A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sábado, 17 de março de 2012

Quatro Práticas Ancestrais



O Criador Infinito confere vida aos mundos através de sua Luz Infinita, projetando-a a partir de Si mesmo.
Ele envia e emana Sua Luz para revelá-la neste mundo material.
Nós fazemos Mitsvót (conexões) para manifestar a Luz em nossas vidas.
As Mitsvót são os atos concretos, parâmetros que liberam a alma da dependência da materialidade, do desejo egoísta/ratsón lecabel e, portanto, dos guilgulím/rotações inferiores da alma.
 
Nos domínios do mundo material, esses parâmetros são imprescindíveis para nós, pois nos ajudam a ultrapassar as limitações temporais e espaciais impostas pelo ratsón lecabel/desejo egoísta.
 
A cabalá define tais parâmetros de forma geral e logo nos transmite as particulariedades e a forma prática de sua aplicação através das Mitsvót.
As Mitsvót dividem-se da seguinte forma:
248 expressam a expansão da vontade e desejo, e
365 expressam sua contenção.
O conjunto das Mitsvót expansivas e das Mitsvót de contenção (248 + 365 = 613) sintetizam a relação do homem com todos os graus e aspectos da manifestação do desejo.
De acordo com o Talmud, o número 248 refere-se ao conjunto de órgãos e articulações do corpo humano (aspecto espacial), e 365 é o número de dias do ano (aspecto temporal).
As Mitsvót dão forma harmônica aos nossos desejos, de modo que cria uma ecologia espiritual em todos os âmbitos da vida.
Cada vez que desejamos algo, devemos conhecer os parâmetros que nos ajudam a avaliar se nosso desejo afeta, positiva ou negativamente, nosso semelhante. Quando atuamos em equilíbrio com as leis espirituais, beneficiamos todas as criaturas por igual.
Por outro lado, quando nossos desejos colocam-se à frente dos desejos de nossos semelhantes, surgem as guerras, a pobreza e o sofrimento.
 
A educação cabalista, baseada na aplicação consciente das Mitsvót, modela nosso desejo, porque as Mitsvót não foram criadas pelo raciocínio ou pela especulação dos homens.
Elas são leis objetivas que regem toda a Criação.
A lei da gravidade, por exemplo, supera nossa vontade e estados de ânimo momentâneos.
Assim mesmo, as leis que regem os diversos estratos da vida são objetivas e não dependem de modas passageiras.
Tudo que foi criado, seja no terreno espiritual ou material, se manifesta através de três aspectos gerais denominados: Olam, Shaná, Nefesh (Mundo, Ano e Alma).
Os diversos aspectos da realidade são ativados através de três coordenadas: Espaço (Olam), Tempo (Shaná) e Alma (Nefesh), sendo Nefesh (o termo Nefesh, nesse caso como acepção de qualquer um dos cinco níveis da alma: Nefesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá) — o que gera a atividade, Olam — o que gera os limites espaciais onde produz-se esta atividade, e Shaná — o que impõe o ritmo no qual é produzida esta atividade.
 
O Néfesh é formado pelos diversos graus de Or/Luz que se manifestam através do Cav/linha de Luz que provém do Ein-Sof: Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá.
Olam/Mundo (Planos): constitui os diferentes estratos onde a alma se manifesta: Adám Cadmon, Atsilút, Briá, Ietsirá e Assiá.
Shaná: é o processo de revelação dos diferentes aspectos da realidade e da vida.
O tempo espiritual funciona de acordo com as causas e conseqüências, sendo "depois" o efeito resultante da energia produzida pelo estado que a precedeu.
Esses três aspectos se manifestam através de:
 
1) o Povo de Israel
2) a Terra de Israel
3) a Torá de Israel
 
As Mitsvót ramificam-se em todas as manifestações destes três aspectos, através das diversas festividades de Israel: Pêssach, Shavuót, Sucót etc.
Isto se desenvolve por intermédio do Povo de Israel, fundamentalmente na Terra de Israel e de acordo com o "ritmo" da Torá de Israel.
 
Hebraico      Português    Conceito      Manifestação
Olam            Mundo          Espaço          Terra De Israel
Shaná                     Ano              Tempo          Tora De Israel
Néfesh          Alma            Atividade      Povo De Israel
 
As Mitsvót se dividem em dois grupos gerais:
1) As que relacionam o homem com seu próximo (ben adam lechaverô).
2) As que relacionam o homem com o Lugar - origem e causa de toda a realidade, o Cadósh Barúch Hú (ben adam laMacom).
 
