A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


segunda-feira, 26 de março de 2012

Os Obstáculos são Nossas Oportunidades de Nos Conectarmos com a Luz


Este é um passo importante, em parte porque é contra-intuitivo.
Passamos pela vida basicamente tentando nos livrar dos obstáculos.
Ao fazermos ginástica, meditarmos, tomarmos um porre, ficarmos de quatro de paixão por alguém, vencermos um rival, vomitarmos as refeições, ou simplesmente não comermos essas refeições, estamos tentando criar uma vida livre de obstáculos.
Porque, sem obstáculos, poderemos finalmente ser felizes, certo?
 
Esse passo lhe proporciona uma maneira totalmente nova de encarar os obstáculos. Apesar de fornecidos pelo Satan, mesmo assim os obstáculos são presentes, porque só opondo Resistência poderemos ter acesso à Luz.
Sem obstáculos, não temos nada para resistir.
Sendo assim, da próxima vez que enfrentar um problema, em vez de imediatamente ficar ansioso, zangado, assoberbado ou paralisado, perceba aquele momento antes de sua decisão ser tomada e analise o que está acontecendo.
Bons, maus ou indiferentes, esses julgamentos são secundários ao ato da observação em si.
Só fique sentindo a sua resposta.
Não a julgue; simplesmente vivencie-a.
Lembre-se das duas realidades.
Passamos a maior parte do tempo no âmbito do 1%, repleto de caos e incerteza, mas existe uma vasta realidade do 99%, em que estamos aprendendo a penetrar. As coisas que realmente queremos — amor duradouro, paz, harmonia, segurança, poder verdadeiro, bem-estar — são coisas que não existem no mundo físico.
Elas só existem no 99%.
Assim sendo, para alcançar essa realização duradoura, precisamos nos conectar com o âmbito do 99% de maneira consistente.
Esta é a beleza dos obstáculos.
Um obstáculo é a Luz entrando, só que não diretamente.
Por causa disso, podemos interagir com segurança com ela sem medo de explosões ou queimas.
Com frequência, logo por trás de nossos maiores obstáculos, pode ser encontrada a maior abertura para a Luz.
É bem conhecido o ditado: "A calmaria antes da tempestade", mas os obstáculos são nossas tempestades antes da calmaria.
Se não resolvermos nossos problemas, nunca nos tornaremos a causa.
Assim sendo, os obstáculos são bênçãos!
Eles nos proporcionam oportunidades para nos aproximarmos mais da Luz.
Sem dúvida, vai levar um tempo para se acostumar a encarar os obstáculos como seu novo amigo.
Pode ser que, muitas e muitas vezes, você se feche para essa noção.
A Cabala é um convite para perceber seus limites e não ser levado pelos medos e esperanças que os circundam.
Se você se fechar para esse processo muitas vezes, tudo bem.
Você começará a ver com clareza que você está se fechando ou fugindo.
Isso, por si só, começa a lançar Luz, já que a ignorância é uma escolha do ego, e o ego é uma cortina.
Guarde no pensamento que, se você se fechar e fugir do obstáculo, você estará na verdade fugindo da mesma Luz por que naturalmente anseia. Muitos de nós queremos o que queremos exatamente quando queremos — deixe os obstáculos para lá.
Mas pode ser que nem sempre estejamos preparados para lidar com o que pensamos querer.
Um de meus colegas do colégio era super rico.
Pouco antes de fazer 16 anos, enlouqueceu os pais implorando para ganhar um Porsche. E enlouqueceu todos nós contando que ia ganhar um Porsche — mesmo sem ter tido qualquer aula de autoescola ainda! Lembro do meu irmão me dizendo: "Se os pais dele lhe derem um carro, vai ser sua sentença de morte."
Felizmente, os pais do rapaz o desapontaram em seu aniversário.
O que eles fizeram foi inscrevê-lo na autoescola e, quando ele tirou carteira, o levaram para a cidade nos fins de semana e o deixaram dirigir seu Cadillac enorme na estrada.
Muitos meses depois de ter tirado carteira, os pais do rapaz ainda não tinham comprado o Porsche, apesar de terem condições financeiras de comprar um de cada cor.
Em vez disso, compraram um Volvo velho, mais seguro e confiável.
Eles o deixaram se acostumar a cuidar de seu próprio carro e esperaram que ele aprendesse a dirigir com responsabilidade e confiança.
Ouvi dizer que quando o garoto por fim se formou na faculdade, os pais lhe deram um Porsche.
Até aquele momento, ele já lidara com muitos obstáculos e podia então aproveitar a potência e velocidade do carro sem arriscar sua própria segurança, ou a segurança dos outros.
Pais espertos esses.
Mesmo naquele tempo, eu sabia que eles estavam fazendo a coisa certa.
O Criador faz o mesmo conosco.
