A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


domingo, 25 de março de 2012

O Comportamento Reativo Gera Faíscas Intensas de Luz, Mas Deixa em seu Rastro, Por Fim, a Escuridão.


Aninhado dentro de nosso comportamento reativo está o desejo pela gratificação instantânea. Ele nos proporciona um barato rápido que nos faz sentir vivos e no controle de nossas vidas.
Podemos ficar viciados nessa sensação, assim como um corredor fica viciado em endorfina e um usuário de drogas em heroína, crack ou cocaína.
Como vimos no caso de uma lâmpada, quando resistimos ao comportamento reativo, geramos Luz.
Quando optamos em vez disso pela gratificação instantânea, também criamos uma luz muito brilhante.
Uma conexão direta ocorre entre nosso desejo reativo (o polo negativo) e a Luz (o polo positivo), produzindo um lampejo de satisfação seguido de escuridão, porque a lâmpada queimou.
Esta é uma das leis ocultas do universo, semelhante à gravidade.
Se você pular de um prédio alto, cairá na rua embaixo, mesmo que não esteja consciente da existência da gravidade. O mesmo se dá com a eletricidade.
Se você brincar com um fio de alta voltagem, será eletrocutado mesmo que não consiga ver a fonte causadora de sua morte.
Se você se conectar diretamente com a Luz sem o uso cuidadoso da Restrição (a decisão de não ter gratificação imediata), restabelecerá o que aconteceu no Infinito quando a Luz alimentou o Receptor (sem realização) e criou o Pão da Vergonha.
Se satisfizer o desejo imediatamente sem primeiro se tornar a causa de sua vida, a experiência o queimará.
Mas essa satisfação imediata pode ser tão sedutora que nos vemos repetindo o mesmo comportamento vezes sem conta.
Um dos motivos por que não consumi drogas no colégio — nem me embriaguei ou fumei — foi que sabia aonde tal comportamento ia me levar.
Muita gente que veio para o Centro de Cabala foi em outros tempos viciada em drogas ou estava lutando para se livrar do vício. Essas pessoas perderam partes importantes da vida. Tanto tempo e energia que poderiam ter sido dedicados ao desenvolvimento e progresso pessoal tinham sido despendidos tentando recriar um momento transitório de prazer.
Lembro-me de passar uma tarde conversando com um homem na casa dos 30 anos que consumiu Ecstasy desde a adolescência. Apesar de estar reabilitado, não era fácil para ele ficar longe das drogas.
Todo dia de manhã, ele tinha que se comprometer de novo em dar um novo rumo para sua vida. Tinha que se comprometer de novo a resistir ao Ecstasy, resistir ao prazer temporário que a droga lhe dava. Explicou-me que a primeira vez que tinha tomado a droga, vivenciou um barato como nunca antes e tinha passado muito tempo na vida tentando não só alcançar aquele barato de novo, mas também fazê-lo durar mais tempo.
Viciados em drogas se submetem a uma quantidade descomedida de dor e sofrimento. Perdem tanto a autoestima quanto o respeito pelos outros.
Toda vez que bebem, tragam, cheiram ou engolem, pulam por sobre a Resistência e tocam a Luz diretamente. E por causa disso, se queimam.
Muitos estão conscientes disso, mas não conseguem evitar.
Tristemente, passam o resto da vida no comportamento reativo.
Tornam-se o efeito da droga, permitindo que a droga seja a causa, o criador de suas vidas cotidianas.
Assim como os usuários de drogas, ficamos viciados em nosso comportamento reativo. Submetemo-nos a uma quantidade descomedida de dor e sofrimento ao procurar sem cessar esse barato efêmero, seja ele um elogio por nosso novo jeans descolado ou felicitações por termos vencido o jogo de computador.
E assim como esse homem tinha que se comprometer toda manhã para ficar longe das drogas, precisamos nos comprometer com a Resistência como sendo o melhor caminho para revelar a Luz.
