A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


sexta-feira, 23 de março de 2012

Em Momentos de Transformação Fazemos Contato com o Domínio dos 99%


Eu cresci torcendo para o time de basquete Knicks de Nova York.
Assistir Patrick Ewing e Mark Jackson arrasar seus adversários parecia o paraíso na terra.
Meu irmão e eu não perdíamos nenhum jogo pela televisão.
E, de vez em quando, ganhávamos ingressos para assistir aos jogos ao vivo.
Porém, apesar do meu amor pelo Knicks, foi o pior pesadelo do meu time, Michael Jordan do Chicago Bulis, que primeiro me ensinou sobre transformação.
Assistindo-o jogar, soube, sem sombra de dúvida, que ele tinha feito contato com a Realidade dos 99%.
Era uma bela visão quando Michael Jordan desafiava as leis da gravidade, girando, parando no ar e atirando a bola de uma forma que não parecia humanamente possível. E assim, apesar de torcer muito pelo meu time, ficava embasbacado com seus talentos.
Bem diante dos nossos olhos, ele estava se conectando com o 99% e eu queria me ligar também.
Só que eu era eu, empacado numa escola cheia de crianças que não me entendiam, e a quem, em sua maioria, eu também não entendia.
As únicas coisas que eu tinha na minha "quadra" eram minha família e a Cabala. Mas, quanto mais eu crescia, mais percebia o quão potentes essas coisas são.
 
Este texto é sobre o momento em que decidimos como vamos agir — o momento em que a transformação é possível.
Acredite ou não, existe realmente um milissegundo de possibilidade, antes de cada decisão que tomamos, mesmo para aquelas decisões que nos parecem instantâneas.
E se treinarmos nossas mentes para reagir nesse momento com o Desejo de Compartilhar (proativo) e não com o Desejo de Receber (reativo), nossas vidas começarão a ganhar uma forma mais positiva.
Cada vez que resistimos a uma reação, transformamos um aspecto específico de nós mesmos.
Quando Michael Jordan estava na quadra, tenho certeza de que ficava atento aos atos de todo mundo, mas nunca parecia reagir a eles.
Ao contrário, implementava pró-ativamente sua própria estratégia e, ao fazê-lo, elevava o nível do seu jogo e do de seus companheiros de time.
Vamos falar sobre causa e efeito por um momento.
 