As primeiras refinam o desejo do homem, através de sua relação com o seu semelhante e com a sociedade em geral, e são sintetizadas na mitsvá: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo".
As demais refinam o desejo do homem em relação à Luz Infinita, fundindo-o aos estados superiores da alma.
 
A origem das Mitsvót do homem em relação ao Lugar é mencionada no primeiro postulado do Decálogo:
 
Eu Sou IHVH – hwhy yibna
 
Isto significa que o homem deve conhecer e unificar-se com a Luz Infinita e assim como o Kádósh Báruch Hú, o homem deve dar e beneficiar todas as criaturas.
O trabalho espiritual na Torá e nas Mitsvót aproxima, gradativamente, o homem do lugar e da raíz de onde toda a realidade é gerada: o Infinito/Ein-Sof
Daí os cinco nomes da alma — Néfesh, Rúach, Neshamá, Chaiá e Iechidá — que indicam o grau e a distância espiritual do homem em relação à Luz Infinita.
Neshamá provém do verbo respirar e designa a generalidade da Luz que se expande d'Ele.
A atividade do Rúach (que também significa vento e alento) traz a Neshamá de vidas (Nishmát chaím) através das narinas do homem, e torna-o possuidor de um Néfesh vivo.
Posteriormente, este alento flui e vitaliza o corpo.
A medida que a energia — Luz de vidas — flui pelos mundos, ela adquire materialidade, ou seja, ratsón lecabel, até se concretizar na respiração e no ritmo cardíaco. Logo após, o sangue irriga todos os órgãos do corpo, dando-lhes vida e transformando o mencionado ratsón lecabel em atos concretos.
O trabalho espiritual do homem, através da Torá e das Mitsvót, transforma aqueles atos concretos em ratsón lehashpía.
Por isso o trabalho espiritual de Israel concentra-se na direção superior do alento e da respiração, unificando desse modo toda a multiplicidade do mundo material-sensorial com a fonte da Luz, causa e origem de toda a criação.
Do contrário, dispersaríamos nossa energia, pois ao nos concentrarmos apenas nos processos respiratórios e sensoriais, limitamos a realidade em nós mesmos, aumentando desse modo, o ratsón lecabel, o egoísmo.
Por essa razão, a denominação empregada pela cabalá para designar a energia de vidas é Luz - Or. O vocábulo Or indica a direção e objetivo para o qual o homem deve orientar sua vontade e desejo, a plenitude que abrange tudo e todas as criaturas, a Luz Infinita/Ein-Sof
 
Néfesh (ca-pn) — “Impulso de fogo”, a energia que abastece o corpo de calor e de movimento. Expressa-se no Kidúsh (Kidush, literalmente, "santificação" é a bênção recitada sobre o vinho ou suco de uva para santificar o Shabat ou uma festa judaica (cabalista)) do sétimo dia — "Shavat vayinafash" — cujo significado é que cessa o movimento e o trabalho logo depois de terminada a Obra (a Criação), e chega o descanso (Shabat).
O Sábio cabalista, Rabino Ashlag, explica-nos que o significado dessa frase é o seguinte: "Depois de finalizada a Criação, o Néfesh se perde, pois não há mais necessidade dele". Isso ocorre porque o Néfesh é o aspecto da Neshamá relacionado com a vida sensorial e com o desejo de receber inferior.
Após a reintegração do desejo à sua origem, do klí ao Or, também o Néfesh se integra à Luz, e então não é possível percebê-lo como um ente separado.
 
As Mitsvót em relação ao próximo (ben adam lechaverô) são indispensáveis para ascender àquelas que relacionam o homem com o Lugar (ben adam laMacom), pois nestas últimas corremos o risco de mecanizarmo-nos e automatizar nossa vida espiritual.
Por outro lado, nas primeiras, o dinamismo de cada situação exige de nós estar plenamente conscientes das necessidades de nosso semelhante.
Por isso devemos trabalhar sobre todas elas por igual, mas sem esquecer que as Mitsvót com respeito ao próximo antecedem as Mitsvót relacionadas com o Lugar.
A Halachá nos ensina que, para salvar uma vida, podemos passar sobre as Mitsvót relacionadas com o Lugar , como o Shabat, festividades etc.
A Halachá nos ajuda a não nos enganarmos e pensar que podemos ser "altamente espirituais" e esquecermos de quem está ao nosso lado.
A palavra Halachá provém da raíz “halochlandar”.
É o código de leis judaicas, que nos ensina como andar e se comportar de acordo com as leis espirituais codificadas na Torá.
Os tópicos tratados pela halachá abrangem todos os detalhes e todas as circunstâncias da vida, e nos explicam de forma prática como realizar as Mitsvot. Os livros "Taamet Mitsvót" e "Shaar haMitsvót", transmitidos ao Rabino e Sábio Rabalista Chaím Vital por seu mestre, o Rabino e Sabio cabalista Yits'chác Luria Aslikenazi, o Arizal, explicam-nos o sentido interior de cada mitsvá.
 