No início, as vitórias empatarão com os fracassos. Mas mesmo que isso aconteça milhares de vezes — o que provavelmente acontecerá — não caia do cavalo. Lembre-se, toda vez que declarar sua intenção consciente de resistir, você revelará mais da Luz.
Também podemos nos viciar em pessoas e em relacionamentos.
Pense em quantas vezes você sentiu que não poderia viver sem um determinado amigo, parente ou namorado. Talvez não conseguisse parar de sorrir ao ver um namorado e como não importava os momentos de silêncio desde que estivessem juntos, no mesmo lugar.
Certas músicas, determinados cheiros ou tipo de roupa a fariam pensar nele quando estivessem separados. E seu coração provavelmente batia mais forte só de pensar em perdê-lo ou ter que desistir dele.
E já não houve momentos em que parecia impossível passar por uma situação sem sua irmã ou melhor amigo?
Você precisava deles para se sentir capaz e completo.
Tudo isso — mesmo a parte prazerosa — é um comportamento viciado.
Nele, nosso valor próprio fica enredado no que eles pensam de nós, como eles nos vêem, como nos sentimos quando estamos com eles.
Tornamos a outra pessoa a causa e deixamos que nos tornássemos ao efeito.
Por muito tempo, ficamos buscando em toda parte essa troca de energia, esse barato, até que — bum! — ele explode na nossa cara.
Mais uma vez, tocamos a Luz diretamente.
Vício não é para ser confundido com afeição.
Ter afeição por alguém — desejando que aquela pessoa seja feliz ou desejando que ela se veja livre do sofrimento — é uma coisa maravilhosa.
É para isso que estamos lutando: amor ilimitado e compaixão.
Com afeição, não sentimos como se nossa própria existência estivesse emaranhada com a do outro. O vício, por outro lado, é como uma cola.
Sentimo-nos inúteis sem aquela pessoa especial.
Sentimos como se nossa vida não tivesse sentido sem ela.
Talvez sintamos como se ela também precisasse de nós para dar um jeito em sua vida.
Provavelmente estamos viciados não só em segurar na mão ou tomar um cappucino juntos, mas também nas brigas, mal-entendidos e dramas.
O drama é um comportamento reativo.
Muitas pessoas o confundem com uma prova de paixão, uma prova de amor.
Mas é apenas mais uma forma de gratificação instantânea.
É simplesmente o Oponente em ação.
A Cabala nos mostra uma forma de nos despir de nossas falsidades, de nos encorajar a investir em nós mesmos e em nossas mentes.
Se estivermos continuamente reagindo a pessoas e eventos, nossa mente está sempre agitada e não nos damos a oportunidade de explorá-la, ampará-la, abrandá-la. Isso leva à insatisfação e talvez à ansiedade ou à depressão.
A depressão é um resultado direto de passar tempo demais pensando em nós mesmos.
Se nos lembrarmos que nosso propósito nessa vida é voltar para a Luz, então podemos transformar o relacionamento, saindo de um "O que estou obtendo?" para um "O que posso dar a ele ou a ela? O que tenho para oferecer ao mundo?"
Lembro dos raros convites para festas na época do colégio.
Eram momentos incômodos para mim, já que ninguém nessas festas realmente se sentia meu amigo. No entanto, eu curtia os momentos em que um dos meus colegas contava uma piada e todos ríamos, ou quando uns poucos garotos vinham e passavam cinco ou dez minutos batendo papo comigo.
Lembro-me de como ficava feliz com isso.
Sentia-me reconhecido e apreciado.
Nesses momentos, sentia-me incluído e até, de certa forma, importante.
Mas logo que a festa acabava, todo o barato gerado por essas interações se evaporava e meus sentimentos de importância e valor iam por água abaixo.
Ao voltar para casa, ficava quase sempre deprimido.
O que eu acabei percebendo era que, durante essas festas, eu estava funcionando no modo reativo.
Ficava feliz porque as pessoas estavam prestando atenção em mim, não por algo que eu estivesse gerando. No entanto, como minha felicidade dependia de uma fonte externa, era de se esperar que, quando me separava dessa fonte, sentisse uma perda da Luz.