Por exemplo, talvez queiramos uma alma gêmea mais do que tudo no mundo.
E podemos achar que é muito injusto ainda não tê-la encontrado. Mas talvez sejamos jovens ou imaturos demais para nutrir e desenvolver de verdade uma relação tão profunda.
Então, em vez disso, a Luz nos manda um relacionamento cheio de obstáculos — obstáculos que, se os entendermos como oportunidades, nos ajudarão a nos tornarmos uma pessoa realmente pronta para o encontro com a alma gêmea.
O objetivo dos obstáculos é nos dar a oportunidade de obter aquilo que desejamos tão intensamente. Todos nós temos nossos limites.
Esse obstáculo aqui podemos enfrentar, aquele obstáculo lá podemos cumprimentar com um aperto de mãos — mas, do próximo obstáculo, precisamos correr a toda velocidade.
Para uma amiga minha, entrar num avião era o seu limite.
Para meu tio, era ter que cozinhar para mais de, digamos, quatro pessoas.
Para outra pessoa, pode ser enfrentar um amigo que está colando de você num teste.
O que me causa medo ou esperança não é o mesmo que causa em você. Reconhecer seus limites o ajudará a rompê-los.
Isso também o ajudará a encará-los com gentileza, força de vontade e humor. Quando as pessoas começam a praticar os passos destes textos, certas ciladas sempre se apresentam.
Uma delas envolve confundir resistência com supressão.
A diferença aqui é que supressão não tem nada a ver com perceber seu comportamento reativo com honestidade.
De fato, supressão quer dizer não perceber seu comportamento de jeito nenhum, mas socá-lo em algum lugar fundo e longe.
À primeira vista, essas reações podem parecer as mesmas, mas, a longo prazo, são completamente diferentes.
No ginásio, tinha um garoto na minha turma de ciências que sempre colava de mim nas provas e copiava meus deveres de casa.
Podia senti-lo espiando por cima do meu ombro e sentir sua respiração nas minhas costas e isso me irritava ao extremo.
Achava que ele estava se aproveitando de mim.
Ele era um dos garotos populares e, enquanto eu ficava em casa estudando, ele estava na rua se divertindo.
Não achava justo ele se divertir e se dar bem na aula à custa dos meus esforços, então ficava com raiva dele. Seus atos ativavam meu comportamento reativo! Como já começara a estudar Cabala com meu pai naquela época, sabia que, ao reagir, só ia piorar as coisas.
Então, em vez de confrontar esse garoto, abafei meus sentimentos lá no fundo. Achava que estava aplicando a Fórmula da Transformação — mas em vez de sentir uma sensação de alívio, que dirá de Luz, as coisas só foram piorando cada vez mais.
Minha irritação se inflamou e passei a odiar esse garoto.
Ironicamente, ele era um dos garotos que iam conversar comigo nas festas e me cumprimentavam no corredor — mas esses momentos de gentileza só alimentavam minha raiva, que crescia aos trancos e barrancos. Por fim, quando não aguentava mais, um dia explodi com o garoto durante a aula.
Ele estava se esforçando tanto para colar minhas respostas na prova que a cabeça dele estava praticamente no meu ombro. Virei para ele e gritei: "Pare de colar de mim! Pare de tirar tudo de mim!"
Ele ficou, é claro, muito chocado — assim como o resto da turma, sem falar no professor. Foi um dos momentos mais embaraçosos da minha vida, mas também uma das maiores lições aprendidas.
Tinha confundido supressão com resistência, obtendo resultados explosivos.
Se tivesse resistido ao meu comportamento reativo, poderia ter optado por conversar com esse garoto um dia fora da escola ou no refeitório num momento de calma — num momento em que não estivesse tomado por emoções reativas. Poderia até ter descoberto, como aconteceu mais tarde, que o garoto não estava vagabundeando toda noite.
Na verdade, o avô dele estava bem doente e a família o tinha trazido para a casa deles para morrer.
Grande parte do tempo dele depois da escola era dedicado a cuidar do avô.
Achar tempo para estudar tinha se tornado um luxo.
Precisamos ter cuidado para não confundir domesticar nossas emoções com virar capacho.
Se eu sentia que o garoto colar meu dever era problemático para mim, então é provável que fosse.
E não havia nada de errado em tentar remediar a situação.
Segundo a Cabala, tudo o que acontece tem uma razão de ser.
Nesse caso, poderia ter sido uma oportunidade para eu falar com esse garoto de uma maneira gentil. Ao fazê-lo, poderia ter descoberto formas de ajudar — e, ao tentar, teria tido acesso a ainda mais Luz. E ainda, isso poderia ter me levado a estabelecer uma amizade incrível.