Sempre que reagimos a eventos externos, nos tornamos nada mais do que um efeito do que quer que esse evento externo seja.
Um motorista na faixa ao lado grita conosco e nós respondemos gritando.
Esse comportamento nos deixa empacados, onde o Receptor estava empacado há muito tempo.
Ao deslocar nossa atenção para transformar essa energia através do crescimento pessoal, nos tornamos criadores. Tornamo-nos a causa.
E, ao nos tornar a causa, não somos mais arrastados pelas forças externas, sejam elas positivas ou negativas.
Ganhamos controle.
E ter o controle de nossas próprias vidas é maravilhoso! Significa que podemos decidir compartilhar.
Quando nos esquecemos ou nos recusamos a compartilhar — quando esperamos apenas receber -, estamos gratificando nosso ego. E, de forma consciente ou não, estamos garantindo que cada camada da cortina permaneça comodamente no lugar.
Nosso ego é nossa ignorância.
Ele viceja no comportamento reativo porque, quando estamos reagindo a algo, tudo se refere ao eu — e isso é o que nos mantém afastados da Luz.
Não estou falando aqui de ego saudável — aquela parte de nós que se regozija em receber elogios por assar uma fornada deliciosa de brownies para os amigos ou a satisfação que sentimos ao ver um conto que escrevemos publicado ou ao enfrentar o garoto que está implicando com nosso irmão menor.
Estou falando do ego que pensa que, sempre que chove, é o seu dia que está sendo arruinado (apesar de estar chovendo na cidade inteira). Ou que, se seu irmão não quiser ajudá-lo com o dever de casa, é porque ele está zangado com você ou não liga para você — não porque ele pode ter tido um dia difícil na escola ou esteja cansado.
É o ego que nos faz acreditar que somos o centro do universo e que tudo gira em torno de nós.
Anteriormente, discutimos como todos nós estamos lutando para reduzir nosso próprio sofrimento e encontrar nossa própria felicidade.
O problema é que com frequência interpretamos de maneira errada os atos dos outros, como sendo um “contra mim" quando de fato são apenas pró-eles, isto é, que eles não têm nada a ver conosco.
Quanto menos levarmos as coisas para o lado pessoal, mais felizes seremos.
Se o metrô está atrasado, isso não está acontecendo só conosco.
Não somos a única razão para o metrô existir.
Se o seu pai não deixar que você use o carro, isso não quer dizer que você esteja sendo tratado de forma injusta; outras pessoas também precisam usar esse carro. O carro não existe apenas para você.
Há alguns anos, um estudo científico revelou que as pessoas que mais usavam as palavras “eu”, “mim” e “meu”, sofriam mais ataques cardíacos
Isso porque seus corações estavam presos na armadilha do ego em vez de se abrirem e compartilharem!
Nosso ego espera receber.
Nosso ego nos mete em encrencas.
Precisamos controlar esse ego.
Precisamos parar de deixar que ele fique livre, nos impelindo a reagir às coisas. Experimente resistir ao seu ego e veja o que acontece.
Comece em pequenos lugares, com pequenos passos.
Entenda que o que você está realizando não é fácil.
O ego rastejará ao seu encalço quando você menos esperar. E ele lutará quando você tentar afastá-lo.
No final das contas, ele adora ser o centro das atenções!
Então, seja paciente consigo mesmo.
Seja gentil consigo mesmo.
Todo passo adiante conta, mesmo um bem pequenino — e, se você se frustrar porque não está se movendo rápido o bastante, é só porque o ego está levando vantagem.
Estamos aprendendo a amar o próximo como amamos a nós mesmos.
Então preste uma atenção especial para amar-se a si mesmo.
Lembre-se, você não conseguirá pôr a máscara de oxigênio em mais ninguém se não estiver com a sua no rosto!
Uma moça, Sarah, uma vez me contou uma história dolorosa sobre resistir ao ego. Ela vivia com sua mãe e o namorado da mãe, Duane.
Duane costumava bater na mãe dela com regularidade, mas a mãe se recusava a abandoná-lo. Sarah disse que sua mãe amava Duane e acreditava que, com o tempo, poderia acalmá-lo.
Um dia, Sarah chegou da escola e encontrou a mãe caída no chão da cozinha inconsciente, banhada em sangue.
Num primeiro momento, Sarah pensou que sua mãe tinha morrido.
No hospital, os médicos disseram a Sarah que sua mãe tinha quebrado o braço, duas pernas e a bacia e ainda tinha batido com a cabeça, mas que estavam esperando que ela acordasse para dar mais detalhes sobre sua plena recuperação. Sarah ficou arrasada — e com muita raiva.
O pai dela tinha dado à sua mãe uma arma para proteção anos atrás e Sarah sabia onde ela a guardava. Então Sarah carregou a arma e saiu à procura de Duane.
Sem muita dificuldade, ela o encontrou do lado de fora de seu bar favorito, paquerando uma mulher. Sarah se escondeu atrás de uma árvore.
"Tinha-o sob minha mira", Sarah me contou. "Podia ter atirado nele fácil. No momento, era o que parecia a coisa certa fazer."
Então se lembrou do que estava estudando nas aulas de Cabala e se forçou a parar. Instantaneamente, percebeu que, ao estar de pé ali com a arma apontada para Duane — por mais poderosa que pudesse se sentir —, ela realmente tinha aberto mão de seu poder. Ela era um mero efeito, não a causa.
E, logo que percebeu isso, baixou a arma e voltou para casa.
"Se eu tivesse atirado", disse ela, "teria aberto mão de tanto do meu poder que ser a causa teria sido um objetivo muito mais difícil de alcançar".
No momento em que Sarah decidiu não atirar, ela revelou a Luz a si mesma e ao mundo.
 
