A espiritualidade frequentemente sai pela janela no instante em que entramos em uma discussão, tropeçamos em uma crise ou caímos em depressão.



A escuridão toma conta tão rapidamente que esquecemos de tudo que aprendemos.



É por este motivo que é bom estudar diariamente, ler uma passagem da torah ou algum texto inspirador, decorar uma citação ou assistir uns minutos de uma palestra para nos lembrarmos do que é realmente importante.



Dê a sua mente algo para mastigar, para que ela não mastigue a si mesma.



Yehuda Berg


quinta-feira, 29 de março de 2012

Quando os Desafios Parecem Insuperáveis, Injete Certeza


Segundo a Cabala, cada um de nós chega a este mundo com uma bagagem espiritual de vidas anteriores. Essa bagagem é constituída por todas as vezes em que fracassamos em resistir a nosso comportamento reativo, que precisará ser corrigido em algum momento no futuro.
Este conceito de correção é chamado de Tikun.
É a área onde precisamos fazer nosso trabalho espiritual.
Você pode ter um Tikun com dinheiro, saúde ou relacionamentos.
Sabemos que nos deparamos com nosso Tikun pessoal quando uma situação nos parece desconfortável!
Se ficamos intimidados com as garotas populares na escola, temendo gostar de algo de que elas não gostam ou com medo de não gostar de algo que elas fazem, isso é nosso Tikun pessoal — algo que precisa ser corrigido.
Se temos dificuldade de defender nosso trabalho perante um professor e depois aceitamos uma nota que sentimos que não merecemos, isso também é parte de um Tikun.
Quando não conseguimos explicar a nossos pais que não queremos mais que eles nos levem para o shopping porque achamos que já temos idade para ir de ônibus ou andando, isso também é nosso Tikun.
Observe o comportamento repetitivo.
Se você for constantemente a vítima de uma situação ou se você for sempre o ofensor, isso é Tikun.
Se damos duro no trabalho e não ganhamos um tostão enquanto nossos amigos relaxam e arrumam empregos bem pagos, isso também é Tikun.
E se sempre nos achamos no mesmo drama nos relacionamentos, não importa quem seja o parceiro, isso é Tikun.
Infelizmente, quando não conseguimos resistir a um comportamento reativo, fica mais difícil corrigi-lo na próxima vez.
Esse traço reativo em particular fica mais forte.
Nosso Oponente fica mais forte.
Nosso Tikun aparecerá continuamente, por meio de várias pessoas em inúmeras situações. Inicialmente, talvez nem reconheçamos a correção em suas inúmeras formas.
Mas quanto mais praticarmos os passos apresentados nestes textos, mais fácil será identificar um Tikun particular — mesmo que desta vez ele assuma a forma de um bibliotecário que se alonga num telefonema em vez de um balconista que não corta a conversa com um amigo falastrão para atendê-lo.
Se estamos nos sentindo desconfortáveis numa situação ou com uma pessoa, com toda certeza estamos enfrentando nosso Tikun.
E você corrige o seu Tikun por meio da Resistência.
 
Com este entendimento não podemos mais nos ver como vítimas.
 
