A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sexta-feira, 23 de março de 2012

O Objetivo de Sua Vida é a Transformação Espiritual: Deixar de Ser Reativo para Ser Proativo



Antes de começar este texto, talvez você queira se alongar um pouco.
Dê uma caminhada. Areje a cabeça. Flexione os joelhos algumas vezes.
Depois pegue sua bebida preferida e sente-se numa cadeira confortável.
Não é que este texto seja mais importante do que todos os outros, mas é que ele introduz conceitos-chave aos quais você deverá prestar uma atenção especial.
 
Em primeiro lugar, vamos dar uma olhada em dois termos que encontramos na discussão da teoria do caos num dos textos anteriores: reativo e proativo.
Você está sendo reativo quando sente que as coisas estão acontecendo com você.
É onde a maioria de nós passa o tempo.
É exaustivo, porque você tem que ficar constantemente alerta para o que quer que de repente aconteça, e depois esperar ter meios para lidar com a situação com habilidade.
Quando você está sendo reativo, se vê falando coisas do tipo:
"Se meu professor não fosse um idiota, eu teria tirado uma nota melhor em espanhol", que é o mesmo que dizer "Meu professor é a causa da minha nota baixa, não eu."
"Billy terminou o namoro comigo uma semana antes da minha festa de formatura no Ensino Médio e agora meu ano inteiro está estragado" é uma outra maneira de dizer "Não estou no controle do meu humor."
"Se eu vivesse num bairro melhor, ou fosse mais magro, ou tivesse uma namorada, ou tivesse um carro mais legal, eu seria feliz" é o mesmo que dizer "Dou todo o meu poder para as aparências; elas estão no controle da minha felicidade, não eu."
 
A linguagem reativa é gerada por nosso ego, ele cresce em nós quando entregamos nosso poder a ele. Toda vez que usamos esse tipo de linguagem, estamos tornando algo ou alguém mais poderoso do que nós.
Desempenhar o papel de vítima é um comportamento reativo típico.
Quando somos vítimas, achamos que o mundo não nos compreende e, ao mesmo tempo, achamos que ele nos deve algo; passamos a ter um senso grandioso do que nos é devido.
Tristemente, isso acontece porque nos sentimos incapazes de fazer algo por nós mesmos. Entregamos tanto do nosso poder que não restou nada.
Mas não vemos as coisas dessa forma.
Achamos que somos perseguidos pelo cosmos:
Eu teria tirado 10 no trabalho, mas meus pais brigaram a noite toda e não consegui me concentrar.
Eu ia sair com a Sharon esta noite, mas Mark a convidou antes de mim.
Eu deveria ter sido o líder da turma no debate, mas aquele professor me detesta.
 
Por outro lado, quando você assume uma postura proativa, você está acontecendo a você mesmo.
Não fica mais esperando para ser atingido pelo resultado de um jogo secreto ou aleatório sendo jogado pelo universo.
Ao ser proativo, você reconhece a sua verdadeira responsabilidade.
As pessoas proativas sabem que se puderem fazer algo para melhorar uma situação, o farão — e, se não puderem, aprenderão a aceitar isso.
Segundo Helen Keller, "Tanto me foi dado. Não tenho tempo para ficar pensando no que me foi negado."
Retomaremos os conceitos de proativo e reativo mais tarde neste texto, mas, por enquanto, vamos voltar a um acontecimento de antes do início dos tempos.
 