Através da Circuncisão e da contenção de seus instintos, o homem dá o primeiro passo para a liberação da dependência dos desejos inferiores e egoístas.
A energia da vida, manifestada através de nossos desejos, é poderosíssima, assim como a força do mar.
Sem os limites adequados, também o mar pode nos destruir.
Por outro lado, se construirmos uma represa que o contenha e o regule, essa mesma energia poderá fornecer Luz ao mundo inteiro.
O livro "Ticunê Zôhar" transmite-nos que, mediante a circuncisão, liberamos o Nefesh da influência mais densa do ratsón lecabel.
Isto ocorre porque, ao tirar o prepúcio através da circuncisão/brit milá, libertamo-nos de três envoltórios, cascas negativas/klipót que impedem que nossos pensamentos, emoções e atos, manifestem o ratsón lehashpía.
 
O brit milá é uma iniciação, mas para que o caminho espiritual judaico seja concretizado, devemos sobrepor sobre os diferentes aspectos que esses três envoltórios ou cascas negativas/ klipót adotam ao longo de nossas vidas.
As três tefilót (orações, preces) diárias (shacharit - minchá - arvit) e as três festividades anuais a de peregrinação (Pessach - Shavuót - Sucót) ajudam-nos a vencer a influência dessas três klipót, que alimentam o desejo de receber egoísta.
Dessa forma são criadas as condições que nos ajudam, caso assim desejamos, a processar nossa energia em direção a níveis superiores de altruísmo.
A energia dos instintos é esse mar, o Nefesh.
Se não aprendemos a encaminhá-lo adequadamente, se tornará insaciável.
 
Por outro lado, quando lhe atribuímos um lugar exato, ele nos proporciona a energia necessária para trazer Luz e plenitude em todos os âmbitos da vida.
Através dos tefilín, o homem pode harmonizar o coração com a mente e, assim, compreender as leis da Criação.
Tefilin é o nome dado a duas caixinhas de couro, cada qual presa a uma tira de couro de animal kasher (apropriado), dentro das quais está contido um pergaminho com os quatro trechos da Torá em que se baseia o uso dos filactérios (Shemá Israel, Vehaiá Im Shamoa, Cadêsh Li e Vehayá Ki Yeviachá).
Filactério, vindo do termo grego fylaktérion, significa basicamente "posto avançado", "fortificação" ou "proteção", o que explica a utilização destes objectos como protecção ou amuleto.
 
O sangue, o coração e a mente constituem, respectivamente, o instrumento de manifestação do Nefesh, do Rúach e da Neshamá.
 
Néfesh
"...porque o sangue é o Néfesh ..."
(Deuterônomio 12:23)
 
"Sem  conhecimento, o Néfesh não é bom ..."
(Provérbios 19:2)
 
Rúach
"O coração do sábio está à sua mão direita, mas o coração do tolo está à sua esquerda."
(Eclesiastes 10:2)
 
" ... para vivificar o Rúach dos humildes, para vivificar o coração dos contritos..." (Isaías 57:15)
 
Neshamá
"mas há um Rúach no homem e a Neshamá de Shakai (o nome Shakai designa a sefirá lessod) o faz entender."
(Jó 32: 8)
 
"A Neshamá do homem é a lâmpada do IHVH."
(Provérbios 20:27)
 
Estes três estratos da alma devem vibrar em concomitância com a Vontade Superior (Chaiá). Dessa forma, nossos atos, sentimentos e pensamentos harmonizam-se com as Leis Superiores, encontrando assim plenitude e harmonia.
 