Simplesmente não podemos mais embarcar na ideia de que a vida está nos acontecendo.
Você e só você moldou a sua vida até agora.
Você a está moldando agora, neste exato momento.
E seu futuro está totalmente em suas mãos.
Cada decisão que você toma influencia como sua vida está e parece ser neste novo momento, e em todos os momentos ainda por acontecer.
Alguns de vocês devem ter visto o filme Feitiço do Tempo. Se você não viu, é um clássico que vale muito a pena alugar. Ele também ilustra muito bem o princípio cabalístico do Tíkun em funcionamento.
Nesse filme, Bill Murray interpreta Phil Connors, um repórter de meteorologia que é o personagem reativo por excelência — centrado em si mesmo, presunçoso e indiferente ao mundo ao seu redor.
Mas Phil fica preso numa teia do tempo.
O dia que está vivendo — 2 de fevereiro, ou o Dia da Marmota — fica se repetindo sem parar, e ninguém sabe disso, só ele.
É divertido no início, enquanto Phil tira vantagem da situação, aprendendo tudo o que pode a respeito do seu mundo e das pessoas que fazem parte dele, a fim de manipulá-las e fazê-las servir a seus próprios interesses.
Toda manhã, Phil acorda quando os prazeres momentâneos se extinguem e não há nem uma gota de realização duradoura. Levado ao ponto de cometer o suicídio, ele de novo acorda de manhã e se vê na mesma cidade, se confrontando com os mesmos acontecimentos.
Não há saída — nem mesmo a morte.
Por fim, Phil decide mudar a si mesmo, já que não consegue mudar o mundo ao seu redor.
Começa a praticar bons atos e ajuda pessoas que estão vivenciando os mesmos infortúnios a cada dia.
De repente, sente verdadeira realização.
Inspirado por esta Luz, entra num alvoroço de compartilhamento com a cidade toda, conquistando os corações de todos.
Por fim, o pesadelo acaba e ele se vê num dia novinho em folha, de braços dados com a mulher de seus sonhos.
Isso é Tikun.
É por isso que às vezes sentimos que nossa vida está presa num filme de má qualidade.
Estamos no Passo 11, então é provável que você tenha vindo praticando esses passos ao percorrê-los nos textos.
Isso é maravilhoso!
Gostaria de parar um pouco para refinar um pouco mais as ideias.
 
Com este passo, estamos afiando as sutilezas da Resistência via nosso Tikun individual. Assim sendo, vamos dar uma olhada mais de perto na questão da Resistência e como ela se relaciona com nosso Tikun individual.

Resistindo a preguiça
Você está feliz da vida deitado no sofá, fazendo absolutamente nada, quando a cena que você precisava para o conto que está escrevendo surge de repente na sua cabeça. Você fica animado, mas está tão confortável que não consegue sair do sofá. Você se convence de que se lembrará da ideia (mesmo sabendo que não conseguirá) e se aconchega nas almofadas grandes e macias.
Resista a essa preguiça!
A Resistência não necessariamente implica em parar e ficar imóvel.
Muitas vezes, significa parar o desejo de parar e mergulhar de cabeça.
Aqui, seu Tikun consiste em não ser capaz de terminar o que começou.
Resistindo ao ego
Digamos que você e um grupo de colegas do colégio acabaram de terminar uma aula de fotografia. Todo mundo está conversando, mostrando o que sabe.
Acontece que sua mãe é fotógrafa profissional e você praticamente cresceu numa câmara escura, então é óbvio que você sabe muito mais sobre o assunto do que eles.
Você sente um impulso de falar e pavonear seus conhecimentos.
Resista! É seu ego que está em ação.
Seu Tikun pode ser um sentimento de superioridade.
Não diga nem uma palavra. Reconheça a oportunidade espiritual e abra mão.
A Luz entrará e você poderá aprender algo de valor na conversa.

Resistindo ao julgamento
Você entra no banheiro do colégio e vê seus dois melhores amigos no meio de uma briga. Um deles explode. O outro tenta inseri-lo na versão dele dos fatos.
Você fica consternado!
Você está pronto para fazer julgamentos e escolher o lado que vai apoiar.
Resista! Deixe suas emoções passarem. Deixe que o outro amigo lhe conte a versão dele.
Seu Tikun provavelmente está ligado a um comportamento opiniático.
Você descobrirá que há dois lados da história.

Resistindo ao auto envolvimento
Você foi aceito em três das quatro faculdades para as quais se apresentou ao vestibular e não consegue se decidir para qual delas ir.
Você faz listas e mais listas de prós e contras.
Pede a sua mãe que lhe conte qual é a intuição dela. Depois ao seu pai. Depois a sua irmã, apesar de ela ainda estar no ensino fundamental. Você passa noites no telefone ouvindo as opiniões de seus amigos. Cada um dá um conselho diferente. Logo fica estressado e não está mais próximo de uma decisão satisfatória.
Resista ao impulso de afundar na angústia.
Saia e faça algo de bom para alguém.
Dedique um tempo ajudando os outros a resolver os problemas deles.
Ao sair do seu mundinho, as respostas aparecerão quando você menos esperar.