Aqui nos encontramos na presença da Luz, a expressão ilimitada de Deus, a quem os cabalistas chamam de Criador. Essa Luz se estende ao infinito, além do tempo, do espaço ou do movimento.
A natureza da Luz é se expandir, transmitir, dar e compartilhar.
Observe especialmente esta qualidade do compartilhar. É importante e voltaremos a esse ponto em breve.
A essência da Luz é a realização infinita, a alegria ilimitada e a iluminação infindável. A amplitude e a natureza da Luz são inconcebíveis, seu poder extraordinário está além de nossa compreensão limitada.
Pense no maior amor que já conheceu, lembre-se de sua realização mais magnífica; relembre o momento em se divertiu mais loucamente, da sua maior gargalhada, da sua melhor noite de sono, da refeição que mais lhe satisfez, do seu beijo mais apaixonado.
Encha essas lembranças como balões de aniversário e continue a enchê-las até cobrir todo o céu. Depois imagine-as ainda maiores, de forma a encher todo o universo, transbordando para universos paralelos ao nosso.
Você só está tendo um pequeno gosto do poder da Luz.
A natureza eternamente expansora da Luz de dar e compartilhar é conhecida como a Primeira Causa.
Para satisfazer seu desejo de dar, a Luz cria um receptor.
Isso é conhecido como o Primeiro Efeito e é considerado a única criação verdadeira que já aconteceu. Esse Receptor, como é chamado, por ter sido criado pela luz, tem a mesma essência.
O Receptor não era literalmente um recipiente, algo do qual você pode beber.
Era um recipiente energético capaz de conter tudo que a Luz compartilhava com ele.
No início, os tempos eram felizes. A Luz estava satisfeita em compartilhar e o Receptor estava satisfeito em receber.
Isso porque a natureza do Receptor era o desejo de receber (em aramaico, a palavra Cabala quer dizer "receber").
Tudo que o Receptor quisesse — absolutamente tudo -, a Luz enviaria.
O compartilhamento da essência da Luz com o Receptor levou a uma unidade impressionante, que é designada Mundo Infinito ou à qual chamamos de Infinito. Dentro do Infinito, era impossível dizer onde a Luz terminava e o Receptor começava.
Pense numa taça entalhada no gelo onde se despejasse água.
A taça é o Receptor e a água, a Luz. Nesse exemplo, ambos são compostos de H20, então num nível molecular é impossível distinguir um do outro. Eles são uma essência em duas formas.
De maneira seme-lhante, o Infinito era a perfeição total — a Luz compartilhando totalmente com o Receptor.
Por causa de suas naturezas idênticas, o Receptor desejava tudo que a Luz estava irradiando.
Imagine que a Luz estivesse irradiando pilhas de cédulas de R$100,00, o Receptor se encontraria ansiando pela riqueza. Se a Luz estivesse gerando pomares de maçãs, o anseio por algo suculento e doce se corporificaria dentro do Receptor.
Se a Luz estivesse emitindo energia sexual, o Receptor repentinamente sentiria uma vontade imperiosa de conhecer alguém especial.
Todos os desejos do Receptor eram instantaneamente saciados.
Você poderia imaginar uma situação mais perfeita?
Por muito tempo, o Receptor também não pôde.
Antes de continuar, vamos conhecer melhor esse Receptor.
Quando a Luz criou o Receptor, muito de sua natureza fluiu para a natureza do Receptor. A natureza básica da Luz é compartilhar. A natureza básica do Receptor é receber, mas na essência continha ambos os anseios.
Com o passar do tempo, o desejo de compartilhar se aprofundou.
Essas duas energias — compartilhar e receber — correspondem ao masculino e ao feminino.
Você se lembra que, no nosso primeiro texto, falei sobre o código contido na Cabala — um código que nos ajuda a ler a Bíblia mais profundamente?
Bem, aqui estão as nossas duas primeiras palavras em código: Adão e Eva.
Adão é a palavra em código para nossa energia masculina e Eva é a palavra em código para nossa energia feminina.
Esse Receptor era nossa raiz, nossa origem.
Todo ser — todas as almas da humanidade, passado, presente e futuro — estava contido dentro do Receptor. E assim como o Receptor, também entramos no mundo como bebês, atentos apenas ao nosso Desejo de Receber.
Mas ao crescermos e descascarmos camadas de nosso ego, ou a cortina, ficamos conscientes de temos também o Desejo de Compartilhar.
 
Um dia, o Receptor ficou entediado.
Ficar recebendo o tempo todo tinha perdido a graça.
Imagine ir ao shopping dia após dia para receber tudo o que quisesse.
É claro que os dois primeiros dias seriam muito divertidos. Mas, em algum momento, você sentiria que algo estava faltando.
Quanto mais a Luz compartilhava, mais a sua natureza penetrava no Receptor e mais parecido om a Luz o Receptor se tornava.
Imagine água quente sendo despejada numa taça feita de gelo. Conforme o gelo fosse se aquecendo, cada vez mais atributos da Luz penetrariam nele, e logo o Receptor ficaria ciente não apenas do Desejo de Receber, como também do Desejo de Compartilhar.
Isso mudou tudo.
Vamos parar um pouco para pensar sobre compartilhar.
 