Os tefilín são colocados, um no braço esquerdo sobre os bíceps, na altura do coração, e o outro, na cabeça. A tefilá (prece, oração) que se coloca no braço esquerdo possui uma correia de couro, com a qual deve-se dar sete voltas pressionando-a contra o braço.
Esta ação nos ensina que devemos limitar o instintivo desejo de receber do Néfesh (pressão sobre a circulação sanguínea) e nossas emoções negativas, Rúach negativo (lado esquerdo).
A tefilá da cabeça indica que devemos unir as emoções positivas, Rúach positivo (braço direito), ao pensamento, para desse modo "despertar" nossa Neshamá.
Tefilá é também o trabalho espiritual interior (oração, prece) que nos ajuda a transformar o.ratsón lecabel em ratsón lehashpía.
 
Dentro da tefilá da cabeça estão 4 compartimentos que contém os seguintes versículos da Torá:
1- "Consagra a Mim todo primogênito..." (Êxodo 13:2 2)
2- "E quando te houver conduzido IHVH à Terra dos cananeus..." (Êxodo 13:11 3)
3- "Escuta e Ouve Israel, o IHVH Elokeinu IHVH é Um..." (Deuteronomio 6:4 4)
4- "E se ouvires atentamente Minhas Mitsvót..." (Deuteronomio 11:13)
 
Cada compartimento, com seu respectivo versículo, relaciona nosso trabalho espiritual com os quatro mundos: Assiá, Ietsirá, Briá e Atsilút.
 
I) Assiá - "Consagra a Mim todo primogênito"
 
O primogênito é o desejo de receber, já que é o primeiro a se manifestar.
Quando conseguimos consagra-lo ao trabalho espiritual, iluminamos o mundo da Ação/Olam Assiá.
Essa Luz/Or é o primeiro grau da alma/Néfesh.
 
2) Ietsirá - "e quando te houver conduzido IHVH à Terra dos cananeus..."
 
A terra de Kenáan é a futura Terra de Israel/Érets Israel.
O vocábulo Kenáan (nxnk) provém da raíz (xnk), cujo significado é “render”, “derrotar”, “vencer”.
O termo terra nos indica a vontade e o desejo (trabalhamos na terra para que ela nos dê frutos).
Na Terra de Kenáan viviam 7 nações (Deuteronomio 7:1) que o povo de Israel teve que vencer para transformá-la na Terra de Israel.
As 7 nações representam 7 medidas de ratsón lecabel, que impedem que nosso altruísmo — atributo de Israel — manifeste-se.
As 7 influências astrais (Sol, Mercúrio, Vênus, Lua, Marte, Saturno e Júpiter), os 7 dias da semana, os 7 orifícios da cabeça (2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas e boca), formam o espaço através do qual estas 7 nações podem se manifestar, anulando dessa forma nossa recepção e transmissão do Or Ein-Sof/plenitude da Luz Infinita, desejo de dar/ratsón lehashpía.
A cada dia de nossas vidas estamos expostos a diferentes impressões mentais, emocionais, visuais, auditivas etc., que incidem poderosamente sobre nosso ratsón lecabel/desejo de receber.
Nos alimentamos, quase permanentemente, de todo o tipo de informações que transcendem nosso discernimento.
A Mitsvá dos Tefilín, como todas as Mitsvót realizadas com intenção e consciência, e não de forma mecânica, nos ajudam a discernir entre os diferentes aspectos que a vida nos oferece.
A partir daí poderemos começar o trabalho de render esses 7 povos do ratsón lecabel que habitam nosso interior. Quando trabalhamos com entrega e verdadeira “emuná” (certeza), vencendo nossos "povos interiores", tendências egoístas, chegamos à transcendência das influências temporais, estados emocionais flutuantes e astrais, vencendo, assim, nossa noção egoísta da realidade e da vida.
Avraham Avinu representa esta força de entrega, a vontade constante que nos mostra, através de sua vida, como superar as influências passageiras, as emoções negativas e astrais para desse modo aproximarmo-nos de nosso semelhante e do Cadósh Barúch Ilú.
Avraham Avinu era um grande astrólogo que acreditava que toda a realidade é regida por influências astrais. Como conseqüência de sua busca do completo, conseguiu sobrepor-se aquele âmbito e perceber uma Realidade Superior constante, entendendo, dessa maneira, que existe uma harmonia que está acima da aparente multiplicidade da Criação: o Cadósh Barúch Hú.
O que Avraham Avinu alcançou como indivíduo, Moshé Rabênu começou a colocar em prática com todo o povo, sendo que, hoje em dia, somos os continuadores desse grande legado de Torá e Mitsvót, através do qual podemos transformar nossas vidas e ajudar aqueles que nos rodeiam.
O estudo da Torá em todos os seus extratos e a aplicação das Mitsvót, nos proporcionam as ferramentas que ajudam a fortalecer nossa emuná, transcendendo, assim, a dependência em relação aos estados perecíveis.
Deste modo chegamos ao nível onde o tempo não é mais que uma coordenada, através da qual nossa vontade se expande para poder concretizar a mitsvá fundamental da Torá: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo".
O verdadeiro amor não depende de estados de ânimo, nem de sentimentos passageiros; ele é constante e está baseado em objetivos altruístas.
 