Resistindo aos impulsos malignos
Você acorda com uma espinha na ponta do nariz, fica enrolada com o teste de matemática e tem uma briga com seu namorado.
Tudo num dia só! Você está se sentindo deprimida e insegura.
Então uma amiga telefona e, depois de um pouco de papo furado, começa a falar mal de uma garota que vocês duas conhecem.
Você entra na dela.
Apontar os defeitos dos outros faz você se sentir menos derrotada!
Ouvir falar dos problemas dos outros lhe faz sentir melhor em relação ao seu próprio dia horroroso.
Resista ao desejo de fazer fofoca e falar mal dos outros!
Cabalisticamente, o pecado do assassinato não está limitado à morte física, mas também inclui o assassinato de personalidades.
Quando falamos mal dos amigos, estamos matando-os simbolicamente.
Acabar com a conversa ou mudar de assunto é, portanto, o equivalente a salvar a vida de alguém.
Isso revelará uma Luz enorme, que é o que realmente o ajudará a resolver os seus problemas.

Resistindo ao controle
Você vem recebendo muitos elogios por seus quadros na aula de arte, então sua mãe os mostra a uma amiga dela, que dirige uma galeria de arte famosa na cidade. Você acha que seus quadros são bem bons, então reage com entusiasmo.
Mas a amiga de sua mãe acha que seus quadros ainda precisam ser melhorados antes de estarem prontos para serem expostos ao mercado de arte.
Você leva essa crítica dura para o lado pessoal e começa a perder a confiança. Resista!
Sua reação mostra que você acha que é você a fonte verdadeira dessa arte, não a Luz. Grandes artistas sabem que eles são apenas canais. Além disso, até a crítica vem da Luz.
Abra mão do controle. Confie no processo e deixe que seu apego pessoal ao seu trabalho vá embora.

Resistindo a expectativas
Você ajudou seu amigo a fazer o dever de casa todos os dias durante duas semanas, então espera que quando precisar dele para ajudá-lo a limpar a garagem de seus pais, ele o fará. Mas ele tem outro compromisso.
Finalmente você está indo viajar no feriado com seus colegas de turma. Você espera que faça sol, mas chove.
Você começa a fumar maconha depois da aula com seus colegas descolados.
Você espera que eles fiquem mais legais com você daí em diante. Não é o que acontece.
Você perdeu 7 quilos vomitando a maior parte das suas refeições. Você espera que agora os garotos comecem a chamá-la para sair. E isso acontece, mas não são os garotos de quem você gosta.
Resista a todos os seus sentimentos de desapontamento!
Evite os sentimentos de vitimização.
Algo melhor está a caminho.
Incorpore o princípio cabalístico de pedir à Luz pelo que você precisa na vida, não pelo que quer. Mais tarde, você verá a benção oculta e o motivo espiritual para o que agora parece tão decepcionante.

Resistindo à falta de confiança
Você foi escolhido pelo professor para ser orador na apresentação de final de ano, o que exigirá falar no microfone na frente de muitas pessoas.
Sua reação natural é: "Não vou conseguir fazer isso. Não sou bom o bastante. Não quero toda essa atenção focada em mim."
Este é o ego reverso em ação, mas ainda assim é ego.
Abra mão do pensamento limitado.
Nem tudo gira em torno de você.
Há um cenário maior que inclui outras pessoas.
Concentre-se em descobrir uma forma de ajudá-las a conseguirem o que querem e se verá tendo sucesso sem fazer esforços.

Resistindo à insegurança
Você e um amigo trabalharam por longo tempo e com afinco num projeto depois da aula. A turma adorou. A professora ficou tão impressionada que perguntou ao diretor se o projeto poderia ter uma exposição especial no saguão de entrada. Agora você está relutante em compartilhar demais o crédito.
Você tenta calcular quem fez o quê, reservando-se o benefício da dúvida.
E se todo mundo pensar que seu amigo foi quem mais contribuiu para o projeto? Resista a esses pensamentos e sentimentos reativos!
Dê todo o crédito à outra pessoa.
Todo o crédito.
Abra mão por completo. Uma vozinha dentro de você pode começar a falar: "Posso resistir, mas não demais. Preciso praticar essa coisa de Cabala um passo de cada vez."
Bobagem! Resista a esses pensamentos também, e dê todo o crédito ao seu companheiro. Lembre-se de que o Oponente o testará a cada passo do caminho.
Os elogios dão prazer por um certo tempo, mas a Luz permanece eterna.
Não ponha tudo a perder por um pouco de gratificação do ego.