Há muitas definições dessa palavra. Passe algumas delas pela sua cabeça.
É compartilhamento quando o professor lhe pede que empreste ao colega de trás sua caneta extra porque a dele quebrou?
É compartilhamento quando ajuda uma senhora idosa a atravessar a rua?
É compartilhamento quando você conta a um amigo seus segredos mais obscuros e recônditos?
É compartilhamento quando você recebe toda a família para jantar?
É compartilhamento quando você divide sua barra de chocolate preferida com seu namorado?
É compartilhamento quando você divide a barra de chocolate de que menos gosta com seu namorado?
É compartilhamento quando você dá Ecstasy para um amigo?
É compartilhamento quando você faz sexo?
Pense um pouco nisso.
Chegue a uma noção ativa do que você pensa ser compartilhar.
Lembre-se de que você precisa testar tudo o que ler nestes textos.
 
Agora analise do que você precisa para compartilhar.
Qual foi o único fator que ligou todos os exemplos de compartilhamento?
Em todos, você precisou dar algo — em nível emocional, mental, material ou físico; você precisava ser a causa.
E só sendo proativo, você pode ser a causa.
 
Eis um outro conceito-chave deste texto: o Pão da Vergonha.
Essa é uma expressão bem estranha, mas sua estranheza com certeza a torna mais fácil de ser lembrada.
O Pão da Vergonha é quando vivenciamos uma situação em que tudo nos é dado e somos incapazes de obter algo por nós mesmos.
Em tempos passados, um homem rico cruzou com um homem pobre e o convidou para vir à sua casa para compartilhar um pouco de seu pão.
O homem pobre não comia há dias, então comeu com ganância, deliciando-se.
Mas não conseguia afastar a vergonha que sentia por não ter ganhado o pão com o suor de seu rosto.
E por fim essa vergonha começou a interferir no prazer da refeição.
Daí em diante, o homem pobre teve a percepção direta da vergonha que experimentou pelo pão que obteve sem merecer, ou pelo que agora chamamos de Pão da Vergonha.
Como já notamos, quando nascemos, só somos capazes de receber.
Conforme vamos crescendo, também cresce a nossa capacidade de fazer por merecer o que recebemos. Esse conceito não é difícil de entender se você simplesmente pensar em sua própria vida.
Certamente você conheceu garotos (talvez você seja um deles) que tinham que cumprir tarefas domésticas antes de receber a mesada.
Esses adolescentes ganhavam essa mesada por merecimento e, ao fazê-lo, ganhavam também uma sensação de realização. E lembre-se, realização é aquilo que lutamos para obter.
Agora pense nos garotos que recebem mesada automaticamente.
Eles nunca tiveram que ajudar em casa e talvez até sejam servidos pelos pais ou empregados.
Ambos os grupos de adolescentes acabam tendo dinheiro no bolso, mas aos que não fizeram por merecer falta a sensação de realização que os outros sentem. Crianças e adolescentes que não têm responsabilidade acabam sendo chamados de "estragados".
Esta é realmente a palavra perfeita para descrevê-los, porque, para tais crianças, a oportunidade de se tornarem uma pessoa inteira foi, quase literalmente, estragada para eles.
Eles podem crescer se sentindo cheios de direitos, acreditando que tudo lhes deve ser dado. Mas eles só ficarão cada vez mais insatisfeitos, porque não fizeram por merecer aquilo que receberam.
Tornaram-se o Receptor — apenas receptores — e, portanto, obtiveram Pão da Vergonha.
Isso pode ser aplicado a qualquer aspecto de sua vida.
Pense em como você gastou o dinheiro que ganhou por sua conta, em comparação com o dinheiro que lhe foi dado. Será que umas notas parecem mais preciosas no bolso do que as outras?
Você não fica inclinado a guardar as primeiras por mais tempo?
Você gastou as últimas com coisas que não precisava de verdade?
Qual é a diferença entre receber um 10 num trabalho que você fez de qualquer jeito e receber um 8 num trabalho que você ficou sentado horas a fio para escrever?
Ponha de lado o seu desejo movido pelo ego de receber boas notas e descobrirá que o trabalho do 8 foi muito mais enriquecedor.
Como se sente quando seus amigos comem o bolo de aniversario que você comprou na confeitaria em comparação com o que você fez com suas próprias mãos? E quando você é aceito numa universidade de ponta por suas notas nas provas e na redação em comparação a quando é admitido porque seus pais são ex-alunos e patrocinadores generosos?
Percebe um padrão aqui?
Quando somos a causa, vivenciamos a realização; quando somos o efeito, vivenciamos o Pão da Vergonha.
Isso não quer dizer que você nunca deva aceitar a generosidade. De forma alguma! Ao aceitar a gentileza de outra pessoa, você estará ajudando-a a reduzir seu Pão da Vergonha, o que é bom para todos os envolvidos.
Mas certifique-se de que esteja recebendo com apreciação e com o saber consciente de que a outra pessoa tem algo que precisa compartilhar.
Deve-se atingir um equilíbrio: por algo que obtemos, há um pagamento.
Por exemplo, se seu tio abastado lhe dá de presente aquele violão que você sempre quis — aquele que ninguém na sua família pode comprar —, é claro que você não poderá retribuir financeiramente. Mas você pode se conscientizar da gentileza e generosidade de seu tio. Você pode apreciar o quanto ele o conhece bem, assim como o fato de que ele gastou seu tempo ganhando o dinheiro para comprar o violão, foi até a loja, discutiu as várias possibilidades com o vendedor, o comprou e o levou até a sua casa. Você pode apreciar o violão tanto como instrumento musical que você estava morrendo de vontade de tocar quanto como um gesto de amor.
O mesmo acontece com o Receptor.
 
