A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


segunda-feira, 19 de março de 2012

Não Acredite Numa Palavra Sequer do que Ler. Teste as Lições Aprendidas



Meus tempos de escola foram quase sempre bem difíceis.
Meus colegas de yeshivá (academia de estudos) eram como eu, exceto pelo fato de que eram diferentes.
Ou, mais precisamente, eu era diferente deles.
Eles estavam sendo criados em famílias judaicas tradicionais e frequentando escolas religiosas, porque era o que se esperava que fizessem.
Mas a maioria deles não tinha a menor vontade de estar lá.
Estavam mais interessados em brincar juntos depois da aula do que em qualquer coisa que os professores tivessem a dizer.
Eles só voltavam para a escola no dia seguinte porque os pais os obrigavam.
A maioria de meus colegas me gozava.
Eles me xingavam e implicavam comigo.
Mas, por mais estranho que pareça, eu gostava de ir para a escola.
Meus pais nunca me obrigaram.
Na verdade, eles nunca me obrigaram a fazer coisa alguma. Isso não quer dizer que eu e meu irmão podíamos ficar lendo gibis e comendo chocolate o dia inteiro. Ao contrário, tínhamos uma vida bem disciplinada.
Só que, por nos educar segundo os princípios da Cabala, meus pais permitiam que nós participássemos ativamente de nosso próprio processo de tomada de decisão. Assumir responsabilidades por nossas próprias escolhas acabou se tornando uma decisão que alterou a nossa vida, como discutirei com mais vagar nos próximos textos.
Antes de continuarmos, vamos parar um pouco para falar sobre religião e espiritualidade.
 
Essas palavras são quase sempre empregadas como sinônimos, mas não são a mesma coisa.
A religião, em geral, compreende algum tipo de crença metafísica ou sobrenatural e inclui muitos dogmas e rituais. Espera-se que você aceite suas teorias como realidades.
É como estar na escola e todos os alunos descolados usarem uma determinada marca de jeans e aí você achar que deveria usar também.
A teoria é que, sem esse jeans, você nunca se adaptará ao grupo nem encontrará a felicidade.
Se você entregar os pontos e comprar o jeans (o que a maioria de nós já fez num momento ou noutro), trata-se de fé cega.
Meu pai nunca deixou que eu escapasse impunemente da fé cega.
Ele me encorajava a assumir responsabilidade por tudo na minha vida.
Quando eu pedia "aquele" jeans, ele ressaltava que havia outras marcas disponíveis — ou calças de veludo cotelê ou calças cargo para substituir.
Eu poderia até usar saia, se eu quisesse!
Meu pai não estava sugerindo de verdade que eu aparecesse na escola de saia, mas estava chamando a atenção para o fato de que eu tinha opções.
Estava me desafiando a analisar o que eu realmente gostaria de usar — e por quê. Esse processo de começar a se conhecer melhor — de começar a entender como você funciona e aprender como dar nova forma a seus desejos num comportamento proativo e benéfico — isto é espiritualidade.
 
Fritar um ovo pode ser uma atividade espiritual se você encará-la com a disposição mental certa.
Quando eu estava com 14 ou 15 anos, decidi que não queria mais pertencer à "multidão".
Olhava meus colegas — até mesmo os mais populares — e seus rostos me pareciam vazios.
Nenhum deles parecia genuinamente feliz.
É certo que eles tinham as roupas certas. Alguns deles iam para escola em carros caros. Alguns conseguiam o número de telefone de garotas de outras escolas em pedacinhos de papel cor de rosa arrancados dos cadernos. Mas nada disso parecia lhes trazer satisfação ou paz de espírito.
E nem seus pais pareciam contentes.
Eles todos eram gente de bem, mesmo os que eram malvados comigo, mas não tinham o que eu sabia ser possível ter.
 