Os passos descritos nestes textos lhe servirão pelo resto da vida.
Essas são as boas notícias. Também é verdade que ao fim de uma semana, ou de um mês, ou até de um ano, alguns lhe escaparão.
O processo de transformação também durará a vida toda.
Então não espere "acabar logo com isso".
Não é a natureza do compromisso que você está fazendo.
Basta começar onde está, não onde pensa que deveria estar, e num ritmo confortável.
Eis uma coisa importante para se guardar na cabeça sobre reagir: é fácil.
É por ser fácil que a reação lhe dá Pão da Vergonha, que é exatamente o oposto do que você está buscando com tanto ardor.
Se estamos reagindo passiva ou agressivamente, isso não faz a menor diferença. Desde que resvalemos para reproduzir nossa tendência natural em qualquer situação determinada, estamos abrindo mão de nosso livre-arbítrio.
Na realidade do 1%, nosso livre-arbítrio consiste em ser reativo ou proativo.
Essa é uma ideia importante, então pare um pouco e pense nisso.
Se você for como eu, deve pensar que a maior parte dos aspectos de sua vida envolvem livre-arbítrio: você pode comer cachorro quente ou um hambúrguer de soja, você pode usar seda ou brim, você pode escovar os dentes ou ir direto para a cama, e por aí vai.
Mas, em cada caso, você não está escolhendo coisa nenhuma; só está satisfazendo um desejo e, portanto, você é o efeito.
A escolha entre o cachorro quente e hambúrguer de soja não é o ponto.
Você é um efeito da sua fome.
O livre-arbítrio entra em cena quando você decide refrear esse desejo — ou não. Quando reagimos a alguma coisa, estamos lançando mão de nossa natureza animal. Até onde sabemos, os animais não são capazes de acessar esse milésimo de segundo antes de uma reação. O desejo deles é compulsivo, assim como suas reações; estão sempre em busca da gratificação instantânea.
Quando paramos um momento ou refreamos nossa reação, no entanto, estamos lançando mão de nossa natureza divina.
Optamos por não ser mais o efeito de nosso desejo.
Em vez disso, optamos por ser a causa.
A restrição, a propósito, não significa que não decidiremos saciar esse desejo no final. Só significa que paramos e tomamos uma decisão consciente.
Conheci vários garotos na escola que estavam entediados com a vida. Isso era comum. Por uma razão ou por outra, a maioria dos adolescentes se torna presa fácil do tédio!
Alguns deles caem nas drogas ou no álcool, e isso funciona temporariamente.
Não há Restrição aqui; seu comportamento é simplesmente o efeito de seu desejo. Por fim, esses garotos "se queimam".
A gratificação instantânea atrai a Luz tão rapidamente que é insuportável.
Portanto, os que caírem nessa armadilha não estarão criando algo que durará pelo resto de suas vidas.
Havia um outro grupo de adolescentes que reagia ao tédio de forma diferente.
Eles refreavam seu desejo pela excitação instantânea e começavam a refletir sobre o que poderiam fazer para contribuir pelo bem de todos e, ao mesmo tempo, melhorar suas vidas.
Ao se envolverem em serviço comunitário ou trabalho de tempo parcial, esses garotos se tornaram a causa.
Ao refrear o desejo, tiveram capacidade de reagir pró-ativamente.
Ao fazê-lo, estavam revelando a Luz que poderiam levar consigo pela vida afora. Digamos que você esteja esperando para encontrar um potencial namorado ou namorada num restaurante.
Você está usando seu vestido preferido ou sua calça cáqui e sua camisa social favorita.
Você demorou um pouco para se arrumar, querendo caprichar. E está animado, porque, apesar de ainda não conhecer muito bem essa pessoa, você gosta dela. Depois de 15 minutos da hora marcada para o encontro, seu celular toca.
É ele ou ela, cancelando.
Quando descrevo essa cena numa aula que esteja dando, as tensões dos alunos variam bastante. Uma aluna pode dizer que pediria uma bebida e paqueraria o primeiro homem desacompanhado que aparecesse. Ela estaria tentando punir a pessoa que iria encontrar por ter cancelado. Um outro aluno pode pedir três pratos e acabar comendo em excesso. Ele estará punindo a si mesmo.
Um outro pode chorar, sentindo-se magoado e insignificante.
Cada uma dessas respostas é uma reação ao telefonema.
Você consegue perceber isso?
 