A Luz o estava satisfazendo em todos os níveis, e por isso a existência do Receptor não envolvia luta nem esforço. Imagine que, em vez de ter que aprender algo, você soubesse tudo. Nada de aulas de matemática, nada de equipe de natação, nada de grupo de teatro depois da aula. Não há nada a aprender.
Você sabe tudo. Você é perfeito em tudo. E todos os outros também. E a pior parte disso é que tudo está sendo feito para você. Você não moveu uma palha para pôr a mesa para comer o macarrão com molho de queijo que jantou ontem de noite. Você não teve que raspar as sobras dos pratos no lixo, nem brigar com sua irmã para decidir quem iria secar a louça. Se você for um rapper talentoso, isso não tem nada a ver com seus insights emocionais. Se você for um gênio da ciência, não foi porque estudou muito. Se você tiver que construir uma casa de madeira na árvore, não haverá dedos esfolados nem calos — você a construirá perfeitamente da primeira vez. Depois de um tempo vivendo num mundo como esse, você provavelmente ficaria com raiva e pediria para quem quer que estivesse lhe dando tudo — tudo mesmo — para, por favor, parar!
E foi exatamente isso que o Receptor fez.
 
O Receptor tinha a eternidade para refletir. Apesar de o Receptor valorizar toda a gentileza para com ele, ficou claro o que ele queria:
(1) ser a causa de sua própria felicidade;
(2) ser o criador de sua própria realização;
(3) compartilhar a realização com os outros; e
(4) ter as rédeas de sua vida em suas próprias mãos.
 
O Receptor estava vivenciando o Pão da Vergonha e todas as emoções negativas que vêm a reboque da boa sorte recebida de mão beijada. Por causa disso, não conseguia mais desfrutar da realização infinita e da felicidade absoluta.
Precisava andar com os próprios pés.
 
