Uma das armas mais poderosas do Satan é o tempo.
O tempo é uma ilusão.
Ele não existe no Domínio do 99% e não tinha lugar antes de o Receptor resistir, antes que as cortinas caíssem.
No Domínio do 1% no qual vivemos, o tempo cria a distância entre causa e efeito, entre ação e reação.
É o espaço entre a atividade e a repercussão, a separação entre o crime e a consequência.
Sem a ilusão do tempo, o passado, o presente e o futuro se dobrariam num único todo unificado. É assim que o Domínio do 99% funciona.
Lá não temos problema para detectar causa e efeito.
O caos se dilui.
Sei que essa ideia do tempo unificado parece inconcebível.
Na verdade, no entanto, apenas os limites de nossa consciência nos impedem de ver o ontem e o amanhã neste exato momento!
Imagine um prédio de 30 andares.
Você está no 15° andar, que representa o momento presente.
Os andares de 1 a 14 representam o passado. Os andares de 16 a 30 representam o seu futuro.
O que você está percebendo agora, com seus cinco sentidos?
Apenas o 15° andar.
Você não consegue ver os andares abaixo nem acima.
Então, sua mente lógica (lembre-se a quem a lógica pertence) o convence de que o 15° andar é tudo que pode existir. Mas a verdade é que todos os andares - passado, presente e futuro — existem igualmente como parte de um prédio.
Se você pudesse flutuar para fora do 15° andar do prédio, veria todos os 30 andares ao mesmo tempo!
Que bela lição isso seria!
O tempo é a fonte de muito de nosso sofrimento. O passado nos assombra, nos enchendo de tristeza ou arrependimento. Gostaríamos de revivê-lo para consertar as coisas ou simplesmente curtir tudo de novo.
Ver o tempo como algo que passa pode fazer com que o tempo pareça insuportável. Apesar de reconhecermos que este é o único momento em que vivemos, raramente permitimos que nossa mente permaneça ali.
Mas, ao contrário, revivemos constantemente o passado ou antecipamos o futuro. Num certo sentido, estamos, dessa forma, criando um todo unificado, mas este todo tem por base o medo e não a alegria, e ela não é duradoura.
O futuro aterroriza a muitos.
Vemos o futuro como uma saída para nosso presente pouco satisfatório, mas também ficamos inseguros se ele vai se realizar da forma como desejamos.
O futuro está constantemente aqui, mas somos incapazes de nos conectar de verdade com ele. No tempo que levou para você ler o parágrafo anterior, por exemplo, o seu futuro se tornou o seu presente e depois se tornou seu passado de novo.
Mas você se sente diferente?
Sua vida melhorou?
Ou piorou?
Se pudéssemos aceitar a ideia de existências simultâneas, descobriríamos que muitas de nossas demandas e expectativas se diluiriam — e com elas, muito do nosso sofrimento.
Quando eu estava na escola, foi diagnosticado um câncer numa amiga de meus pais e os médicos lhe deram poucas esperanças de vida. É claro que, para ela, as primeiras semanas convivendo com essa notícia foram as mais dolorosas.
Às vezes ela parecia estar com muita raiva e às vezes terrivelmente triste.
Mas não muito tempo depois, lembro-me de conversar com ela e ficar surpreso de achá-la bem feliz. Ela me disse nunca ter se sentido tão viva, que ela não deixava mais que os pensamentos do passado ou do futuro a distraíssem do que estivesse se apresentando diante dela naquele exato momento.
Como cada momento parecia precioso para ela, todas as pessoas na vida dela se tornaram especialmente preciosas também.
Esta história não é rara.
Quando as pessoas são confrontadas com a morte, elas quase sempre ficam hiperconscientes de seu presente. A amiga de meus pais me confidenciou que ela achava que o câncer tinha sido o maior presente que já recebera.
Ele a tornou agudamente consciente de que o tempo era algo que normalmente usamos para evitar estar no presente de forma total.
O trabalho que você está fazendo com esses textos não é fácil.
Você está enfrentando seus medos e está buscando a coragem para transformar esse medo em Luz. Não é pouca coisa.
Você talvez já tenha experimentado momentos em que sua mente ficou cansada ou superativada por outros pensamentos.
Ao se aproximar demais de certas verdades, talvez tenha sentido uma vontade premente de ir dormir ou talvez tenha se achado revivendo mentalmente uma conversa com um amigo ou planejando como obteria dinheiro o bastante para comprar algo que quer.