Resistindo à vergonha
No meio do ensaio do coral, a professora levanta as mãos fazendo o sinal para parar. Todo mundo vê, menos você. Você continua a cantar alto a plenos pulmões, sozinho, e cantar afinado não é um de seus pontos fortes.
Você fica roxo de vergonha e quer se enfiar num buraco.
Você tenta desesperadamente disfarçar seu embaraço.
Resista! Ame a humilhação. Tome-a toda para si.
Baixe suas defesas. Baixe a guarda.
Passe pelo infortúnio devagar e mergulhe na vergonha o máximo possível.
Torne-se vulnerável.
No final do dia, seu ego terá sido posto no lugar dele, o que é uma boa coisa e ninguém mais se lembrará do seu erro.
Ou talvez você consiga transformá-lo num momento em que todos acharam engraçado e curtiram. É assim que a Luz funciona.

Resistindo à necessidade de ser admirado
Você está numa festa com amigos da escola e conhece garotos de outra escola. Você é apresentado como o "esperto" do seu grupo, e por isso agora sente a pressão de responder perguntas difíceis mesmo quando não tem certeza das respostas. Você começa a inventar as respostas.
Resista!
Basta dizer: "Não sei."
Deixe ficar assim mesmo. Depois resista aos pensamentos reativos que lhe dizem que pode ser que seus amigos não gostem mais de você, não o admirem mais e não o procurem mais.

Resistindo às dúvidas
Você aplica a sabedoria da Cabala na sua vida. Você usa o princípio da Resistência numa situação de vida real, mas sem resultado.
As dúvidas invadem sua mente. Isso não funciona, você diz a si mesmo.
Resista a esses pensamentos reativos!
Isso é apenas um teste para ver se você se rendeu de verdade.
Sempre que você buscar resultados, estará errando o objetivo do exercício.
Esse é o paradoxo.
Procure resultados e eles não virão.
Desista e conseguirá tudo!
O que cada um desses cenários têm em comum é a possibilidade de se sentir oprimido.
A forma de combater isso é injetar certeza.
Mas o que isso quer dizer?
 
A maioria de vocês provavelmente está familiarizado com a história de Moisés guiando os israelitas para se libertar da escravidão.
O faraó e seu exército tinham perseguido os israelitas até as margens do Mar Vermelho, onde pareciam ter chegado ao fim. Porém, Moisés guiou seu povo até o mar e os guiou tão longe que suas vestimentas estavam encharcadas e seus narizes e ouvidos estavam cheios d'água.
Todos estavam com medo — até Moisés.
Moisés bradou a Deus por socorro, ao que Deus respondeu: "Por que estás bradando por mim?" Em resposta, Moisés e seu povo puseram de lado seus temores e continuaram. E o que aconteceu foi que, antes que se afogassem na água, as águas se abriram e se levantaram acima de suas cabeças, permitindo que eles fugissem facilmente dos egípcios que se aproximavam.
Quando o exército do Faraó correu para o mar em perseguição cerrada aos israelitas, o mar desabou e inúmeros soldados se afogaram.
De acordo com a Cabala, esta história toda é um código.
"Egito" é uma palavra em código para nossa existência material neste mundo físico de caos, ou o Âmbito do 1%.
"Faraó" é código para o ego humano e a natureza incessantemente reativa, autocentrada e intolerante da humanidade.
Qualquer aspecto de nossa natureza que nos controle é o Faraó!
Quanto à misteriosa resposta de Deus para a súplica de Moisés — Por que estás bradando por mim? —, a Cabala ensina que oculta nessa pergunta está uma verdade espiritual profunda: Deus não abriu o Mar Vermelho.
De fato, Deus estava surpreso que Moisés tivesse bradado por Ele naquele momento.
Moisés e seu povo abriram o mar.
E eles o fizeram injetando certeza.
Uma outra coisa que esses roteiros compartilham é a Tentação.
O Oponente lampeja gratificação instantânea na nossa frente cada vez que deixamos que ele o faça.
Com frequência aceitamos, porque o comportamento reativo é extremamente tentador.
Como vimos no exemplo da lâmpada em curto-circuito, a explosão de luz proporcionada pela gratificação instantânea é intensa.
A maior parte do tempo, é muito mais brilhante que a Luz consistente fornecida pela Resistência.
Se esquecermos isso por um momento sequer, podemos facilmente ser seduzidos a fazer qualquer coisa.
Drogas, álcool e sexo são todos como lâmpadas em curto-circuito.
E cada um lhe deixará no escuro no segundo em que a lâmpada queimar.
 