Essa é a mesma sensação que o viciado no Centro de Cabala tinha quando ficava sem tomar Ecstasy. Caía em depressão, na escuridão e a única maneira que conhecia de ter acesso à Luz era arrumar mais droga.
Podia me animar de novo com mais interações com os garotos da escola, mas, como estava meramente reagindo ao comportamento deles, por mais positivas que essas interações fossem, a felicidade não durava.
Por fim, me cansei de viver em oscilações de humor e me determinei a gerar minha própria felicidade. Isso não quer dizer que a interação com os outros não sirva para nada.
Justo o contrário; elas são vitais e necessárias.
Mas contar com elas ou com qualquer coisa que não seja você mesmo para gerar a Luz é vão. Se você tomar um comprimido, os efeitos desse comprimido uma hora acabarão e você ficará sozinho consigo mesmo.
Se você se apaixonar loucamente, com o passar do tempo o relacionamento mudará e talvez acabe, e você ficará sozinho consigo mesmo.
Se você apostar todos os seus bens no jogo, será tomado pela adrenalina, mas isso também passará e você ficará sozinho consigo mesmo.
Se você ficar cada noite com uma pessoa, em determinado momento seu corpo precisará de descanso e você ficará sozinho consigo mesmo.
Não importa o que você faça para se afastar do momento presente, uma hora isso vai acabar.
Tudo é impermanente.
Nada pode durar para sempre.
E quando acabar, você ficará sozinho consigo mesmo e a realidade da vida que escolheu.
Amigos, família e até inimigos podem nos ajudar a navegar pela vida, mas quando esperamos que eles sejam a fonte de nossa Luz, nos metemos em encrenca.
Brigar ou fazer amor com eles, pode nos proporcionar lampejos momentâneos da Luz, mas, se quisermos algo duradouro, temos que praticar a Resistência. Exemplos que revelam a Luz por meio da Resistência podem ser encontrados em todas as áreas de nossas vidas.
Quando ouvimos um violinista tocar um instrumento, são criadas ondas sonoras pela resistência do arco contra as cordas.
Sentimos a música quando nossos tímpanos resistem ao som.
Todos já viram aquelas fotos de tirar o fôlego da Terra feitas do espaço: como uma pedra preciosa azul brilhante, a Terra irradia uma luz gloriosa contra a escuridão de veludo. Mais uma vez, o princípio da Resistência é responsável por isso.
A atmosfera da Terra resiste à luz solar, criando iluminação.
Mas o vazio do espaço não produz Luz alguma, então o que vemos ao fundo é a escuridão. Nós, seres humanos, possuímos o livre-arbítrio necessário para resistir à energia prazerosa gerada pelos impulsos reativos.
No entanto, o exercício do livre-arbítrio gera a necessidade de fazer escolhas e, nesse caso, enfrentamos todos os poderes do Oponente ao tentar nos persuadir a não resistir.
Não é melhor, argumenta o Oponente, ter algum prazer — por mais raros e esparsos que sejam esses momentos — do que não ter nenhum?
É claro que sim.
Mas não se os momentos fugidios ocorrerem em detrimento da Luz eterna.
 
Volte atrás e analise o exemplo da lâmpada.
Pouco antes de estourar, a resistência dá a luz mais brilhante que você já viu na vida. Mas, ao fazê-lo, perde sua luz estável.
Falta de Resistência gera um jato luminoso impressionante, mas é seguido pela escuridão total.
Para que serve uma lâmpada queimada se quisermos ler na cama de noite ou se quisermos ficar até tarde fazendo o dever de casa ou se um irmão menor tiver medo do escuro?
Se você ganhar um dinheirinho cortando grama ou limpando a cozinha, pode optar por torrar tudo em videogames ou balas ou pode poupar para comprar algo maior que vá melhorar a sua qualidade de vida.
Exatamente da mesma forma, você pode escolher como ter acesso à Luz.
Gostaria de estimulá-lo a pensar a longo prazo, pensar na Luz que sempre brilha.
 
Por: Yehuda Berg

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