A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sábado, 17 de março de 2012

O Oceano de Todas as Lágrimas de Todas as Pessoas



Após a morte de um grande mestre, seu filho aguardou, tendo certeza de que seu pai em breve apareceria para ele, seja num sonho ou numa visão, com noticias do outro mundo.
Mas o pai não veio.
Quando lhe perguntavam se a visita finalmente tinha acontecido, o filho respondia que não. "Entretanto, ontem de noite eu visitei o tribunal celestial para perguntar aos anjos o que tinha acontecido com meu pat. 'Ele esteve aqui', eles responderam, 'mas não ficou.'
"Procurei então em todas as regiões do céu, perguntando aos anjos se tinham visto meu pai, e em todos os lugares davam a mesma resposta: Seu pai esteve aqui, mas continuou a caminhar '
Finalmente, me deparei com um homem sentado na entrada de uma floresta e perguntei: 'Você viu meu pai?' Ele também respondeu: 'Sim, ele esteve aqui, mas continuou a caminhar' E então acrescentou: 'Você o encontrará do outro lado da floresta.'
"Caminhei pela floresta por vários dias, e finalmente cheguei a um lugar onde terminavam as árvores. Ali se estendia um vasto oceano, com ondas do tamanho de montanhas. Meu pai estava em pé ali, olhando para as águas turbulentas.
"Eu me aproximei dele e peguei em seu braço. 'O que você está fazendo aqui?', perguntei. 'Estávamos todos preocupados. Você não voltou para nós numa visão ou num sonho.'
"Sem se voltar, meu pai disse: 'Você sabe o que é este oceano, meu filho?' Respondi que não. 'Este é o oceano de todas as lágrimas de todas as pessoas do mundo que alguma vez choraram por dor e sofrimento. Eu jurei diante de Deus que não deixarei este oceano enquanto Ele não secar todas as lágrimas."
 
A transformação não é um empreendimento individual.
Não é se acomodando numa poltrona confortável que você se torna como Deus.
 
A jornada para Deus é uma libertação de um canto minúsculo do universo chamado (insira aqui seu nome), para a unificação com vidas em toda parte, para uma compaixão que se estende a todo ser existente e para o vasto oceano de sofrimento que os engolfa simplesmente por terem nascido neste mundo
 
O desejo de receber somente para si mesmo cria uma membrana divisora de insensibilidade. Ele nos permite focar na incrível história do "eu", ignorando a dor e a morte nos outros.
Tornar-se como Deus exige uma obliteração desta separação — exige que acabemos para sempre com qualquer distinção, fronteira e divisão entre o que consideramos como sendo nós e o que não consideramos como sendo nós.
 
Ser como Deus não é ser dois com o Universo. É ser Um.
 
Ter compaixão pela vida em toda parte não é uma simples questão de ser bondoso, solidário e generoso. A compaixão é o que emerge das cinzas do Desejo de Receber Somente para Si Mesmo, quando, assim como todo ser é preocupação de Deus, cada ser se torna nossa preocupação também.
"Nós experienciamos nossos pensamentos e sentimentos como algo separado do resto", disse Einstein. "É um tipo de ilusão de ótica da consciência."
 
Na Bíblia, Noé foi salvo durante o dilúvio com um macho e uma fêmea de cada espécie, enquanto o mundo ao redor dele era destruído. Ele era, como sabemos, um homem justo.
Mas a Bíblia também considera Noé um fracasso.
Ele fracassou em cumprir seu potencial.
Como entender que salvar o mundo da extinção seja qualificado como potencial não realizado?
Faltava a Noé a capacidade de sentir a dor dos outros.
Ele não rezou nem se manifestou enquanto seus semelhantes morriam num apocalipse global.
Hoje em dia, apocalipses modernos ainda acontecem nesta terra massacrada onde microchips realizam milhões de operações por segundo, mas nem assim conseguem erradicar a fome, a doença e as explosões de crueldade humana denominadas no noticiário da noite.
 
Não pode haver crescimento espiritual sem uma compaixão que não se esquece e que nos move até todos os seres estarem libertados.
 
