A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sábado, 31 de março de 2012

Somente Consertando a Si Mesmo Você Pode Mudar os Outros


Conheci um garoto no ginásio que sempre queria algo de mim.
Gostava do fato de que achava um tempo para conversar comigo e sempre me fazia perguntas investigativas sobre minha vida que me faziam sentir como se ele realmente se importasse comigo.
Invariavelmente, no entanto, ele precisava pegar um lápis emprestado ou tinha esperança de pegar uma carona com minha mãe, ou, numa ocasião, queria pegar emprestado o único suéter realmente bonito que eu tinha para usar para ir a um jogo de futebol para falar com uma garota de quem ele gostava.
Esse garoto nunca me agradeceu por nada que lhe emprestei nem por nenhum dos esforços que fiz para ajudá-lo.
E, por mais que pegasse coisas emprestadas, nunca parecia satisfeito.
O mesmo acontecia com minhas boas ações.
Ele era insaciável e estava ficando exausto e frustrado por tentar atender a suas necessidades.
Conforme as semanas e os meses passaram, fui ficando cada vez mais chateado com esse garoto.
Peguei-me fazendo uma lista mental de todas as formas como tirava vantagem de mim. Para falar a verdade, ele era um cara legal, mas tão carente! E tão ingrato. Nessa mesma época, se não havia treino de basquetebol depois da aula, eu costumava passar o resto do dia no Centro de Cabala conversando com as pessoas que iam lá. Gostava de passar o tempo com essas pessoas, que eram extremamente gentis e com frequência notadamente instruídas.
Como já disse, sempre me senti deslocado na escola, mas não me sentia assim com esse grupo.
Sentia-me confortável conversando com elas sobre tudo que estava me perturbando.
Lembro-me de um homem, com quem quase sempre conversava sobre meus maiores medos e esperanças, falando com grande afeição: "Yehuda, você quer tanto da vida. Você é como um enorme poço que nunca vai ficar cheio até a borda, porque tem um vazamento bem lá no fundo."
Naturalmente, fiquei tão impressionado com essa observação que comecei a evitar esse homem, a quem sempre recorria em busca de conselhos.
Nesse ínterim, na escola, meu amigo quis copiar meus apontamentos do laboratório de ciências e trocar parte do almoço comigo e me convencer a ir a uma festa com ele porque o capitão do time de hóquei estaria lá.
E, por algum motivo, quanto mais ele andava atrás de mim na escola, mais difícil era encarar o homem no Centro!
Por fim, nos meus estudos com meu pai e meu irmão, cheguei às ideias expostas neste texto.
E quando isso aconteceu, uma lâmpada acendeu na minha cabeça!
Reconheci o mesmo comportamento em meu colega que estava exibindo no Centro de Cabala.
Apesar de não ter sentido que estava sendo carente nas minhas interações lá, tinha desenvolvido uma expectativa de que essas pessoas sempre estariam prontas para me ajudar, que sempre me ouviriam e sempre me ajudariam.
Agora se entende por que não tinha sido capaz de encarar aquele homem!
Pensei que ele estava zangado comigo, mas eu estava simplesmente tentando me esquivar de um aspecto de mim mesmo que não tinha tido a astúcia de observar. Reconhecer nossos traços negativos nunca é fácil.
É muito, muito mais fácil apontar os defeitos nos outros e reclamar deles. Reconhecer esses traços em nós mesmos pode ser embaraçoso, frustrante e até doloroso.
 