Uma vez tive um colega de escola cujos pais tinham mais dinheiro do que qualquer pessoa conseguiria gastar. Eles tinham dois apartamentos em Manhattan, uma casa nos Hamptons, uma outra em Aspen, e outra ainda em Londres. Um motorista o levava para a escola de manhã e voltava para buscá-lo de tarde. Uma cozinheira fazia seu almoço. Suas roupas eram impecáveis. Ele viajava para países fabulosos. Você já imaginou a cena: não havia muito que a Realidade do 1% poderia lhe dar que ele já não tivesse.
Mas você também já pode imaginar que esse garoto era uma das crianças mais infelizes que já conheci. O dinheiro dos pais lhe garantia popularidade, mas o humor dele mudava constantemente, muitas vezes ele era malvado e ia mal na escola.
Nada parecia ter importância para ele; ele não parecia entender o valor das coisas. E quando seus pais apareciam para alguma atividade escolar, se comportavam da mesma maneira. Eles também tinham herdado o dinheiro e, apesar de elegantemente vestidos, não havia afeição entre eles; eles nunca se tocavam ou riam da mesma piada.
Um outro colega de escola não tinha aonde cair morto.
Suas roupas estavam sempre amarfanhadas e suas refeições eram pobres.
O pai dele trabalhava muito administrando uma mercearia, e tinha alcançado esta posição trabalhando ali desde o primeiro emprego como entregador de compras.
A mãe dele era recepcionista num consultório médico da cidade. Ele ia de ônibus para a escola ou, quando o tempo estava bom, ia andando.
Sempre que possível, sua mãe aparecia para buscá-lo na escola.
Quando seus pais estavam juntos, havia muitos beijos e abraços, muitas risadas e uma conversa animada. Essa família podia ter pouco do que a Realidade do 1% pode oferecer, mas o que tinha havia feito por merecer, por isso tinha pouco Pão da Vergonha. E eles valorizavam o que tinham, isto é, uns aos outros.
Isso não quer dizer que todos os ricos sejam maus e os pobres, virtuosos — longe disso! Ter dinheiro pode ser ótimo! É uma maneira maravilhosa de compartilhar. Certifique-se apenas de que você esteja controlando o dinheiro e não o dinheiro controlando você.
E a melhor maneira de fazer isso é ganhar o seu próprio dinheiro.
Você já sonhou em ganhar na loteria? Talvez tenha planos do que faria com esse dinheiro. Você pode ficar surpreso em saber que a maioria das pessoas que ganha na loteria perde todo o dinheiro em questão de anos. Ou suas vidas se tornam um tormento.
Uma mulher gastou todo dinheiro que ganhou na raspadinha só para poder ganhar mais! Alguns até cometeram suicídio, quando o Pão da Vergonha ficou grande demais.
Como então a pessoa pode se livrar desse terrível Pão da Vergonha?
Isso leva à última palavra-chave deste texto: Resistência ou Restrição.
Voltando a como as coisas eram antes do Início dos tempos, o Receptor decidiu que a única maneira de atingir sua meta era se tornar proativo. Assim, decidiu repelir a Luz.
Isso é algo que todos nós já experimentamos — momentos em que seus pais o ajudaram demais com o dever de casa ou um treinador lhe deu assistência demais ao começar a praticar um novo esporte.
Você sabe que, para crescer, precisa fazer as coisas por sua conta, então resiste à ajuda deles e se põe a perseguir suas metas sozinho.
 
Recentemente, Joey, um adolescente, me disse que estava tão farto de sua mãe o levar para a escola de manhã - que ela insistia em fazer para mantê-lo afastado das gangues que se reuniam nas esquinas —, que teve que sair de fininho pela janela do quarto e descer a escada de incêndio para que ela não o seguisse.
Nada disso foi fácil para Joey, mas a superproteção de sua mãe estava, na verdade, o inibindo de se tornar sua própria causa — e ele sabia disso.
No momento em que o Receptor resistiu à Luz, a Luz se recolheu e criou um espaço vago.
E, ao fazer isso, o infinito deu origem ao finito.
Naturalmente, a Luz entendeu por que o Receptor estava dando esse passo e a Luz carinhosamente deu ao Receptor o tempo e o espaço para desenvolver sua própria natureza divina (assim como a mãe de Joey por fim deixou que ele fosse para a escola sozinho — desde que usasse a porta da frente!).
Esse tempo e espaço é o universo físico no qual a Realidade do 1% foi criada para que o Receptor pudesse se livrar do seu Pão da Vergonha — a mesma coisa que Joey estava tentando fazer ao sair de fininho pela escada de incêndio.
Um segundo resultado da Resistência do Receptor foi que as energias de Adão e Eva se separaram uma da outra.
Esses dois segmentos se estilhaçaram então em inúmeros pedaços que se espalharam por todo o universo.
Foram esses pequenos fragmentos de matéria e energia que formaram o cosmos, gerando de átomos a zebras, de micróbios a músicos.
Tudo deriva do Receptor original, incluindo eu e você.
Portanto, tudo o que pensarmos está imbuído de sua própria faísca da Luz, sua própria força de vida.
Isso quer dizer que até objetos inanimados têm alma? Pedras? Rios? Folhas caídas? Sim, sim e sim.
A única diferença entre a alma de uma pedra e a alma de um cantor de rock é o grau e a intensidade de seu desejo de receber a Luz.
 