Um jovem, James, começou a visitar nosso Centro de Cabala há vários anos.
Era adolescente, muito bonito e popular na escola. Praticava vários esportes e era capitão do time de futebol. Tinha uma namorada legal e seus pais pareciam envolvidos em sua vida. Apesar de tudo isso, James se via como um desajustado. Achava que seu corpo tinha ficado forte demais por causa de tanto exercício físico e que a namorada só gostava dele porque seus pais eram ricos.
Todo mundo esperava que James fosse para uma boa faculdade, provavelmente obtendo uma bolsa por jogar futebol, e depois disso assumisse o próspero negócio de concessionárias de automóveis de seu pai.
Mas James não queria muito fazer nenhuma dessas coisas.
O que ele realmente queria era ser artista.
Ele não tinha certeza de que tipo de artista queria ser, porque nunca lhe tinha sido dada a oportunidade de explorar isso — mas ele gostava da ideia de se mudar para uma cidade grande depois da formatura no ensino médio, viver num apartamento com muita luz natural, frequentar cafés e bares e criar arte que fizesse com que as pessoas respeitassem seu intelecto e não apenas o seu corpo.
James tinha compartilhado seus sonhos com sua namorada, seus pais e alguns de seus melhores amigos, mas ninguém o levou a sério. Ele então continuou levando uma vida que atendesse às expectativas de outras pessoas. Mas, em resultado, suas próprias infelicidade, frustração e solidão foram aumentando cada vez mais. Ele se sentia preso numa armadilha e incompreendido, incapaz de agir de acordo com suas próprias necessidades.
Certa noite, numa festa, um garoto que James não conhecia muito bem ofereceu-lhe cocaína. James tinha fumado maconha umas duas vezes antes, mas não tinha gostado. Ele também sabia que um atleta deveria ficar longe das drogas, mas estava cansado de fazer sempre tudo certo. E estava cansado de se sentir desprezível.
Então cheirou uma carreira e depois outra. É claro que imediatamente se sentiu maravilhoso. Saiu andando pela festa conversando com todos com facilidade — até com os pintores e fotógrafos a quem sempre tinha hesitado em abordar.
Nas semanas seguintes, James cheirou mais cocaína. Começou a comprar seu próprio suprimento em vez de confiar no dos outros. Começou a perder peso, o que o deixou feliz, mas enfureceu seu treinador. Seu desempenho acadêmico decaiu um pouco, mas nada de desastroso. E sua namorada reclamou que ele estava agindo de um jeito esquisito, mas não terminou o namoro.
James gostava de tudo que se referia à droga — a facilidade com que conseguia conversar com todo tipo de gente, a coragem que sentia e a melhoria geral que sentiu em sua autoestima.
Mas as manhãs depois de uma noite de balada eram as piores.
Tudo parecia errado. Ficava afundado em arrependimento, culpa e desespero.
Com frequência tentava ficar na cama e evitar o mundo lá fora, mas seus pais o forçavam a ir para a escola.
Por fim, descobriu que se cheirasse uma ou duas carreiras no banheiro de manhã, isso ajudava a abrandar a sensação de inutilidade e ultraje. Não muito tempo depois, o treinador de futebol o expulsou do time, a namorada terminou o namoro e seu pais o deixaram de castigo, preso em casa por semanas.
James tinha criado uma situação para si que todos nós criamos de uma forma ou de outra. Tinha se tornado dependente de uma força externa — nesse caso, as drogas - para lhe trazer paz interior.
O problema é que isso não funciona.
Simplesmente não é possível.
Além disso, apesar de James acreditar que estava se protegendo da dor e do sofrimento, estava na verdade piorando seus problemas com o aumento da sensação de solidão.
Tinha cavado um terrível buraco para si mesmo.
Com certeza, as drogas dão gratificação instantânea. Elas tinham provocado um curto-circuito em sua energia e naquele momento a intensidade da Luz era diferente de tudo que tinha experimentado antes.
Mas a escuridão vinha na manhã seguinte, e isso era doloroso demais para aguentar.
Então James ficou ainda mais viciado em rápidos lampejos de Luz, esperando que, se descobrisse uma forma de enfileirar esses lampejos sem intervalos, tudo ficaria bem.
Esta é uma esperança falsa que criamos para nós mesmos.
Fico feliz em poder contar que James por fim se livrou das drogas.
A única maneira de superar o que tinha se tornado um hábito ruim foi aplicar a Resistência.
Teve que se lembrar constantemente que, apesar de existir prazer para desfrutar, esse prazer ia e vinha, e a perda decorrente de Luz era debilitante.
Ele usou as ideias apresentadas nestes textos para ajudá-lo.
Sempre que se sentia arrasado — o que era sempre -, ele injetava certeza.
Afastou todas as expectativas, de si mesmo, seus amigos e de sua família.
Forçou-se a ficar no momento presente e a vivenciá-lo por completo — todas as dores e sofrimentos, toda a incrível tristeza e culpa e medo, e todo o contentamento e animação.
Deixou que esses sentimentos complexos coexistissem, entendendo que uma coisa não invalidava a outra.
A vida é um paradoxo.
James se mantém longe das drogas há muitos anos. O interessante é que, quando parou de usar drogas, deparou com situações impensáveis. As coisas começaram a ficar muito boas para ele quase que imediatamente. Seus pais lhe proporcionaram longas férias na Europa e, quando ele voltou, conheceu uma garota maravilhosa e se apaixonou. Durante a sua recuperação, James tinha começado a fazer cerâmica e foi aceito numa boa escola de arte, não por causa de suas proezas atléticas, mas pelo mérito de seu talento artístico. Além disso, começou a trabalhar como voluntário num centro comunitário local para ajudar crianças que estavam tentando sair das drogas.
Em todos os sentidos, ele se sentia extraordinariamente sortudo e realizado.
Porém, James caiu numa nova armadilha.
Não tinha nada a ver com drogas e, nesse sentido, nada de "ruim" lhe aconteceu. Mas James ficou tão viciado em elogios quanto tinha sido em drogas.
Em ambos os casos, ficou dominado por influências externas.
Ele precisou começar a trabalhar a resistência de expectativas de novo, dessa vez de um ângulo diferente.
 