É por isso que precisamos ser extremamente gentis conosco mesmos durante o processo.
Lembre-se de que nenhum desses passos se refere ao julgamento.
O julgamento é um comportamento reativo mesmo quando o aplica a si mesmo. Observe-se com candura.
Se estiver tendo dificuldade de se enxergar com clareza nesse ponto, observe os traços nos outros com os quais mais luta.
É provável que você tenha algumas variações dessas características em você mesmo.
Descobrir essas características não é motivo de vergonha, mas de comemoração. Sem obstáculos — que são o que nossos traços negativos são —, não teríamos nada para transformar e, em consequência, ficaríamos afastados da Luz. Reconhecer os obstáculos — assumindo responsabilidade por eles e aplicando esses passos a eles — é desafiador.
Mas, se não fizermos isso, ficaremos presos em nossas prisões infelizes.
Que alívio descobrir que detemos a chave e agora sabemos usá-la!
Quando discuti meu insight com meu pai, ele me lembrou que eu não deveria me esforçar demais para localizar meus traços negativos e transformá-los.
Temos que ficar atentos para não deixar nossos egos se sobressaírem e nos encorajarem a embarcar numa caçada às bruxas espiritual, tendo nossas próprias almas como meta.
As características negativas são humanas.
Elas são oportunidades para nos transformar, não oportunidades para nos sentirmos mal a respeito de nós mesmos.
Meu pai comparou os traços de personalidade negativos a um espelho que refletia todos os nossos instintos reativos de volta.
Imagine que o espelho se quebrasse, disse meu pai, em 1.000 pedacinhos que flutuassem para o universo. Todas as pessoas negativas, todas as situações negativas e obstáculos que você enfrenta, todas as coisas que vê de errado nos outros, são meros pedaços desse espelho.
Quando você se esforça para transformar uma parte em particular de sua personalidade, um dos fragmentos do espelho refletirá essa mudança!
Então você começará a ver os aspectos positivos de outras pessoas.
E situações na sua vida começarão a mudar para melhor.
Não há nada a fazer para realmente mudar um outro ser humano. Podemos oferecer ajuda nos níveis físico, mental, emocional ou espiritual; podemos tentar influenciar pessoas de maneiras que achamos que irão beneficiá-las; e podemos tentar agir de uma forma e tomar decisões que serviriam como modelos positivos. Mas, em última instância, não podemos transformar os obstáculos dos outros — mesmo que os amemos mais do que qualquer outra pessoa neste planeta.
Isso é importante que se entenda.
Gastamos muito tempo tentando transformar os outros, por motivos que vão de gentileza até controle. Mas, independentemente de nossa motivação, tentar mudar uma outra pessoa é uma batalha perdida. (Pense como é difícil mudar a si mesmo, a pessoa que você conhece melhor na face da terra!)
E mesmo que você pudesse mudar alguém, você só o deixaria com Pão da Vergonha. Eles precisam aceitar a mudança por si sós.
Muitas pessoas se desgastam tentando mudar as outras e, no processo, esquecem de si mesmas.
 