Novamente: Ao entender o desejo do Receptor de ter a oportunidade de criar sua própria realização, o Criador desmontou o Mundo Infinito e o transformou-o em algo parecido com um quebra-cabeça. Isso permitiu que o Receptor remontasse o quebra-cabeça da criação. Assim como o Receptor, agora podemos nos tornar criadores de nossa realização e a causa de nossa alegria, realizando assim nosso desejo mais recôndito e nossa necessidade mais profunda.
Para nos ajudar a ilustrar essa ideia, digamos que seja o aniversário de seu irmão mais novo.
Você correu todas as lojas para procurar o presente perfeito e finalmente decidiu comprar um quebra-cabeça de Roma, que é onde ele quer morar quando crescer.
O quebra-cabeça já foi montado — de fato, as peças foram coladas juntas - e o resultado foi emoldurado.
Você acha que ficaria ótimo no pé da cama dele para que possa vê-lo toda noite antes de dormir.
Apesar de este ser um presente criativo, quanta realização você proporcionará ao seu irmão? Três, quatro, cinco minutos.
O tempo que levará para pendurar o quadro na parede, certo?
E isso imaginando que quem irá pendurá-lo é ele, e não você!
Agora imagine dar-lhe o mesmo quebra-cabeça de Roma, mas com todas as 1.000 peças misturadas na caixa. Você diz ao seu irmão que parte do presente é que, quando ele acabar de montar o quebra-cabeça, este será emoldurado e pendurado no pé da cama dele. Ele adora a idéia e monta o quebra-cabeça com afinco.
Leva quase um mês para acabar, quando então você o leva até a loja para escolher a moldura. Quanta realização você lhe proporcionou?
Consegue ver a diferença?
Na segunda situação, você deu ao seu irmão o que ele queria acima de tudo: a alegria e a realização de construir o quebra-cabeça sozinho.
 
Depois de desmontar o Infinito, o Criador criou uma série de dez cortinas.
Cada cortina reduziu a Luz, de forma que, no momento em que a Luz atingiu nosso mundo físico através da décima e última cortina, esta estava reduzida à quase escuridão.
Essas dez cortinas criam dez dimensões distintas, que em hebraico são chamadas de Dez Sefirot.
No exato momento do estilhaçamento do Receptor, as Dez Sefirot se contraíram em preparação para o nascimento do nosso universo. Seis das dez dimensões se dobraram, tornando-se uma só, ficando conhecidas como o Mundo Superior.
Urna outra peça do código, elas são a fonte da expressão "seis dias da criação". Você já parou para pensar por que um ser todo-poderoso precisaria de seis dias para criar o que poderia criar mais rápido de que um espirro?
Ele não precisava.
Os seis dias da criação são um código para a união das seis dimensões.
Das quatro restantes, três são precursoras de nosso universo tridimensional e a última se tornou a quarta dimensão do espaço-tempo.
Estamos todos tentando voltar para a Luz, retornar à felicidade infindável e à alegria constante.
Mas dessa vez queremos fazer por merecer.
Ao embarcar nessa jornada, estamos nos livrando do Pão da Vergonha.
 
As cortinas foram colocadas no lugar pela Luz. Ao diminuir sua intensidade, a Luz obscureceu muitos de seus atributos e uma série de dualidades foram introduzidas:
- Se a Luz existe de um lado da cortina, a escuridão tem que se materializar do outro lado.
- Da mesma forma, se a ausência de tempo é a realidade de um lado da cortina, a ilusão do tempo é criada do outro lado.
- Se há uma ordem perfeita de um lado da cortina, o caos existe na outra dimensão.
- Se há totalidade e uma unidade absoluta de um lado da cortina, então existe fragmentação e espaço e as leis da física do outro.
- Se causa e realização total estão de um lado da cortina, então efeito e falta de realização estão do outro.
 
Felizmente, apesar de a Luz diminuir sua intensidade, ela nunca desaparece de todo. Ela ainda está entre nós.
Se você cobrir uma lâmpada com muitas camadas de tecido fino, o quarto acabará ficando escuro, mas a lâmpada ainda estará acesa, tão brilhante quanto nunca.
A intensidade de sua luz permanece inalterada.
As únicas coisas que mudaram foram os panos cobrindo a luz.
Para ter mais Luz, só precisamos aprender a retirar cada camada de tecido.
Mas é aconselhável fazer isso aos poucos.
Todos nós já tivemos a experiência de sair de um cinema escuro para a luz do sol. Isso pode cegar se não estivermos preparados.
 