3) Briá - “Shema Israel IHVH ELOKEINU IHVH Echad. Escuta e Ouve Israel, IHVH Elokeinu IHVH é Um”.
 
Shema: Ouve; o ouvido não para de ouvir, ou seja, a audição independe de nossa vontade. O ato de ouvir está fora do nosso controle.
O livre arbítrio consiste-se no que ouço.
O sentido do ouvido relaciona-se com a sefirá Biná, que representa o mundo da Criação/Briá e o terceiro nível da alma denominado Neshamá.
O ato de ouvir dirige nossa consciência para nosso interior, ou seja, o homem deve procurar no mais profundo de si mesmo a verdadeira natureza do desejo de sua alma.
 
Israel: é a vontade da alma de retornar à sua fonte, o Infinito/Ein-Sof.
 
IHVH: é a Realidade e Vontade Superior que está em equilíbrio com as leis da Criação.
Eu Sou IHVH...(Deuterontimio 5.6) - Primeiro postulado do Decálogo.
 
Elokeinu: é a Vontade Superior (IHVH) manifestando-se nos planos inferiores.
Eu Sou IHVH Teu Elokim... (Deuteronõtnio 5:6)
Os diferentes nomes (Elokim, IHVH, etc.) mencionados na Torá revelam os diversos aspectos da vontade e leis que regem a vida.
O nome Elokim designa a forma através da qual a Luz Superior se reveste nas leis da natureza.
O nome Elokim possui o mesmo valor numérico (guematria) que a natureza, ou seja, 86
Quando a Torá relata sobre a Criação do homem (livro de Bereshit), utiliza o nome IHVH só quando o homem recebe sua Neshamá de vidas (Gênesis 2:7).
Até este momento (no início do relato), a Vontade Superior é citada através do nome de ELOKIM.
O nome IHVH atribui ao homem consciência de si mesmo, de sua verdadeira natureza espiritual e altruísta, e do livre arbítrio para eleger entre o bem e o mal, entre ratsón lehashpía e ratsón lecabel.
 
Echad: Um; indica que o Superior e Sua manifestação são Um.
O Shema Israel faz parte do treinamento judaico e cabalista, nossa emuná (certeza).
O objetivo do Shema, assim como de todas as Mitsvót, consiste em levar nossa vontade, desejo e consciência à unidade primária, o estado de Infinito/Ein-Sof.
É assim que temos a possibilidade de unificar nossa realidade limitada e transcender o mundo sensorial, tanto em nossa mente como também em nosso coração e em nossa vida.
A prática dessa mitsvá, assim como o resto da tefilá, deve envolver todo o nosso ser e ativar o mais profundo de nós, quando nos unificamos com a Luz Infinita.
A tefilá é o momento no qual transcendemos o tempo e o espaço, e deve ser suficientemente intensa para que possamos ultrapassar a realidade sensorial e fundirmo-nos com o coração, a mente e todo nosso ser, na LUZ.
 
4) Atsilút - "E se ouvires atentamente Minhas Mitsvót..."
 
O conhecimento interior da Torá — a cabalá — e a aplicação intencional das Mitsvót nos orientam em direção à percepção consciente de nossos atos.
Quando conseguimos transcender as barreiras mentais e emocionais, atuando em busca do bem coletivo, ascendemos a um novo plano da realidade, olam Atsilút. Este plano é o reino da vontade altruísta, onde tudo é desejo de bem; nele desejamos receber para partilhar.
O nível da alma denominado Chaiá é o Or/Luz do olam Atsilút.
Quando o homem alcança o nível do olam Atsilút, seu desejo e vontade conseguem se unificar com a plenitude da Luz.
O vocábulo Chaiá provém do verbo “reviver”, “vivificar”, pois quem supera o âmbito egoísta do desejo de receber/ratsón lecabel, transformando-o em desejo de dar/ ratsón lehashpía, "revive" e pode "vivificar" seus semelhantes.
 