Vi o primeiro lampejo de Luz nos meus pais.
Eles enfrentaram tempos incrivelmente difíceis, mas nunca lhes faltava um sorriso nos lábios, uma palavra gentil, uma mão estendida e até uma piada.
Tinha 14 anos quando meu pai começou a ensinar Cabala para mim e meu irmão. Começávamos a estudar depois do jantar e íamos até tarde da noite.
Foi assim que me tornei o notívago que sou até hoje.
Lembro-me de tomar uma decisão consciente de que ia me aplicar em seguir os passos mostrados pela Cabala — os mesmos de que falo nestes textos.
Os jeans, os tênis Nike, o videogame mais moderno — não havia nada de errado em querer essas coisas, ou até em obtê-las. Mas, com base nelas, não ia conseguir chegar onde queria ir.
Antes de aprender Cabala, tinha estudado judaísmo tradicional na minha yeshivá. Talvez alguns de vocês tenham feito o mesmo ou então tenham tido aulas de catecismo ou frequentado uma escola católica.
Na aula, me ensinaram a acreditar em tudo que estava escrito na Bíblia.
Isso acontece com muitos ensinamentos religiosos e acadêmicos.
É raro que os professores nos peçam para testar as idéias de outras pessoas.
Isso é sério.
Por exemplo, se você deparar com algo na Internet que diga "um rebanho de ovelhas passou voando por sobre a Jamaica hoje", você acreditaria?
Provavelmente não, porque você conhece as ovelhas e sabe, com certeza, que elas não conseguem voar.
Mas se não tivesse o conhecimento prático, acreditaria nessa manchete. Recentemente temos visto escândalos emergirem em revistas e jornais importantes envolvendo jornalistas que mentiram para o público, enganando até seus editores. Programas de televisão foram processados por contarem mentiras.
E estações de rádio estão sempre fazendo retificações ao vivo em relação a notícias divulgadas anteriormente.
Porém, se você não ouvir as retificações, não ler a notícia de que um jornalista mentiu ou não ficar sabendo do processo judicial, continuará a acreditar no erro original. Você cresceu acreditando que a maior parte do que lê, vê ou ouve na mídia deve ser verdadeiro simplesmente porque está sendo apresentado como tal. Você sabia que a produção de Orson Welles chamada A guerra dos mundos — uma peça sobre alienígenas que estavam invadindo a Terra — foi transmitida pela estação de rádio pública em 1938 e as pessoas que ligaram o rádio no meio da transmissão pensaram que aquilo estava realmente acontecendo?
O pânico assolou o país, causando engarrafamentos, congestionando as linhas telefônicas e interrompendo os serviços públicos.
As pessoas realmente acreditaram que estavam sendo atacadas por alienígenas só porque tinham escutado isso numa estação de rádio.
Devemos ter mais cuidado com que o decidimos acreditar — e com o que decidimos rejeitar.
Caso contrário, podemos pensar que nossa vida está em perigo, quando, na verdade, tudo não passa de entretenimento.
Ou vice-versa.
O mesmo é verdadeiro quando se trata de religião.
No fundo, todas as principais religiões adotam a mesma crença básica: ame teu próximo como a ti mesmo.
Apenas os métodos variam.
Infelizmente, muitas religiões impõem um monte de regras e normas a seus seguidores. E não nos concedem a liberdade de questionar se seus ensinamentos fazem sentido.
Se você faz as coisas porque alguém espera que faça, mesmo se este alguém é a religião, seus pais ou seus colegas, você nunca achará a felicidade.
Você nunca encontrará a Luz.
Fé cega é o que estamos tentando combater com estes textos.
Questionar tudo é um ótimo ponto de partida.
Assim como acolher a espiritualidade na sua vida.
Tive amigos no colégio que não queriam viver de acordo com os princípios e regras de seus pais ou professores. Tenho certeza de que esses adultos tinham as melhores intenções, mas, a menos que meus amigos decidissem por si mesmos que caminho fazia sentido tomar, eles não iriam muito longe.
Se seus pais lhe disserem para não pôr a mão num forno quente, isso é bem diferente de realmente tocar no forno, por mais rápido que seja, e aprender na pele por que não deve fazer isso de novo.
Se seu amigo lhe disser que fazer snowboarding é como voar no paraíso, isso não passa de uma teoria ou uma crença até que você mesmo possa descer esquiando pelas montanhas.
Nesse meio tempo, você pode decidir acreditar no seu amigo, esperar para ter uma opinião ou não acreditar no seu amigo de jeito nenhum.
Afinal, um outro amigo pode ter quebrado o snowboard e ter-lhe dito que esse esporte é uma porcaria.
Não tenha medo de reunir informações e formar a sua própria opinião.
É por isso que estamos aqui — para sermos caçadores de informações até obtermos certezas.
A crença abre espaço para a dúvida.
A certeza não.
Isso não quer dizer que precisamos nos desgastar com testes infinitos.
Seus pais podem querer adverti-lo sobre o forno quente e pode ser que no final estejam dizendo a verdade. Mais tarde, eles podem aconselhá-lo a não beber água, se estiver deitado, porque pode vir a engasgar, e isso também pode provar ser uma verdade. Com o passar dos anos, você pode reunir informações suficientes para acreditar que, no momento em que eles o advertirem sobre os perigos das drogas e sobre beber e dirigir, você não precisará testar essas informações, porque eles provaram ser confiáveis.
Espero que você encontre mais uma fonte confiável nos ensinamentos da Cabala. Às vezes você não tem certeza de no que acreditar quando escuta uma informação pela primeira vez.
Isso é normal.
Tente ouvir a voz da intuição.
Você saberá que a sabedoria é pura quando se pegar dizendo "Uau, já sabia disso — lá no fundo sempre senti que isso era verdade".
Se você não tiver essa sensação — se algo que você ouviu ou leu ou viu no final não for verdade de acordo com sua experiência —, descarte a informação.
Isso é verdade para todo tipo de sabedoria, inclusive estes textos.
 
Por: Yehuda Berg
 

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