A meta destes textos é ajudá-lo a retirar as camadas de tecido e se preparar para a presença da Luz. Se isso soar familiar, é porque você conhece alguma coisa do Big Bang e da Teoria das Supercordas na física. As semelhanças entre as descobertas da ciência moderna e os antigos ensinamentos da Cabala são impressionantes. Mas, ao passo que a ciência está focada nos “comos” da realidade física, a Cabala trata dos por quês.
Vamos falar primeiro do Big Bang, que os cientistas hoje descrevem da seguinte forma:
Há aproximadamente 15 bilhões de anos, antes de o universo ser criado, não havia nada. Nenhum tempo. Nenhum espaço. O universo começou num único ponto. Esse ponto estava rodeado de vazio. Não tinha largura. Nem comprimento. Esse pequeno ponto continha todo o espaço, tempo e matéria. O ponto irrompeu numa explosão de força inimaginável, expandindo-se na velocidade da luz como uma bolha. Essa energia por fim se esfriou e se transformou em matéria — estrelas, galáxias e planetas.
Compare isso com o trecho retirado dos escritos do cabalista do século XVI, Rav Isaac Luria.
O universo foi criado do nada a partir de um único ponto de luz. Esse nada é chamado de Mundo Infinito. O Mundo Infinito estava cheio de Luz infinita. A Luz foi então contraída num unico ponto, criando o espaço primordial. Além desse ponto, nada é conhecido. Assim, o ponto é chamado de início. Depois da contração, o Mundo Infinito emitiu um raio de Luz. Esse raio de Luz então se expandiu rapidamente. Toda a matéria emanava desse ponto.
 
Impressionante, certo? E quanto a esta descrição da teoria das supercordas feita pelo famoso cientista Brian Greene:
Assim como os padrões vibracionais de uma corda de violino fazem surgir diferentes notas musicais, os diferentes padrões vibracionais de uma corda fundamental dá origem a diferentes massas e cargas de força.
A teoria das cordas também exige dimensões espaciais extras que precisam ser enroladas até um tamanho bem pequeno para ser compatível com o fato de nunca as enxergarmos.
Não é coincidência que o número de dimensões exigidas para fazer a teoria funcionar (dez) e o número de dimensões condensadas em uma só (seis) sejam idênticas aos números dados pelos antigos cabalistas.
Dr. Michio Kaku, um outro cientista que propõe a Teoria das Supercordas, escreveu o seguinte:
O Universo é uma sinfonia de cordas vibrando. E quando as cordas se movem num espaço-tempo de dez dimensões, elas distorcem o espaço-tempo ao seu redor exatamente da maneira prevista pela relatividade geral.
Os físicos resgatam nosso universo mais familiar de quatro dimensões pressupondo que, durante o Big Bang, seis das dez dimensões se enrolaram numa pequena bola, enquanto que as quatro dimensões restantes se expandiram explosivamente, nos dando o universo que vemos.
 