Este é o Oponente trabalhando, arrastando-o para o passado e mantendo-o lá, rememorando o que você disse, ela disse ou ele disse — ou o convencendo a habitar no futuro, vislumbrando como sua vida seria melhor se você tivesse isso ou aquilo.
Em cada situação, ele está sacudindo uma cenoura e a cada momento corremos atrás disso.
Vamos todos morrer.
É muito fácil esquecer isso, especialmente quando somos jovens.
E, com certeza, seus amigos podem considerá-lo mórbido se você gastar tempo demais pensando nisso! Mas fiquei espantado como a amiga de meus pais ficou tranqüila quando percebeu que seus dias estavam contados.
Os dias estão contados para todos, mas raramente sabemos quanto tempo nos resta. A amiga de meus pais continuou a viver por muitos anos mais e, apesar de ter seus altos e baixos, nunca perdeu o rico senso de valorização da vida que a aceitação da morte lhe tinha dado.
Experimente treinar sua mente para ficar neste momento.
Este aqui, bem agora.
Não se esquive.
Não reflita demais.
Só vivencie a experiência.
Observe as sensações no seu corpo.
A temperatura na sala.
A superfície sobre a qual está sentado.
O ruído vindo da rua.
Observe seus pensamentos sem julgá-los.
Você só está aprendendo a ser você mesmo.
Esta é uma ferramenta valiosa para a transformação.
O Satan não quer que sejamos nós mesmos. Ele quer que nossa mente se disperse pelo passado, presente e futuro — uma linha do tempo que se estende feito roupa suja largada no chão do quarto.
Assim não estaremos em boas condições para o combate.
Então, para contrariá-lo, precisamos nos ancorar.
Comece agora.
Comece aqui.
Se sua mente vaguear, deixe-a ir. Mas reconheça onde ela está indo.
Conscientize-se de que é o Oponente afastando-o de seu verdadeiro caminho. Considere esse tempo meramente como uma arma em seu extenso arsenal.
Não só o Oponente usa o tempo como um meio para nos distrair do presente todo-poderoso, mas ele também usa sua qualidade de postergação para apoiar a ideia de que más ações não são punidas e boas ações não são recompensadas.
O vizinho que molestou a irmã menor de seu amigo escapa de uma investigação, enquanto que o carro da sua tia, usado para distribuir alimentos para aidéticos, é roubado depois que ela cancelou o seguro por falta de condições de pagá-lo.
Por causa desse atraso, também temos dificuldade em perceber a interconexão entre todas as coisas.
Há dez ou quinze anos, talvez tenhamos plantado uma semente negativa com uma palavra grosseira ou um ato de crueldade, mas, quando a semente brotar, já teremos esquecido todo esse episódio. Por fim, algo desagradável "de repente" surgirá do nada.
Mas, como já sabemos, tudo tem um motivo; sempre há uma causa.
O caos parece ser repentino porque o tempo separou a causa e o efeito.
Pode ser que o estuprador de quem falamos tenha plantado uma boa semente muito antes de embarcar em sua viagem destrutiva atual — talvez até em outra vida. Isso simplesmente passou a dar frutos durante o processo judicial, fazendo crer que foi só sorte. (Num certo ponto, todos precisamos enfrentar as conseqüências de nossos atos — grandes ou pequenos, bons ou maus. Pode levar dias, semanas, meses, décadas ou até vidas, mas as repercussões são inevitáveis.) Dessa forma, o Satan usa o tempo para fomentar a dúvida.
Se vemos alguém cometer um ato cruel e se safar, isso pode nos fazer pensar se há algum mérito nessa história de Cabala afinal.
Que tipo de sistema espiritual ou social permite que homens maus como o estuprador saiam ilesos?
Uma coisa para se guardar na cabeça é que é impossível saber se você está vendo uma semente boa ou ruim dando frutos.
Quando o estuprador escapa da prisão, por exemplo, isso pode parecer um bom desdobramento ao vê-lo sair andando livre de volta para casa. Mas se, ao chegar lá, o pai da menina estuprada o esfaqueia várias vezes e o deixa sangrando lentamente até morrer na calçada, sua libertação pode não parecer um desfecho afortunado no final das contas.
O Oponente também desafia a nossa fé atrasando o acesso à Luz.
Se resistirmos a uma reação, mas a Luz não brilhar de imediato, podemos ficar decepcionados ou talvez duvidemos da autenticidade destes ensinamentos.