Se você quiser ver milagres de verdade em sua própria vida, tente apagar pensamentos de incerteza. Ponha seu foco em remover o Pão da Vergonha.
Pense em James. Depois que ele aproveitou a oportunidade de remover o Pão da Vergonha e deixar de ser reativo para ser proativo, James alcançou o objetivo original do Receptor — tornar-se a causa de sua própria realização.
Depois que realizou o seu feito, foi permitido que a Luz fluísse livremente.
James ficou longe das drogas e conseguiu penetrar em seu próprio desejo: a arte. Ao se pôr numa situação desconfortável, foi capaz de enfrentar um de seus Tikuns e transformá-lo. Porém, perceba que depois que a transformação ocorreu, ainda havia mais esperando por ele.
Fique atento para não ficar viciado na ideia de que uma Resistência consertará tudo. Esse processo é contínuo.
Você tem a vida toda para aperfeiçoá-lo. Mas, conforme sua capacidade para resistir for ficando mais forte, você notará mudanças ao seu redor.
Lembre-se de que injetar certeza não quer dizer que você obterá aquilo que quer. Não é uma questão de sair por aí repetindo, "Quero uma guitarra azul novinha" e ter certeza de que vai conseguir.
Injetar certeza quer dizer que você obterá o que precisa.
É como a canção dos Rolling Stones, "You can't always get what you want, but if you try sometimes, you just might find you get what you need"
[Nem sempre você conseguirá o que quer, mas se tentar às vezes, talvez consiga o que precisa]
Às vezes o que você quer é o que precisa, às vezes não.
Mas a certeza lhe permite aceitar responsabilidade por qualquer negatividade e positividade que surjam na sua vida.
Você plantou essa semente em algum ponto no passado — disso não há dúvida. Quando você supera a incerteza, cria milagres na sua vida.
 
Por: Yehuda Berg

Nenhum comentário:

Postar um comentário