Nenhuma delas é autogerada. Todos estão direcionando sua reação para fora (buscando vingança) ou para dentro (comendo em excesso). Raramente alguém diz: "Se a pessoa não apareceu, talvez tenha tido um bom motivo para isso. Se não, então estou feliz por não ter gasto mais tempo nessa relação. Essa não é a pessoa certa para mim. Sou a Luz e estou satisfeito por não ter sido desconectado da Luz por uma relação doentia."
Ao sermos proativos, estamos resistindo à reação automática de nos submetermos a um acontecimento ou a uma série de acontecimentos.
Quanto mais resistirmos efetivamente, mais nos abrimos para a Luz.
Vamos falar com sinceridade.
Parte da razão porque reagimos às coisas é a gratificação instantânea que obtemos.
Se reagirmos com raiva, podemos nos sentir melhor depois de explodir.
Se reagirmos de forma manipuladora, talvez gozemos da sensação de estar no controle.
Se reagirmos alegremente, provavelmente sentiremos um prazer imediato.
Nesses momentos, bons ou ruins, quando geramos essa energia tremulante de poder, estamos nos conectando com a Realidade dos 99%. Mas conectar-se momentaneamente com a Realidade dos 99% não necessariamente promete que estejamos revelando a Luz ou nos realizando de uma maneira duradoura ou significativa. Quando nossos desejos são imediatamente satisfeitos, é mais provável que vivenciemos o Pão da Vergonha e "nos queimemos".
Lembre-se de que reagir pode dar uma sensação "positiva".
Por exemplo, quando alguém me elogia por um novo corte de cabelo ou gosta de algum texto que escrevi, isso pode me alegrar — mas, nesses exemplos, a outra pessoa é a causa e nossos sentimentos de alegria são mero efeito.
Assim, nossa felicidade será temporária.
Também corremos o risco de acabar ficando dependentes de elogios ou cumprimentos para experimentar a felicidade.
Um fluxo de felicidade externa pode ser tão perigoso quanto o de raiva externa. Lembre-se, estamos batalhando para nos tornarmos nossa própria causa.
Isso não significa que não teremos reações a situações, que coisas boas ou ruins acontecerão em torno de nós e permaneceremos impassíveis. Não estamos aspirando a uma vida como a descrita no filme “Mulheres Perfeitas”; as emoções sempre nos assaltarão enquanto vivermos.
O que estamos tentando fazer é aprimorar nossa capacidade de reconhecer nossas emoções quando surgirem e treinar nossa mente a trabalhar dentro dessa pausa para não reagirmos reflexivamente.
Conexões momentâneas com a Luz, quando derivadas de fatores externos, nos proporcionam breves lampejos do potencial da transformação profunda, mas a única maneira de permanecer nessa magia é resistir ao nosso comportamento reativo com consciência e afinco.
Vamos examinar como é a verdadeira transformação.
 
Primeira situação: cem mil dólares em notas pequenas estão em cima de uma mesa num escritório. Um homem entra e vê o dinheiro. Depois de se certificar de que ninguém está olhando, embolsa o dinheiro e foge feito um ladrão.
Segunda situação: um homem entra e vê a mesma montanha de dinheiro. Fica muito nervoso por estar perto de tão grande soma, começa a tremer e sai correndo feito um coelho assustado.
Terceira situação: um homem entra e vê o dinheiro. Ele se certifica de que não tem ninguém olhando. Então embolsa o dinheiro e começa a correr. Depois para. Fica atormentado um instante e decide trazer de volta o dinheiro para a mesa.
Quarta situação: um homem entra e vê o dinheiro.
Pega as notas e bota dentro de uma pasta.
Tranca a pasta e entrega para o chefe dos seguranças.
Deixa um bilhete em cima da mesa, informando a quem tiver colocado uma grande soma de dinheiro num lugar indevido para entrar em contato, que ele encaminhará essa pessoa às autoridades para recuperar o dinheiro.
Qual comportamento você acha que se parece mais com o que você faria?
Pense no que aprendeu até agora.
Que situação revela mais Luz espiritual?
Em que situação, o homem é a causa e não o efeito?
Qual homem expressa mais Luz espiritual em sua própria vida?
A resposta pode surpreendê-lo.
Vamos analisar os atos de cada homem.
 