Conheci uma moça no Centro de Cabala chamada Virginia.
Enquanto estava na escola, Virginia começou a namorar o Ed, por quem era louca. Encontrei-o duas vezes e ele era muito legal. Era inteligente, engraçado e extremamente carinhoso com ela.
Era evidente que tinham grande afeição um pelo outro.
Mas Ed bebia demais. Se iam a festas juntos, Virginia ficava com medo de voltar para casa com ele dirigindo. Às vezes ele agia de forma inadequada em público, acariciando-a a ponto de ela ficar sem graça.
Outras vezes, se recusava a deixar a festa na hora combinada só porque queria beber mais uma dose.
O comportamento de Ed quando sóbrio era bem diferente de seu comportamento quando embriagado. Nunca magoava Virginia nem ameaçava machucá-la e normalmente não ficava bêbado.
Então, Virginia se convencia de que conseguiria convencer Ed a mudar, e que, sob seus cuidados, a vida dele voltaria para os trilhos de novo.
Ela tentou de tudo.
Uma noite, chorou durante horas, dizendo a Ed que, se ele realmente a amasse, pararia de beber. Uma outra ocasião, expressou calmamente como era a sensação de estar numa relação com Ed, até usou alguns exemplos paralelos da vida dele que achava que iriam ajudá-lo a entender seus sentimentos de forma mais clara. Uma noite, ela avançou nele, gritando e o xingando. Uma outra vez, tomou um porre com ele. Nada disso mudou o hábito de beber de Ed.
Nada disso parecia nem mesmo influenciá-lo.
Todos os esforços dela só a exauriam.
Ela estava levando o hábito de Ed de beber para o lado pessoal e, por causa disso, o comportamento dela era totalmente reativo.
Ele era a causa dela; ela era o efeito dele.
Depois que percebeu isso, Virginia começou a pôr o foco em si mesma.
Que providências poderia tomar para tornar a situação mais satisfatória?
Primeiro, fez uma distinção entre si mesma e Ed. Acabou entendendo que o hábito de beber de Ed não tinha nada a ver com ela. Isso foi muito libertador. Depois que Virginia reconheceu isso, foi capaz de se aproximar de Ed com compaixão e carinho, em vez de com raiva e frustração, sempre que descobria que ele estava bebendo.
Sem esse apego a suas expectativas, Virginia foi capaz de perceber que nada que fizesse livraria Ed de sua dor e seus obstáculos pessoais. Ele era responsável pela vida dele, assim como ela era pela dela.
Por fim, Virginia terminou o namoro com Ed, mas sempre o manteve num lugar especial em seu coração.
Apesar de ser verdade que você não pode fazer mudança por uma outra pessoa, você pode sempre servir como exemplo vivo, um modelo de desempenho de um papel, e em farol de Luz.
Isso serve para atrair outras pessoas para a sabedoria da Cabala.
Ensinar Cabala, no entanto, não quer dizer pregar a Cabala.
Ensinar significa compartilhar essa sabedoria com outras pessoas por um desejo genuíno de compartilhar algo que você considera útil, não por querer converter alguém. Ou convencer alguém. Ou vender algo para alguém.
A paz mundial começa em casa, com a paz pessoal.
Mas, ao começarmos a vivenciar a Luz, nos descobrimos naturalmente querendo compartilhá-la com os outros.
Todos os dias percebo a grande bondade de minha mãe e meu pai.
Nos momentos em que estavam desesperadamente necessitados da ajuda dos outros, estavam de fato ajudando os outros.
Por favor, não fiquem com a impressão de que meus pais eram super-heróis.
Eles sofriam tanto quanto eu ou você.
Mas, nesses tempos particularmente pobres, foi necessário um grande comprometimento — e uma grande certeza — para eles criarem os filhos, fundar o Centro de Cabala e se manterem atentos um ao outro.
Não é que meus pais tenham nascido com uma paciência, uma resistência e uma compaixão extraordinária.
Eles só trabalharam com afinco para melhorar de vida e melhorar a vida das pessoas ao redor. Identificavam e enfrentavam seus obstáculos, injetavam certeza, escaneavam visisualmente e meditavam as letras hebraicas e se recusavam a deixar que seus egos vencessem a batalha pelo controle de suas almas.
Segundo os cabalistas antigos, o ano hebraico de 5760 (0 ano 2000 no calendário ocidental) anunciaria uma nova era que o Zohar descreve com duas palavras: Infortúnio e Abençoada.
O Infortúnio se refere a um tempo de grandes convulsões sociais e políticas, terror e sofrimento, afetando-nos no âmbito pessoal e global.
Durante esse tempo, o sistema imunológico do ser humano estará sendo atacado. Doenças novas e velhas nos atormentarão. Haverá guerras mundiais e atos terroristas, bem como destruição do meio ambiente.
Mas é por meio dessas tragédias globais e pessoais que a humanidade chegará a perceber que os tesouros obtidos por meio do ego são ilusórios e fugazes.
E vêm a um alto custo.
O Zohar também chama essa era de Abençoada, referindo-se a um tempo de paz, tranquilidade, iluminação e realização eterna.
As doenças serão dizimadas. O caos não mais existirá. A alegria estará por toda parte.
Foi-nos dada uma opção.
A violência no mundo não é um caos sem sentido.
A doença não é uma ocorrência fortuita.
O terrorismo não é uma loucura aleatória.
Terremotos não são atos divinos.
Todos esses fenômenos negativos nasceram da escuridão criada quando nosso comportamento reativo coletivo nos desconecta a todos do Âmbito dos 99%.
Captar essa verdade difícil é o pré-requisito para realizar uma mudança verdadeira. A situação do mundo é apenas o somatório das interações da humanidade.
Buracos negros no espaço, tornados em Oklahoma, balas perdidas, batata frita para o almoço no refeitório da escola, dias ensolarados, gravidezes não desejadas, paz entre as nações, vagas de estacionamento vazias — tudo depende das interações entre um ser humano e o outro.
 