Vamos voltar ao Receptor, que, ao rechaçar a Luz, deu um passo proativo substancial — um passo ao qual podemos nos relacionar de muitas formas.
Eu com certeza posso.
A minha vida toda, lutei com o distúrbio de deficiência de atenção, conhecido como ADD. Depois de 10 ou 15 minutos, meu tempo de concentração acaba.
Se estou sentado, preciso ficar de pé e andar.
Se estou andando na rua, preciso entrar numa loja ou parar e examinar uma árvore ou uma flor.
No escritório, tenho vários brinquedos em cima da minha mesa para ocupar minhas mãos enquanto trabalho.
Quando eu estava na escola, isso era um problemão.
Além de não conseguir me concentrar, um dos efeitos colaterais era que eu me sentia desconectado de tudo e de todos.
Essa era mais uma razão para eu me sentir deslocado.
Lembro-me do primeiro dia no jardim de infância, de pé no pátio com meu pai.
Eu segurava sua mão bem apertado e observava todas as outras crianças brincando juntas e se divertindo. Não conseguia entender por que elas não estavam brincando comigo. Essa é uma lembrança dolorosa, mas mais tarde percebi que tudo que eu precisava fazer era ir brincar com elas! Meus colegas estavam no meio da brincadeira, já se divertindo. Eu ficava esperando que eles "acontecessem" para mim em vez de ser proativo e me apresentar a eles.
A ideia das crianças brincando não é uma analogia ruim para a Luz, e eu de pé lá não é muito diferente da maneira como todos nós, num momento ou noutro, ficamos do lado de fora da alegria e da brincadeira, conjecturando por que ela não vem até nós! Com certeza, com o passar dos anos, meus pais e vários professores tentaram me ajudar a ocupar o espaço do ADD. E apesar de apreciar sua orientação, minha situação só começou a mudar de verdade quando comecei a assumir responsabilidade por minhas circunstâncias. Forcei-me a falar com as pessoas na escola apesar de estar morrendo de medo.
Meu medo não era timidez — ele advinha de viver em completa desconexão com o que me rodeava. A maior parte do tempo, as crianças com quem eu conversava não faziam a menor ideia do que eu estava passando, mas isso não importa porque o processo naquele momento se referia à minha auto--cura.
Muitas vezes matei aula, porque sabia de antemão que ir até lá seria inútil, já que não era capaz de me concentrar. Saía para longas caminhadas e pensava nos vários aspectos da Cabala que meu pai estava me ensinando.
Comecei a pensar na ideia de que a vida estava passando por mim — e que eu não estava tomando nenhuma providência — e comecei a transformar minha vida em algo positivo. Ao assumir responsabilidade pela minha própria situação, fui capaz de vê-la sob uma nova perspectiva. Tudo bem, eu lutei contra o ADD (e também com a dislexia), mas todo mundo luta contra alguma coisa — muitas vezes muito pior do que aquilo contra o que eu estava lidando.
Há sempre coisas boas e ruins.
E lembre-se, quando o Receptor só tinha tudo de bom, ele acabou por se rebelar. As coisas boas não querem dizer nada se você não as obteve por seu próprio esforço e não for capaz de compartilhá-las.
Eu via várias crianças que não tinham problemas de aprendizagem, mas que vinham de lares em que os pais brigavam o tempo todo ou em que um irmão tinha morrido tragicamente ou onde o pai ou a mãe eram alcoólatras.
Assim como um morador do reino dos queixosos, eu estava totalmente imerso na minha sina, mas, quando olhava isso por outros ângulos, as coisas não me pareciam tão más assim. Além disso, meu ADD continha um tesouro oculto: ele me manteve longe de problemas.
Mais do que a Cabala, o ADD contribuiu para eu ser um excluído na escola. Meus colegas me excluíam por ser tímido e esquisito e por isso eu nunca era a primeira pessoa em que pensavam quando tinham uma droga nova para experimentar ou quando o irmão de alguém comprava um engradado de cerveja ou quando dirigiam um carro a toda velocidade nas estradas que margeavam a cidade de Nova York. Sem que eu me desse conta, o ADD me manteve seguro.
Sempre há uma razão para tudo.
Quase sempre, principalmente no início, talvez não saibamos a razão, mas isso não quer dizer que ela não exista. Alguém que tenha acne na adolescência pode se sentir solitário, frustrado e deprimido. Por que eu? poderia pensar.
Por que não posso ter uma pele lisa como todo mundo?
Ainda assim, essa acne pode ter poupado adolescente de uma experiência dolorosa. Talvez o tenha poupado do sexo causal, que poderia ter resultado numa gravidez indesejada ou numa doença sexualmente transmissível. Isso seria bem pior do que a acne, apesar de na época nada ser pior do que uma pele cheia de erupções. Quanto mais eu conseguia ser proativo em relação ao meu ADD, mais fácil ficava lidar com isso e mais alegre a minha vida se tornava.
Tinha uma rica vida familiar e, apesar de meus dias na escola serem tumultuados, sempre conseguia me encaixar na minha família — apesar de minha casa estar sempre cheia de estranhos que meus pais convidavam. Por fim, consegui transformar minha luta em energia positiva — energia que pude compartilhar com outras pessoas que também estavam passando por situações dolorosas.
Quando olhamos para a Realidade dos 99%, descobrimos quatro atributos-chave da Luz que precisamos expressar no nosso mundo, para remover o Pão da Vergonha. Esses aspectos já estão dentro de nós, pois a Luz os compartilhou conosco antes do início dos tempos.
São eles que revelamos cada vez que abafamos o ego e abrimos a cortina.
São estes os atributos de ser proativo:
- Ser a causa;
- Ser o Criador;
- Estar no Controle;
- Compartilhar.
O mundo não é algo que nos acontece.
É algo que fazemos acontecer. E agora — neste exato momento, enquanto você lê esta frase — você está moldando o ambiente que determina cada aspecto da sua vida.
Fazer isso com consciência, amor e compaixão só pode nos levar para mais perto da Luz.
Ao contrário, os traços do Receptor são reativos:
- Ser o Efeito;
- Ser uma Entidade Criada;
- Ser Controlado por Tudo;
- Receber.
O comportamento reativo está baseado no Desejo humano de Receber — o desejo original criado no Mundo Infinito.
O comportamento reativo inclui a raiva, a inveja, o excesso de confiança, a baixa autoestima, a cobiça e a animosidade.
Na verdade, 99% do nosso comportamento é reativo.
Então o que podemos fazer a esse respeito?
Tornar-se a causa de um jeito que envolva compartilhar.

Yehuda Berg

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