Primeira situação: neste caso, o homem é governado por seu Desejo de Receber instintivo e reativo, que lhe diz para pegar o dinheiro e fugir. Por causa de seu comportamento reativo, não recebe a Luz da realização em sua vida. Ele é o efeito, não a causa, e, portanto, terá o Pão da Vergonha.
Segunda situação: este homem está apenas reagindo a seu desejo instintivo de ficar assustado. Reagir a seu instinto natural não produz Luz.
O homem entra e sai do prédio sem mudar sua natureza.
Terceira situação: o homem inicialmente reage a seu desejo de roubar o dinheiro, mas então, naquele momento crucial, antes de tomar uma decisão, ele para.
Abate sua reação de forma proativa. Então, indo contra seu instinto inicial e transformando sua natureza nesse instante único, ele devolve o dinheiro.
Ele se torna a causa, o construtor de seu próprio destino — não o efeito de uma pasta cheia de dinheiro! Sua transformação, de deixar de ser reativo para passar a ser proativo, revela Luz espiritual.
Quarta situação: este homem apenas reage a seu desejo instintivo de fazer a coisa certa. Ele já estava num estado mental proativo em relação ao roubo do dinheiro. Não ocorre mudança de natureza. Ele permanece a mesma pessoa durante toda a situação. Tal comportamento não produz Luz adicional na vida dessa pessoa, de acordo com a Cabala.
No entanto, homem digno desta situação também tem oportunidade de revelar a Luz. Depois de devolver o dinheiro, precisa não reagir a seu ego, que lhe diz que ele é bom e virtuoso. Ele precisa resistir a seu Desejo de Receber, o que, neste caso, significa seu desejo de receber elogios por sua boa ação.
Ele precisa perceber que a grande oportunidade para ele reside não no ato físico de devolver o dinheiro, mas em manter sua boa ação em segredo e rejeitar o autoelogio.
Lembre-se de que nossos traços positivos não revelam a Luz.
A Luz que já tinha sido revelada anteriormente por transformar seu comportamento de reativo para proativo não vai embora.
Ela está enchendo o seu Receptor, e está segura. Mas nova Luz só é revelada quando identificamos, arrancamos e transformamos nossas características negativas.
É o grau de mudança em nossa natureza que determina a medida de nossa realização.
Vou contar uma versão atualizada de um conto cabalista tradicional "O homem sábio e os dez ladrões", para ilustrar este ponto.
José, o carteiro, vivia numa cidadezinha do interior.
Ele e sua mulher, Clara, tinham um único filho chamado Davi. Quando Davi fez sete anos, foi afligido por uma doença misteriosa.
A cada dia que passava, o garoto ficava mais fraco.
José viajou centenas de quilômetros para consultar vários médicos, nas nada adiantou. Clara podia ver nos olhos de seu filho que o tempo estava se esgotando. Ela podia sentir o anjo da morte pairando sobre o quarto dele.
O pequeno Davi precisava desesperadamente de um milagre.
Acontece que um velho sábio vivia na mesma cidade.
Ele não era médico, mas o povo do local recorria a ele em busca de cura para doenças resistentes a outros tratamentos. Corria o boato de que ele podia falar com os anjos e realizar todos os milagres. A última opção de José foi fazer uma visita ao velho sábio.
Quando soube da situação desoladora do jovem Davi, o sábio ficou muito entristecido. José implorou que ele fizesse alguma coisa, como uma reza ou uma benção.
O curandeim segurou a mão de Jose e disse que faria o melhor que pudesse. Naquela noite, o velho místico ascendeu ao mundo espiritual, usando rezas secretas e meditações conhecidas apenas por uns poucos.
Quando chegou aos portões do paraíso, ficou impressionado em ver que os portões estavam trancados. O destino do menino já fora traçado.
A noite passou rápido e o sol da manhã começou a nascer a leste por sobre esta singular cidade do interior. Jose e o sábio se encontraram na porta do correio.
Com muito pesar, o ancião deu as noticias ao carteiro. "Temo não poder fazer nada", disse o sábio, "já foi decretado que os portões do céu permaneçam trancados para seu filho". Jose ficou arrasado. Lagrimas corriam por sua face ao implorar ao ancião que tentasse mais uma vez. "Não tenho mais a quem recorrer", chorava Jose. "Davi é meu único filho e você, minha última esperança."
Sem coragem de negar ajuda a esse homem atormentado, o velho místico respondeu: "Não posso prometer nada. Mas vou fazer uma última tentativa."
Nesse momento, uma ideia incomum lhe ocorreu.
Imediatamente chamou seu assistente, Tomas, e fez-lhe um pedido peculiar. "Por favor, vá correndo a cidade mais próxima", disse o místico, "e traga dez criminosos impiedosos. Não traga menos do que dez". Tomas ficou chocado, mas ele sabia que não devia argumentar com o homem que podia falar com os anjos.
Tomas foi de carro ate a cidade e, para sua surpresa, conseguiu reunir dez ladrões sem demora. De fato, ele se surpreendeu com a rapidez com que eles concordaram em acompanha-lo ate a casa de seu mestre.
Até mesmo esses criminosos conheciam a fama do misterioso curandeiro da cidade próxima, que possuia poderes extraordinários. Tomas e o bando sórdido chegaram a casa do místico, que os agradeceu por virem e os convidou a entrar.
Alguns dos mais cruéis criminosos do país sentaram-se em sua sala de estar, contando uns aos outros, com empáfia, suas histórias favoritas de crimes.
O ancião sinalizou que fizessem silêncio.
Todos viram com respeito quando o ancião que podia fazer milagres, o curandeiro que podia curar as mais terríveis doenças, pediu que esses ladrões inveterados rezassem junto com ele.
Na manha seguinte, ao nascer do sol, enquanto os galos cantavam e uma brisa de verão de odor adocicado soprava ainda mais suavemente, Jose, o carteiro, dançava loucamente na rua principal, parecendo o homem mais feliz do mundo.
Um carro parou ao lado do homem em êxtase.
Tomas estava ao volante. No banco de trás, o velho sábio. "Meu caro amigo", exclamou ele, "pelo seu semblante alegre e seus pés dançantes, parece que você tem boas novas para contar!". "Agradeço de todo coração", gritou o carteiro, "meu lindo menino Davi recebeu uma graça durante a noite. É como se ele nunca tivesse estado doente. Ele esta lá fora ordenhando as vacas e fazendo as tarefas habituais, enquanto estamos conversando!"
"São mesmo ótimas noticias", disse o homem que podia falar com os anjos. "Fique bem, meu amigo." E o sábio foi embora.
Espantado, Tomas, virou-se para o banco de trás e perguntou: "Como isso foi possível? Aqueles que eu trouxe ontem... são assaltantes, arrombadores de cofres e criminosos da pior espécie. Ladrões. Por que o senhor rezou com sujeitos dessa laia?
E foi assim que o sábio respondeu:
"Quando, naquela primeira noite, rezei por nosso amigo e seu filho, vi que os portões do céu estavam trancados.
Não havia nada que eu pudesse fazer.
Mas o homem estava com o coração despedaçado.
Como podia me recusar a ajudá-lo quando ele me rogou que tentasse mais uma vez? Então uma ideia me ocorreu. Pedi-lhe que trouxesse aquele grupo de bandidos, o que você fez. E aí, na noite passada, rezei novamente, mas os portões do céu ainda estavam trancados."
Tomás estava confuso. "Então o que aconteceu?", perguntou ele. "Como o senhor curou o menino se os portões continuavam trancados?"
O místico abriu um sorriso largo. "Ah, dessa vez, eu tinha um bando de ladrões para me ajudar", respondeu ele. "Sabe, Tomás, os ladrões sabem tudo sobre arrombar e invadir. Trouxe-os comigo na jornada e ele arrombaram os cadeados. Aqueles criminosos invadiram o paraíso e foi assim que minhas orações puderam penetrar no santuário celeste."
O carro prosseguiu.
Ainda estava cedo, mas a cidadezinha estava começando a voltar à vida.
Se soubesse onde procurar, encontraria vários criminosos profissionais misturados com o povo honesto, discretamente tirando o chapéu para o curandeiro, enquanto seu carro passava.
 