Quando os sábios antigos declararam que a terra é o centro do universo, não estavam falando de coordenadas físicas.
Estavam falando em termos espirituais.
Nossos atos espirituais, sejam eles reativos ou proativos, movem o cosmos.
O simples ato reativo de gritar com um amigo, falar com desconsideração com sua irmã menor ou colar numa prova faz a sua vida e o mundo inteiro pender para o lado do Infortúnio.
Talvez você queira ler esta última frase de novo.
E mais uma vez.
É um peso pesado que carregamos.
Da mesma forma, cada ato de Resistência — quando você puxa a linha do ego ao admitir seus ciúmes das pessoas que inveja ou abre mão de suas brilhantes opiniões defendidas há muito tempo, em prol de se unir a um oponente, ou resiste ao impulso de obter fama e prestígio para si mesmo — faz a sua vida, bem como toda a existência, pender para o lado do Abençoado.
O Adversário, como sempre, tem ideias próprias.
Ele fará de tudo para afastá-lo da verdade espiritual.
Ele tentará fazê-lo rejeitar estes textos usando sua mente racional.
Ele tentará convencê-lo de ideias como "aleatoriedade" e "sorte e azar".
A vida não é tão simples, ele lhe dirá.
Não temos controle algum, dirá ele.
É aparentemente melhor super intelectualizar, filosofar e politizar todos os acontecimentos da nossa vida e deste mundo, ao buscar soluções.
 
Mas a vida é simples assim.
Não é para confundir "simples" com "fácil".
Esses passos são desafiadores, e trabalhá-los de forma honesta e corajosa lhe tomará a vida toda.
O Zohar é uma vela num mundo de escuridão.
Ele transcende a religião, a raça, o sexo, a política e a geografia.
Toda escuridão, por mais profunda que seja, abre caminho para a luz de uma única vela.
E por maior que seja a escuridão, ela não apagará a Luz.
Tentar viver a vida assumindo responsabilidade total por nossos atos talvez seja a mais difícil das tarefas.
É tão mais fácil para nós defender causas, buscar novos caminhos de sabedoria ou tentar mudar o mundo do que apenas olhar para dentro e tentar mudar a nós mesmos.
Mas ajuda saber que estamos ajudando o mundo inteiro quando fazemos isso.
Não mais nos consideramos vítimas.
Desse ponto em diante, precisamos aceitar a responsabilidade pelas coisas podres que acontecem nas nossas vidas.
Precisamos admitir que somos a causa. E ser a causa é uma coisa boa.
É um dos principais atributos de ser proativo.
E um dos aspectos que o Receptor deve buscar alcançar.
Só sendo a causa podemos começar não apenas a nos ajudar a nós mesmos, mas a ajudar os outros também.
 
Você embarcou numa viagem e tanto.
Quanto mais Luz receber, mais longe será capaz de se aventurar.
Talvez você queira ler estes textos mais de uma vez.
Tudo está em constante mudança.
Então, a cada dia, comece onde quer que esteja.
Livre-se de qualquer expectativa de chegar.
Estimule-se a estar plenamente no momento presente, para curtir suas transformações e buscar enfrentar novos obstáculos.
Coma a sobremesa com vontade e certifique-se de que seu vizinho também tenha um pedaço suculento só para ele.
 
Num antigo conto cabalístico, um aluno se aproxima de seu venerado professor e mestre e pede-lhe para ensiná-lo todos os segredos sublimes e mistérios magníficos do cosmos no curto espaço de tempo que dura ficar equilibrado num pé só. Ao ouvir esse pedido do aluno impaciente, o eminente sábio analisa a pergunta com cuidado. Então seus olhos brilham com infinita sabedoria e diz:
"Ama teu próximo como a ti mesmo. Todo o resto é apenas comentário. Agora vá e aprenda."
 
Por: Yehuda Berg

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