Os 4 versículos, que na tefilá da cabeça estão divididos em 4 compartimentos, encontram-se todos juntos na tefilá do braço, à altura do coração.
Isto nos ensina que não é suficiente entender a realidade e a vida no plano mental, senão que devemos incluir em nossos corações estes quatro planos.
A mercavá/carruagem que dirige nossa vontade e desejos em direção à sua origem, o Infinito/ Ein-Sof, encontra-se em nosso coração e é o coração, em última instância, o lugar onde se definem nossos objetivos.
 
"E lhes darei coração para que Me conheçam..."
(Jeremias 24:7)
 
Através do Shabat, o homem se libera do espaço, do materialismo e dos mecanismos do tempo. A dependência do mundo material limita a manifestação das qualidades espirituais do homem.
O homem não deve anular o aspecto material, e sim orientá-lo em direção ao bem coletivo; dessa forma, ele o espiritualiza, devolvendo-o à sua fonte, o Infinito.
Shabat é a suspensão da atividade criadora, a finalidade de todo movimento e atividade.
Só é possível criar através da auto-limitação.
O arquiteto, que deseja construir, limita o terreno no qual vai realizar sua edificação.
O escritor se limita a um determinado tema para desenvolver seu livro.
O estudante se limita em seu estudo e seus livros para se formar.
A meta do Criador é beneficiar as criaturas.
Para poder dar, Ele se autolimita (tsimtsúm) com o propósito de que as criaturas recebam gradativamente Sua plenitude.
O homem não pode se relacionar com o Infinito; através dos limites que se auto impõe, ele consegue assimilar, de forma gradual, a realidade.
Uma mulher (ou um homem) não pode "possuir" todos os homens (ou todas as mulheres).
O homem que "tem" todas as mulheres, na realidade não "tem" nenhuma.
Por outro lado, quem encontra satisfação junto à sua mulher e sua família, consegue tudo; tem o Infinito.
O Shabat é o objetivo de todo o movimento, mudanças e desejos.
Cada ato do homem deve estar dirigido para o Shabat, ou seja, para a finalidade de plenitude em todos os aspectos.
O Shabat é um microciclo dentro do grande ciclo que é a Criação.
O Shabat nos dá a possibilidade de nos libertar da dependência do mundo material, semana após semana. O Shabat é a "porta" que nos conduz ao Infinito, à transcendência do tempo e do espaço, é o centro em torno do qual gira toda a realidade.
Através do estudo da Torá, que são as leis que regem os diferentes planos da Criação, o homem liberta sua mente da especulação no vazio.
No judaísmo, o estudo não é um fim em si mesmo, e sim um meio para chegar à Vontade Superior, o desejo de dar e beneficiar o próximo.
A Torá proporciona ao pensamento o espaço para expandir-se e a medida da realidade.
O judaísmo procura, através do estudo, "elevar" o homem à Luz Infinita.
A Luz é a realidade em si mesma, enquanto que a escuridão, a ausência de Luz, é uma miragem, uma ilusão.
A realidade, a plenitude da Luz, não depende da especulação mental; portanto, não devemos lutar contra a escuridão; basta acender a Luz em nossos atos, através das Mitsvót.
A Sabedoria de Israel, através do estudo da Torá e da aplicação das Mitsvót, nos ensina a adaptar os extratos inferiores do desejo à realidade objetiva superior codificada na Torá. Assim obtemos a força e a energia para superar os instintos e desejos temporais limitados à realidade material.
Moshe Rabênu "ascende" ao subir o Monte Sinai para unir-se ao seu Criador, tornando-se Um junto à Luz Infinita e, em seguida, "desce" para a realidade cotidiana, para comunicar ao povo a realidade Infinita.
Moshe Rabênu é o modelo que se pretende desenvolver, o Tsadíc, o homem cujos desejos, vontade e objetivos se concentram em alcançar o bem infinito em todos os âmbitos da vida e da realidade.
O Tsadíc (Justo) é o homem para quem o desejo de seu próximo é como o seu próprio; dessa forma se transforma em "sócio ativo do programa da Criação", que consiste em beneficiar todas as criaturas de forma infinita.
Tsadíc é quem faz a ação correta no momento correto.
 
Como nos transmitiu o Rabino Ashlag: O saber não é o objetivo do estudo, e sim um meio para chegar à Vontade Superior, à vontade e desejo de dar e beneficiar/ratsón lehashpía no coração do homem.
É isto o que mede o nível espiritual do homem.
É isto todo o homem.
 
Por: Chaim David Zukerwar

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