Ao contrário, me tirei do Pão da Vergonha e passei a ser a causa com um entendimento mais claro.
O que estamos aprendendo é a trabalhar a energia que trazemos para nossas reações. Obstáculos sempre estarão conosco.
Isso é algo que não podemos mudar.
Mas o que podemos mudar é como os saudamos.
Uma outra cilada envolve confundir lidar com resistir.
Lidar com algo é, com certeza, um aperfeiçoamento em relação à supressão. Quando você está lidando com algo, pelo menos reconheceu a situação e suas emoções.
Você identificou seus limites dentro da situação e está tentando trabalhar com eles. Esses todos são passos positivos.
Um dos meus colegas no ginásio, Jimmy, tinha uma irmã mais nova que era bulímica, só que não sabíamos o que era isso na época.
Tudo o que sabíamos é que ela era bonita e muito, muito magra.
A mãe de Jimmy levava os dois filhos para a escola todo dia de manhã, deixando Jimmy na nossa escola primeiro e depois levando a irmã para a escola dela, duas quadras adiante. Julia parecia mais magra cada vez que a via e o verão era sempre um choque para nós, porque ela não usava seu agasalho e podíamos ver como ela era frágil.
Ela nunca nos olhava nos olhos, e raramente sorria, apesar de seu rosto se iluminar sempre que o fazia.
Às vezes, quando fazíamos excursões do colégio, íamos junto com a escola de Julia. Nessas ocasiões, dividíamos ônibus, passeávamos por museus juntos e comíamos lado a lado nos refeitórios.
Uma vez, Julia terminou de comer e levantou para ir ao banheiro. Então ouvi uma de suas amigas dizer:
"Lá vai ela vomitar de novo. Não sei por que ela se dá ao trabalho de comer." Quando vi Julia de novo, ela tinha ganhado um pouco de peso.
Soube que os pais a tinham posto numa terapia comportamental e que os médicos tinham prescrito remédios.
Agora, ao lado da mãe, ela podia nos olhar nos olhos com mais frequência e, durante as excursões, ela conversava com a gente mais à vontade.
Foi numa dessas excursões que Julia conheceu a minha mãe, que era acompanhante voluntária.
Talvez porque já tivesse passado por muita coisa na vida, Julia era muito mais aberta aos ensinamentos da Cabala do que outras crianças da idade dela.
Ao trocar confidências com a minha mãe, ela foi capaz de lidar com a situação, mas não se sentia viva de verdade.
Logo depois, Julia começou a frequentar o Centro de Cabala com regularidade, às vezes vindo jantar conosco em casa.
As ideias da Cabala faziam muito sentido para ela e ela se esforçava muito para aplicá-las em sua vida.
De início, foi preciso muita força de vontade dela para vir jantar na nossa casa e ainda mais para não sair correndo para o banheiro depois — mas depois de um tempo ela relaxou.
Observamos seu rosto, e depois seu corpo, ficar mais cheinho.
Sua respiração se expandiu e sua cor melhorou.
Ao entrar para o ensino médio, Julia parou de tomar remédios e começou a fazer trabalho voluntário com outras pessoas que estavam lutando para vencer distúrbios alimentares. Ela contou para minha mãe que tinha se livrado por completo dos sentimentos que formavam a base de sua baixa autoestima.
Em vez de apenas lidar com a situação, Julia tinha ido à raiz do problema e extirpado a sua semente.
 
Se você estiver tendo um problema crônico com abelhas, digamos, faz sentido pôr telas nas janelas. Esta é uma forma de lidar com o problema.
As abelhas ainda existem, mas, com exceção de uma ou duas que conseguem passar pela tela, elas não incomodam mais.
Mas, se uma tela se rasgar ou for deixada aberta, as abelhas entrarão direto em sua casa.
Você terá então que prestar atenção nessas abelhas o tempo todo e isso pode ser muito cansativo.
Mas se, depois de instalar as telas, você sair para procurar a colmeia, terá a oportunidade de removê-la e corrigir a situação em sua essência.
Transformação espiritual não significa buscar refúgio dos problemas da vida.
Não se trata de acender velas e só ter pensamentos felizes.
Trata-se de enfrentar o caos da vida e mergulhar de cabeça nas nossas reações.
Se estivermos sentados numa almofada em algum lugar sereno com os olhos fechados, talvez nos sintamos temporariamente refeitos, mas não iremos extirpar qualquer dos comportamentos e padrões em nossas vidas que nos fazem sofrer continuamente.
Abra os olhos!
Veja os obstáculos!
Seja agradecido por eles existirem!
Supere-os um por um!
E deixe a Luz brilhar!
 
Por: Yehuda Berg

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