Na Cabala, a compaixão não é um conceito sentimental.
É uma força do universo, assim como as leis da física.
"Querer ser o primeiro em tudo" não é errado por não ser adequado.
É errado porque viola as leis da física, a ligação que os cientistas denominaram de Campo Unificado.
Há centenas de anos, o grande cabalista Baal Shem Tov ensinou que não existem coincidências neste universo.
Tudo existe por um propósito.
Pelo simples motivo de que, por terem atraído nossa atenção, até mesmo acontecimentos negativos são influenciados por nós de alguma maneira.
Por uma lógica ainda impenetrável, quando testemunhamos uma tragédia, somos de alguma forma responsáveis por ela.
Isto significa que não existem espectadores inocentes na colisão conhecida como vida, nenhum camarote de onde possamos assistir e desfrutar dos festejos.
Com a transformação vem responsabilidade
 
Sendo meu pai um grande erudito e cabalista, cresci no meio de histórias dos grandes heróis espirituais, e fui particularmente tocado pelo exemplo de Moisés.
Ele abandonou a vida de conforto na casa do Faraó e suportou a dor e o sofrimento de conduzir os israelitas para fora da escravidão.
Sua compaixão pela desgraça humana superava de longe seu apego ao conforto. Eu costumava pensar que homens como Moisés existiam para serem admirados, mas vim a descobrir que eles existem para serem imitados.
Chega uma hora em que cada um de nós deve deixar o palácio do Faraó e ousar sair da mediocridade confortável.
Deixar a indignação crescer e a compaixão aflorar, em favor tanto daqueles que se encontram nas alas de pesadelo da prisão, "os miseráveis da terra", como daqueles na ala do colarinho branco, os que podem dispor de TV a cabo, mas estão igualmente separados de Deus, igualmente condenados à morte.
 
Um homem realizou uma longa viagem até seu mestre levando notícias tristes: ele tinha um filho cujo estado de saúde era grave e os médicos tinham perdido as esperanças.
Sem a intercessão do mestre o menino certamente morreria.
"Existe alguma coisa que você possa fazer para ajudar?"
O mestre começou a rezar e meditar, tentando de tudo, mas depois de horas de esforço se voltou com tristeza para o aluno: "Desculpe-me", disse, "mas os portões do céu estão fechados. Não há nada que eu possa fazer por seu filho."
O homem ficou desolado. Montou no cavalo e começou a viagem para casa. Quando a noite ia caindo, escutou um galope atrás dele. Voltou-se e viu seu mestre.
Imediatamente, pensou que talvez seu mestre tivesse conseguido enfim abrir os portões do céu. "Quais as novidades?", perguntou ansiosamente. "Desculpe-me", disse o mestre. "Os portões do céu continuam fechados. Mas depois que você partiu percebi que embora não possa ajudá-lo com minhas orações e meditações, pelo menos posso chorar com você. Foi por isso que eu vim."
Os dois homens se sentaram juntos em cima de uma pedra ao lado da estrada e choraram.
 
Compaixão é o que somos obrigados a sentir.
Fazer o que podemos.
Compartilhar, ajudar, diminuir qualquer sofrimento que esteja em nosso poder aliviar. Ou simplesmente sentar com outra pessoa em cima de uma pedra e chorar.
Mas a forma mais poderosa de compaixão é trazer mais luz para o mundo.
Permitir que a dor e o sofrimento alimentem nossa jornada para nos tornarmos como Deus. E ajudar os outros em sua jornada, de tal forma que, em vez de fazer uma pequena lasca na dor da terra, criamos um força de poder inimaginável de seres transformados.
Na obrigação de livrar o mundo do sofrimento, tornar-se como Deus se torna o ato último de compaixão.
 
"Não entre dócil nesta noite boa", escreveu o poeta galês Dylan Thomas.
"Enfureça-se, enfureça-se contra o morrer da luz."
Com toda sua eloqüência, Thomas estava ligeiramente enganado, porque a Luz nunca morre.
Somos nós, nascidos numa prisão, que não conseguimos enxergá-la.
Quando a compaixão é interminável, nos enfurecemos contra o morrer da luz.
Mas não quando morremos.
Nós nos enfurecemos contra o morrer da luz enquanto estamos vivos.
 
Por: Michael Berg

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