.
A cabalá, através do estudo da Torá e aplicação das Mitsvót, baseia-se no desenvolvimento de todos estes aspectos, orientados para um objetivo fundamental: guiar o desejo, a vontade e o prazer do homem para o bem coletivo "Amarás a Teu Próximo Como a Ti Mesmo."

Por: Chaim David Zukerwar

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