No exemplo da tia cujo carro foi roubado, você pode ficar com muita raiva.
Onde estão os frutos de suas boas ações? Mas se sua tia tivesse dirigido o carro no dia seguinte, ela poderia ter se envolvido num terrível acidente ou o carro poderia ter quebrado e a deixado sozinha num lugar violento.
Se reagirmos ao atraso do Satan, começaremos a duvidar do que sabemos ser verdade. Como o tempo separa a causa do efeito, ele cria uma ilusão convincente de espaço.
Se você colar no teste de matemática, o caos pode surgir na sua vida social e não nos estudos.
Se você mentir para a sua mãe, o efeito pode ser visto na diminuição de seu desempenho esportivo.
Você pode perturbar seus colegas de turma durante todo o ensino médio e ninguém ser cruel com você. Mas isso não quer dizer que você tenha escapado do efeito de suas más ações. Elas podem se manifestar daqui a 20 anos, quando estiver vivendo em outro continente, na forma de uma queda das ações na bolsa de valores em que você perde toda a sua fortuna.
Por outro lado, fazer trabalho voluntário no abrigo de animais abandonados não significa que os animais vão ser bonzinhos com você pelo resto de sua vida.
Talvez eles sejam ou talvez você esteja plantando uma boa semente que irá brotar no verão como as melhores férias de sua vida.
Quando a Luz que geramos por meio de um comportamento proativo na escola se materializa em casa, o Satan nos distrairá a ponto de não percebermos como de repente passamos a nos dar bem com nossos pais. Quando a Luz não se materializa como uma companhia para a festa de formatura ou como uma eleição para o grêmio estudantil, pressupomos que nosso comportamento proativo não está funcionando.
O Oponente limita nossa visão e foca nossa atenção em situações que alimentam nosso ego.
A maior força do Satan reside em seu poder de nos confundir.
Ele nos faz esquecer que ele é o Oponente.
Ele nos convence que nossos amigos, nossa família, nossos vizinhos são o Oponente. Ou nosso mestre. Ou a criança que acaba de se mudar para o apartamento ao lado. Ou a garota que fez gozação de nosso casaco novo.
Ou o garoto que nos convidou para sair quando não tínhamos certeza de que queríamos que ele fizesse isso.
Quando as coisas não caminham como gostaríamos, é hora de se lembrar de não culpar as pessoas ou os acontecimentos.
Na próxima vez que sentir que foi enganado, imagine o Oponente em pé diante de você, sussurrando seu roteiro atormentador em sua orelha.
Veja essa pessoa caindo nas garras do Oponente habilidoso.
E imagine o Oponente rindo e se fortalecendo no caos que ele está desencadeando. Ele está se divertindo como nunca, isso é certo!
A única maneira de estragar o seu show é não reagir.
Lembre-se da regra dos três Rs: Resistência, Resistência e Resistência.
Quando os cabalistas falam de Luz com "L" maiúsculo, estão se referindo à Luz infinita do Criador. Quando falam de Luz com "I" minúsculo, estão se referindo à luz convencional como a luz do sol ou a luz de uma lâmpada.
Mas tanto a Luz quanto a luz têm a mesma capacidade de fornecer iluminação. Uma lâmpada gera luz usando três componentes: um pólo positivo (+), um pólo negativo (-) e um filamento separando o (+) do (-).
Dentro da lâmpada, o filamento realmente desempenha o papel mais importante: ele age como uma resistência elétrica, empurrando de volta a corrente que flui vinda do polo positivo e evitando que ele se conecte diretamente com o polo negativo. Essa resistência, ou ato de empurrar a energia de volta, é a causa do acendimento da lâmpada.
Agora pense no Receptor como sendo o polo negativo, a Luz como sendo o positivo e o filamento como o ato de Resistência do Receptor.
Ao resistir consistentemente, o Receptor teve acesso a sua maior fonte de realização: ser o criador de sua própria Luz!
É exatamente isso que estamos tentando fazer.
Ao resistir consistentemente, seremos capazes de manter uma Luz duradoura.
E não apenas lampejos vez por outra (todo mundo sabe como é frustrante quando uma lâmpada fica piscando), mas uma Luz constante.
Essa Luz não depende de tempo e espaço.
Nem depende do Oponente.
Por: Yehuda Berg
Nenhum comentário:
Postar um comentário