Adoro esse conto.
O místico representa a nossa alma, todas as nossas qualidades positivas.
Os ladrões representam todas as nossas características negativas e egocêntricas. Afinal, somos todos ladrões, em alguma medida.
Como vemos nesse caso, nossas boas qualidades não são suficientes para fornecer todas as respostas a nossas orações.
São nossos atributos negativos que fornecem as chaves de entrada no céu.
Quando identificamos e nos esforçamos para transformar nosso egocentrismo, as chaves giram e as trancas dos portões se abrem.
Bênçãos e boa sorte ficam livres para jorrar sobre nós.
Uma outra lição que encontramos aqui está na boa vontade do sábio de continuar a tentar mesmo quando tudo parecia perdido.
Ao praticar a transformação, não tenha medo de falhar. De fato, revelamos mais Luz a nós mesmos e ao mundo quando caímos e nos levantamos de novo.
Se nunca cairmos, ficaremos sempre iguais. E apesar de o tempo nos fazer prosseguir fisicamente, a espiritualidade nunca se desenvolve.
O fracasso pode atingir nossa autoestima, gerando depressão e ansiedade, que são reações naturais a uma situação difícil.
Mas reaja sendo gentil consigo mesmo.
Tente não se massacrar. Na verdade, comemore por ter caído!
Michael Jordan poderia ter sido um bom jogador de basquete sem se conectar com a Realidade dos 99%. Sua maneira de jogar teria sido impressionante, mas desafiando-se a resistir à jogada fácil, à reação fácil à movimentação de um outro jogador, ele teria se superado?
Quando eu era jovem, Michael Jordan era uma das poucas coisas que faziam sentido para mim. E ele me fez pensar não só em como eu poderia ter acesso à Realidade dos 99%, mas também em como poderia fazer isso durar.
 
Por: Yehuda Berg

Nenhum comentário:

Postar um comentário